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Crise destaca papel dos mercados na política e gera polêmicas

Analistas questionam se a pressão dos mercados sobre os líderes é boa para a democracia

Analistas reclamam da pressão que o mercado exerce contra os governos (Getty Images)

Analistas reclamam da pressão que o mercado exerce contra os governos (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2011 às 15h06.

Paris - A crise da dívida na Eurozona tem colocado em destaque o papel dos mercados nas questões políticas dos países, com a insatisfação econômica se mostrando capaz de provocar a queda de vários governos.

Segundo analistas, a pressão vinda dos mercados é considerada perigosa para a democracia, mas é ao mesmo tempo legítima, tendo vista a incompetência de certos líderes políticos nessa área.

Depois da renúncia do primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, o presidente do Conselho italiano, Silvio Berlusconi, anunciou que vai renunciar em breve, sem saída com a situação financeira descontrolada e com a falta de confiança dos mercados.

Para muitos analistas, os mercados - que colocam os países sob tutela, procuram impor suas condições e desvirtuam o equilíbrio democrático - são os culpados por esta situação, a ponto de serem acusados de construírem e derrubarem governos no lugar dos eleitores.

Este questionamento sobre o jogo democrático é destacado por uma parte da imprensa italiana, que na quinta-feira afirmou que a renúncia de Silvio Berlusconi é, antes de tudo, resultado da "influência dos mercados".

Vários economistas minimizam esta influência dos investidores sobre os governos.

Governos de vários países estão desestabilizados, como Portugal e Irlanda. E, até na França, que possui um triplo A, a questão da dívida ocupa um espaço enorme no debate político.

A melhor prova de que os mercados nem sempre estão contra os países pode ser vista nos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, países que conseguem bons financiamentos a preços baixos, mesmo que por motivos diferentes.

"Podemos até dizer que o mercado dá mais poder a estes países. Quando pedem para pagar taxas tão baixas, dão uma margem de manobra significativa", disse Philippe Brossard, um economista da Macrorama.


Isto pode significar que os mercados credores não fazem mais do que apontar os países mal administrados e que correm riscos.

Contudo, "existe uma preocupação. Já não se vê claramente a legitimidade dos novos governos", explicou René Defossez, especialista da Natixis.

Alguns países são tratados de maneira pior, pois não se beneficiam da proteção europeia, o que coloca em evidência outra carência: a construção inconclusiva da Europa.

A queda dos governos se converte em "um sintoma preocupante que ilustra um dos problemas principais da Eurozona, de ser ela, uma montagem um tanto kafkiana", advertiu Defossez.

A Europa, através da realização de reuniões, ainda não convenceu os mercados de que está disposta a realizar suas ambições, através, por exemplo, de um maior federalismo para superar o déficit democrático dos países.

Dada a falta de resposta tanto em nível europeu como nacional, há o risco de pôr em perigo o funcionamento democrático.

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