Construção de academia militar israelense gera polêmica
Prédio de oito andares ocupará um hectare e meio de terreno entre o complexo da Federação Luterana Mundial (Augusta Victoria) e Universidade Mórmon
Da Redação
Publicado em 6 de novembro de 2012 às 20h10.
Jerusalém - O Monte das Oliveiras, próximo às muralhas de Jerusalém e venerado por cristãos, judeus e muçulmanos, é palco de um novo choque entre israelenses e palestinos por conta da decisão do governo de Israel de construir uma academia militar no local, algo que é rejeitado pelos aldeões árabes.
Grandes cartazes pregados em paredes anunciam, em árabe e hebraico, a aprovação do plano para construir um centro de formação do Exército, que prevê abrigar 400 estudantes militares e mais cem oficiais e professores. A população tem um prazo de 60 dias para apresentar suas reclamações.
''Este é mais um passo de Israel para tomar o controle do território palestino ocupado de Jerusalém Oriental e, sobretudo, controlar a terra que rodeia a Cidade Antiga e a bacia sagrada. O objetivo é que a parte oriental da cidade nunca se transforme na capital do Estado palestino'', afirmou à Agência Efe Ahmad Sub Laban, da ONG israelense Ir Amim.
Para Hagit Ofram, diretora de Observação de Assentamentos na ONG israelense Shalom Ajsav (Paz Agora), a ideia de construir uma academia militar não é errada, mas sua ''localização em uma das áreas mais sensíveis e disputadas de Jerusalém, é algo mais do que provocador''.
Trata-se de um prédio de oito andares que ocupará um hectare e meio de terreno entre o complexo da Federação Luterana Mundial (Augusta Victoria) e Universidade Mórmon.
Israel sustenta que o lugar faz parte do Monte Scopus, onde fica a Universidade Hebraica e local que é aceito internacionalmente como território israelense desde a criação do Estado.
Várias ONGs e a população local afirmam que o complexo será construído sobre terras palestinas ocupadas por Israel em 1967.
''A área passa entre o Monte das Oliveiras e o Monte Scopus, mais no primeiro do que no segundo, mas definitivamente está fora do enclave israelense'', explicou Batty Herschman, diretora de Relações Internacionais da ONG Ir Amim.
No entanto, o porta-voz municipal de Jerusalém, Barak Cohen, assegurou que a escola estará em território que já era de Israel em 1948 e destacou que Jerusalém ''dá as boas-vindas às instituições nacionais de braços abertos'' e que ''não há lugar mais apropriado para esta academia do que a capital do Estado judeu e coração eterno do povo judeu''.
Jatem Jweis, morador do Monte das Oliveiras e ativista, considera que ''Israel começa construindo infraestruturas, depois introduz os colonos, amplia os assentamentos e esmaga as povoações locais, que ficam sem espaço para se desenvolverem''.
Como muitos de seus moradores, Jweis diz que o plano é ''inaceitável'' e acha ''muito grave'' o fato ''de colocar mais soldados israelenses em território palestino ocupado e entre a população civil palestina''.
''É muito problemático colocar bases militares bem na porta de nosso jardim'', diz Jweis, que lembra que ''Jerusalém é especial para todas as pessoas religiosas. Não há outra Jerusalém, é única''.
Para Ofram, não se pode pensar no Monte das Oliveiras ''em termos imobiliários''.
''É importante para as três religiões monoteístas: no local há um cemitério judeu de três mil anos, onde a ressurreição dos mortos deve começar quando o Messias chegar. Para o Islã, uma ponte conectará a Esplanada das Mesquitas e o monte no final dos dias. E para os cristãos, é um lugar conectado com a vida e a morte de Cristo e onde ele passou seus últimos dias antes da crucificação'', explicou.
A ONG Ir Amim acredita que, se o projeto for realizado, levará muita violência à montanha sagrada, onde fica o jardim do Getsêmani que, segundo a tradição cristã, Jesus foi orar antes de ser entregue por Judas.
A porta-voz do Ministério da Defesa, Myriam Nahon, afirmou que a decisão de transferir academias militares para Jerusalém tem como objetivo ''situar as instituições militares fora dos centros urbanos da região de Gush Dan (ao redor de Tel Aviv), liberar áreas para a construção de milhares de casas e fortalecer as áreas de prioridade nacional''.
Myriam ressaltou que o projeto ''irá gerar centenas de postos de trabalho e que se encontra dentro do município de Jerusalém, em uma área plana há anos para edifícios públicos''. Além disso, Myriam assinalou que o local ''não fica no coração da população palestina''.