"Coletes amarelos" saem às ruas na França pelo quinto sábado consecutivo
Para hoje, a prefeitura de Paris anunciou um reforço da segurança, com 8.000 agentes adicionais e 14 veículos blindados
AFP
Publicado em 15 de dezembro de 2018 às 09h39.
Um mês após o início do movimento, os primeiros "coletes amarelos" convergiam neste sábado (15) à avenida Champs Elysees em Paris , em mais um dia de mobilização nacional, apesar das concessões e apelo à calma do presidente francês Emmanuel Macron.
No Facebook, principal canal de mobilização do movimento, os chamados à manifestação em Paris e em outras cidades francesasproliferaram nos últimos dias, atingindo milhares de pessoas.
"A última vez viemos aqui por causa dos impostos, desta vez é mais sobre instituições: queremos uma democracia mais direta", diz Jérémy, de 28 anos, que veio de Rennes (oeste) com sua família para "protestar e ser ouvido" na capital.
Pouco antes das 08h30 GMT (6h30 de Brasília), cerca de trinta pessoas foram detidas na região parisiense - 17 delas perto de Paris - muito menos que as 300 presas interpeladas no mesmo horário no último sábado, no âmbito de controles preventivos.
Em Paris, uma concentração está prevista para 14h00 (11h00 de Brasília) na praça République, no leste da cidade. Quinze organizações de esquerda convocaram seus militantes.
As autoridades temem novos episódios de violência. A manifestação do último sábado terminou com um número recorde de prisões (quase 2.000), mais de 320 feridos e danos e confrontos em várias cidades, como Paris, Bordeaux e Toulouse (sudoeste). Aproximadamente 136.000 pessoas saíram às ruas para protestar em toda a França.
Para hoje, a prefeitura de Paris anunciou um reforço da segurança, com 8.000 agentes adicionais e 14 veículos blindados. Em todo o país, 69.000 agentes foram mobilizados, contra 89.000 no sábado anterior.
"Esperamos uma mobilização um pouco menor, embora com indivíduos mais determinados", disse o secretário de Estado do Interior, Laurent Nunez.
Mais uma vez, a polícia realizava revistas principalmente nas estradas, estações e transportes públicos. Também protegia o acesso a instituições como o Palácio do Eliseu ou a Assembleia Nacional.
Na capital, os bancos cobriram suas fachadas com cercas de proteção, mas os cafés abriram neste sábado, para tentar compensar as perdas econômicas sofridas nos dois sábados anteriores.
Em Bordeaux (sudoeste) o acesso a vários parques, bibliotecas e museus foi fechado; enquanto em Avignon haverá uma marcha branca em memória de um "colete amarelo" que morreu atropelado em uma rotatória na quarta-feira à noite. Foi a sexta morte à margem das manifestações do movimento.
- "Poder desconectado" -
"Hoje, nosso país precisa de calma, precisa de ordem", declarou Emmanuel Macron em Bruxelas na sexta-feira.
"Eu dei uma resposta" aos pedidos dos "coletes amarelos", declarou o presidente depois de uma cúpula europeia. "O diálogo [...] não é feito ocupando espaço público e com violência", acrescentou.
O aumento de 100 euros por mês no salário mínimo e a anulação de um imposto sobre a aposentadoria não foram suficientes para convencer os "coletes amarelos".
Tampouco os apelos à "responsabilidade" após o ataque em Estrasburgo da última terça-feira, que deixou quatro mortos e alimentou o medo de novos atentados.
No entanto, certos membros do coletivo começam a pedir calma. Alguns "coletes amarelos" decidiram se desassociar do chamado "canal histórico", que consideram radical demais, e pediram uma "trégua" porque "chegou a hora do diálogo".
"Sábado será um dia importante para ver mais claramente o futuro deste movimento [...] se desmorona ou não", apontou o sociólogo Michel Wieviorka, professor na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Paris.
Segundo ele, é muito provável que "antes da chegada das festividades", com "o ataque de Estrasburgo" e as medidas de Macron, o "movimento evolua nos próximos dias".
"Uma parte poderia se desvincular e, a partir de então, há o risco de radicalização" de alguns elementos, acrescentou ele.