Mundo

Especialistas de Cambridge, Oxford e LSE dizem o que pensam do casamento real

Professores das maiores universidades britânicas avaliam como o "sim" entre William e Kate pode influenciar (ou não) a milenar monarquia britânica e seu povo

William e Kate: aliança real é centro de críticas e elogios de intelectuais birtânicos (Chris Jackson/Getty Images)

William e Kate: aliança real é centro de críticas e elogios de intelectuais birtânicos (Chris Jackson/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2011 às 22h19.

São Paulo - Casamento sempre dá o que falar. E quando se trata da união entre o príncipe herdeiro e a futura princesa da Inglaterra, o assunto ecoa mundo a fora, despertando a curiosidade e o imaginário de muita gente. Assim foi com as bodas entre Diana e Charles, em 1981. Trinta anos depois, a áurea 'dourada' de uma união real paira sobre as cabeças de William Arthur Philip Louis Windsor - o segundo na linha de sucessão ao trono - e sua escolhida, Kate Midlleton.

Mas qual o significado dessa nova aliança para a Grã-Bretanha e sua milenar monarquia? Há quem diga que trata-se da oportunidade de dar um sopro de vitalidade na imagem desgastada da Coroa Britânica. Outros defendem que a festividade é a chance para se reafirmar ou renovar a própria identidade inglesa. Há ainda os que dão de ombros - segundo uma pesquisa, quase metade dos ingleses não se importam com a troca de alianças.

Para esquentar ainda mais o debate, EXAME.com perguntou a especialistas das renomadas universidades britânicas de Cambridge, Oxford e da London School of Economics (LSE), da Universidade de Londres, o que eles pensam sobre o casamento entre o príncipe herdeiro e a plebeia, que acontece nesta sexta (29) - e qual sua real importância. Não faltaram elogios rasgados, nem críticas mordazes. Confira.

"A família real vive dias de celebridade"

─ David Held, do departamento de Ciência Política da LSE

O que ele diz: O casamento real é uma ocasião importante não apenas no Reino Unido, mas em boa parte do mundo. Por que isto? Dentre as razões está o fato de que a família real vive dias de celebridade. Além disso, muitas culturas apreciam o mito do casamento perfeito entre o príncipe e a princesa, que parece transcender a todos os conflitos e antagonismos. Ao se identificarem com estes mitos, é como se assistissem a um filme feliz. Mas a realidade é sempre mais complexa. Os britânicos não vão redescobrir sua identidade por causa de um casamento, mas podem encontrar nele uma válvula de escape temporária. Os desafios que a Grã-Bretanha enfrenta hoje só pode ser resolvido a longo prazo.

"Como republicano, o casamento real me dá calafrios"

─ Piers Brendon, professor e pesquisador de História Moderna, Cambridge

O que ele diz: Como republicano, o casamento real me dá calafrios. Penso que ele seja uma grande propaganda para a monarquia. Alé disso, ele revela que a Grã-Bretanha é um tipo arcaico de Disneilândia, com personagens magníficos no topo e indivíduos diferentes na base - indivíduos que deveriam ser cidadãos. A pompa e circunstância são obviamente instrumentos para fazer a monarquia cair nas graças do público depois dos escândalos e divórcios da geração anterior, e construir uma ponte ligando os nobres aos plebeus via Kate Middleton.


Ela parece ser uma garota normal, de classe média alta, e acho que esta estratégia deve funcionar muito bem. Certamente a "casamento-mania" vai ajudar a impulsionar os índices de popularidade da realeza no curto prazo. Mas em um horizonte mais distante, me parece que um obsoleto sistema de privilégios hereditários está fadado à transição para a democracia. Não podemos ser para sempre, nas palavras de Tom Paine, "uma manada de seres governados pela fraude, efígie e ostentação".

"É bom ter um dia de folga a mais"

─ Scott Anthony, professor de história e cultura britânica, Cambridge

O que ele diz: Minha opinião é a de que, na pior das hipóteses, para a maioria das pessoas é bom ter um dia de folga a mais [ o dia seguinte ao casamento foi declarado feriado]. Além disso, creio que continua havendo um grande afeto do público pela Família Real Britânica. Possivelmente há pessoas para as quais William é uma espécie de substituto da princesa Diana, mas ainda é muito cedo para dizer se este sentimento vai crescer, ou mesmo persistir.

"Há muito a Grã-Bretanha deixou de ser definida por sua monarquia"

─ Lawrence Goldman, historiador do St. Peter's College, Oxford

O que ele diz: A família real aprendeu com os erros do casamento de Charles e Diana, está mais cuidadosa e adotou um perfil mais 'low profile' para o casamento do príncipe herdeiro. E o povo britânico já percebeu que esta nova união vai ser diferente - porque é o casamento de duas pessoas que estão selando um compromisso maduro e adulto entre si e com a nação.
A mídia tem falado bastante sobre crise de identidade.

Nossa identidade está muito bem segura e não necessita de um casamento real para reafirmá-lo. A Grã-Bretanha há muito deixou de ser definida por sua monarquia, embora o apoio à ela permaneça elevado. Há outras coisas que nos definem muito bem, como Shakespeare, o Manchester United e as Olimpíadas de Londres, por exemplo. Da mesma forma, a monarquia não precisa ser 'salva' porque ele não está em crise. A família real foi, aos poucos, encontrando um papel no serviço público, um que papel vai continuar por décadas.


"A chave para o futuro da monarquia continua sendo a rainha"

─ Perry Gauci, historiador do Lincoln College, Oxford

Como um cidadão britânico, que ainda consegue recordar o casamento de 1981 [de Charles e Lady Di] vividamente, não acredito que o casamento de 2011 terá impacto a longo prazo. É uma ocasião feliz no momento e há uma grande dose de boa vontade para com o jovem casal (especialmente depois da terrível experiência que William viveu quando perdeu a mãe, ainda criança), mas acho que não terá qualquer impacto perceptível a longo prazo.

Acho que as pessoas estão olhando para as Olimpíadas de 2012 como o momento em que a Grã-Bretanha se define para o resto do mundo, e a realeza vai desempenhar o seu papel. Por enquanto, a chave para o futuro da monarquia continua a ser a Rainha, que ainda conta com o suporte do povo e admiração generalizada, depois de quase 60 anos na função. Sua morte - e a consequente sucessão ao trono - esta, sim, será a prova de fogo da monarquia. Por hora, todos os outros membros da realeza fariam bem em seguir seu exemplo.

"Duvido que terá mais impacto do que o casamento entre Charles e Diana"

─ Christopher Hood, professor de história do All Souls College, Oxford

O que ele diz: Duvido que o casamento terá um impacto cultural na Grã-Bretanha maior do que o casamento de 1981, entre Charles e Diana, em parte, porque uma série de casamentos reais terminou em escândalos e divórcios nas últimas décadas.

Se há um efeito momentâneo a se destacar é o de que ganharemos um dia a mais de folga, que, somado com o Dia do Trabalhador, em 1º de maio, vai dar aos ingleses um feriado prolongado, de quatro dias. Será interessante observar o efeito da "volta ao trabalho" na próxima terça-feira e como isso poderá refletir no referendo sobre o sistema de votação para o parlamento, que acontece na quinta-feira. [No dia 05/05, o Reino Unido vai às urnas para votar contra ou a favor de uma importante proposta de reforma constitucional que modifica as eleições ao parlamento].

Acompanhe tudo sobre:EuropaFamília real britânicaGovernoPaíses ricosReino Unido

Mais de Mundo

Com Itália envelhecida, projeto quer facilitar ida de imigrantes para trabalhar no país; entenda

Premiê de Bangladesh cancela viagem ao Brasil após protestos em massa

Supremo de Bangladesh anula cotas de emprego que geraram protestos com mais de 100 mortos

Coreia do Norte lança mais balões de lixo e Seul diz que tocará k-pop na fronteira como resposta

Mais na Exame