Brasil deve evitar delírios petroleiros, diz especialista
Para Eduardo Viola, um dos maiores cientistas de negociações climáticas do País, as políticas ambientais e energéticas brasileiras não podem ser orientadas pelas perspectivas econômicas do pré-sal
Vanessa Barbosa
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
São Paulo - Um pacto global sobre mudanças climáticas para redução de emissões de gases efeito estufa, como o que era esperado na última reunião da ONU, em Copenhagen, não deve acontecer tão cedo. A previsão é do professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Eduardo Viola e um dos maiores especialistas em negociações climáticas do País.
Em palestra realizada nesta quarta (4) na FAAP, em SP, Viola afirmou que a transição para uma economia mundial de baixo carbono depende, principalmente, de três países: China, Estados Unidos e União Européia (que atua como bloco nas negociações). No momento, os dois primeiros possuem uma postura conservadora em relação à adoção de medidas ambientais, embora respondam, juntos, por quase 50% das emissões globais. A União Européia, responsável por 15% das emissões, é única reformista.
Segundo o especialista, as reuniões da ONU são uma arena superficial porém visível. "Mesmo que o objetivo das Nações Unidas seja alcançar um consenso entre mais de 190 países, só haverá um acordo se essas três nações concordarem entre si, afirmou. "Não é a toa que o Protocolo de Quioto foi ineficaz, já que a apenas a União Européia participou".
Diante de mais um fracasso, nas negociações em Copenhagen, ocasionado pelo conservadorismo americano e chinês, Viola afirma que o caminho mais claro e consistente para se alcançar um novo acordo global sobre o clima deveria ser discutido nas relações bilaterais entre potências ou dentro do G20, grupo que concentra os maiores emissores de carbono do planeta e que possui mais recursos para financiar ações de mitigação às mudanças climáticas.
Em seguida, tem-se um segundo estrato de emissores relevantes, que inclui Rússia, Índia, Brasil, Japão, Indonésia e México. Depois, há um terceiro grupo, que engloba países como Coreia do Sul, África do Sul, Nigéria, Irã, Arábia Saudita, Tailândia, Egito, Turquia e Ucrânia.
Apesar de algumas resistências e dos fracasso de negociações climáticas, o especialista diz que, pouco a pouco, todos esses países caminham ou vão caminhar para a transição do baixo carbono, seja pelas mudanças climáticas extremas ("a Rússia, por exemplo, vive o pior verão dos últimos 130 anos", destaca), seja pela pressão da opinião pública, seja motivados por interesses econômicos e políticos.
A velocidade na transição, de acordo com o professor, depende de diversos fatores, entre eles, de interesses ligados às energias fósseis. "Um país que tenha no setor ligado a extração de petróleo, carvão e gás uma força política e econômica muito forte pode demorar a adotar uma economia mais verde", afirma.
Daí surge a preocupação com o processo de transição brasileiro para o baixo carbono. Na avaliação do especialista, o Brasil não deve orientar suas decisões relativas a políticas ambientais e energéticas pelas perspectivas econômicas da exploração do petróleo na camada do pré-sal. Para ele, o país deve continuar investindo no desenvolvimento de energias limpas sem se entregar a "delírios petroleiros".
"Antes da descoberta do novo poço, em 2007, o Brasil era o país do etanol, da energia limpa. Agora, queremos entrar para a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)? Isso é paradoxal", avalia. "No rumo para uma economia de baixo carbono, o país não pode deixar de investir em mecanismos de desenvolvimento limpo e em fontes alternativas de energia renovável".
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