Petróleo: em 1862, ao invés de utilizar barris, Andrew Carnegie e um sócio cavaram buraco gigante no chão para armazenamento (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 20h44.
Um século e meio antes que a fartura atual colocasse os preços do petróleo em contango, um dos maiores industrialistas dos EUA tentou lucrar com a armazenagem da commodity. E fracassou.
Em 1862, Andrew Carnegie e um sócio compraram diversos poços de petróleo na região oeste da Pensilvânia e cavaram um buraco gigante no chão para guardar o petróleo.
Naquele ano, o petróleo valia cerca de US$ 1 o barril, segundo a BP Statistical Review. Eles achavam que poderiam ganhar US$ 1 milhão quando a oferta esgotasse e os preços subissem para US$ 10.
Em vez disso, a oferta continuou aumentando, o petróleo continuou vazando e Carnegie teve que abandonar a ideia.
O negócio da armazenagem está na moda novamente no mundo atual do petróleo e o contango é o assunto do mercado.
No comércio de commodities, este é o termo usado quando o preço para pronta entrega está abaixo do valor de longo prazo.
No momento, com o contango perto do nível mais alto em quatro anos, cerca de US$ 2,15 por barril, os traders de petróleo estão aumentando o custo da locação de capacidade de tancagem e procurando até alugar navios superpetroleiros, mesmo a um custo mais elevado, para armazenar petróleo no mar.
Embora os mercados financeiros modernos permitam que os traders minimizem o risco de que a armazenagem de produtos fracasse como a de Carnegie, seu infortúnio continua sendo uma lição valiosa para qualquer um que esteja esperando por um aumento nos preços do petróleo.
“Após perder muitos milhares de barris esperando pelo dia tão aguardado (que ainda não chegou), nós abandonamos a reserva”, escreveu Carnegie (chamado de “barão ladrão” juntamente com outros industrialistas, como John D. Rockefeller, da Standard Oil, por sua perseguição implacável à riqueza) em sua autobiografia.
“Não pensamos no depósito da natureza, que continua rendendo muitos milhares de barris por dia sem exaustão aparente”.
A principal diferença entre os traders de hoje e Carnegie é que eles contam com um mercado financeiro que permite vender contratos futuros de petróleo a preços mais elevados e ao mesmo tempo comprar petróleo mais barato para colocar em tanques.
A única armadilha é garantir que o custo da armazenagem e do financiamento não elimine todos os lucros e assegurar que seja possível entregar o petróleo onde for necessário quando os contratos futuros expirarem.
Esta é uma das razões pelas quais há uma quantidade recorde de petróleo em Cushing, Oklahoma, nos EUA, ponto de entrega dos contratos futuros de West Texas Intermediate, uma referência do setor.
Na semana passada, o WTI para entrega em março era vendido por US$ 2,62 a menos por barril que aquele para entrega em abril, maior diferença registrada desde 2011.
“Os traders têm risco zero se estão armazenando petróleo em Cushing”, disse Phil Verleger, presidente da empresa de consultoria econômica PKVerleger. “Isto é simplesmente uma noção básica da economia de commodities”.
Pela primeira vez desde 1930, há mais de 500 milhões de barris de petróleo em espaços de armazenagem comerciais nos EUA. O preço do armazenamento do barril de petróleo no sul de Louisiana por um mês subiu para US$ 1,43 na semana passada.
A Glencore estava guardando petróleo em navios no litoral de Cingapura e da Malásia em pelo menos quatro superpetroleiros, disseram pessoas com conhecimento do assunto no mês passado, pedindo para não serem identificadas porque a informação é confidencial.
Embora o negócio de armazenagem de petróleo possa não ter funcionado para Carnegie, a história dele teve um final feliz.
Os poços de petróleo da Pensilvânia deram um retorno muito maior que os US$ 40.000 investidos, permitindo que ele deixasse seu emprego na ferrovia e iniciasse o caminho para se tornar um dos homens mais ricos que já viveram.
“Desde então”, escreveu ele, “eu nunca mais trabalhei em troca de um salário”.