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'Estamos nos sentindo abandonados', dizem brasileiros no Egito

Sem conseguir contato com a embaixada no Cairo, brasileiros ligam uns para os outros para obter informações

Grupos de manifestantes se dividiram entre favoráveis e contrários ao presidente Mubarak (Salah Malkawi/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2011 às 17h47.

São Paulo - Entre terça (1º) e quarta-feira (2) desta semana, a brasileira Sandra Felícia Fritz, que mora no Cairo há 31 anos, mal conseguiu sair do telefone. E foi justamente assim que ela atendeu, de sua casa, a reportagem de Exame.com. "Recebi mais de 100 ligações de brasileiros que estão aqui, incluindo pessoas que eu nem conheço. Todos eles desesperados, querendo informações sobre o que a embaixada poderia fazer por eles".

Segundo Sandra, os brasileiros estão desorientados porque não conseguem entrar em contato com os representantes oficiais do Brasil no Cairo. "Além disso, em uma semana de protestos, nós não recebemos nenhuma ligação da embaixada perguntando se estamos bem", acrescentou. "Estamos nos sentindo abandonados."

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Na última segunda-feira (31), o Itamaraty divulgou uma nota com números de telefones por meio dos quais os brasileiros residentes no Egito poderiam ter acesso a informações. Entretanto, os frequentes cortes no serviço de telefonia e internet promovidos pelo governo do país dificultaram o contato com a embaixada. Durante a manhã e tarde desta quarta-feira, a reportagem de Exame.com tentou falar com o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, mas não conseguiu contato.

Sem informações oficiais, muitos recorreram a Sandra. "Eu conheço poucos dos que me ligaram. Os demais, não sei nem como conseguiram meu telefone", diz. Alguns de seus conhecidos conseguiram deixar o país com o auxílio de outras embaixadas, como de Portugal, do Chile e da Itália. "Muitos dos brasileiros que estão aqui são casados ou com egípcios, ou com pessoas de outras nacionalidades. Então eles conseguem ajuda nas embaixadas dos países dos maridos ou esposas", explica.

Clima de guerra

"As pessoas estão se matando. É o prenúncio de uma guerra civil". É assim que Elaine Magossi, que mora no Egito há quatro anos, e está em Alexandria desde o segundo semestre do ano passado, descreve os últimos dias. Ela diz que, embora a situação esteja muito pior no Cairo, Alexandria sofre também, não apenas por causa dos protestos, mas também com a escassez de produtos.

A brasileira de 36 anos, que está grávida de seis meses, diz que a oferta de alimentos diminuiu nos supermercados. Além disso, há três dias a cidade está sem gasolina. Os serviços bancários foram completamente suspensos, embora haja a promessa de retorno às atividades no próximo domingo (6).

Elaine também reclamou das dificuldades em obter informações na embaixada brasileira no Cairo. "Falei poucas vezes com o vice-cônsul. Uns amigos portugueses disseram que poderíamos deixar o país com o auxílio da embaixada de Portugal. A embaixada do Chile também nos ofereceu ajuda para irmos para a Jordânia", disse. Entretanto, ela e o marido não consideram sair do Egito por enquanto.

Sucessão

As tensões durante os protestos no Cairo e em Alexandria aumentaram muito depois que o presidente Hosni Mubarak anunciou que não sairá do poder até as eleições, em setembro. Ele garantiu que não concorrerá à reeleição, mas a novidade não tranqüilizou os manifestantes. Ao contrário, a partir daí houve um racha no grupo, que se dividiu entre favoráveis e contrários à saída imediata do presidente.

Quando se fala em sucessão, Elaine diz que os egípcios com quem tem contato são favoráveis ao fim do regime comandado por Mubarak. Ela conta também que a maioria dos seus amigos, até mesmo os religiosos, não deseja que representantes da Irmandade Muçulmana, principal força de oposição no Egito, cheguem ao poder.

"As pessoas acreditam que um governo ligado à religião atrasaria o país. O povo não quer isso. Os egípcios querem liberdade, querem escolher, ter direito a uma educação decente, à alimentação", diz.

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