Vale a pena comprar um carro novo neste fim de ano?
Elevação do IPI em janeiro e obrigatoriedade de airbag e ABS em carros zero quilômetro a partir de 2014 se somam à sazonalidade para baratear veículos agora
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h55.
São Paulo – Com o iminente aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) em janeiro do ano que vem, muita gente pode estar pensando em comprar um carro novo neste final de ano. Segundo especialistas, pode até ser uma boa, desde que seja possível obter um bom desconto. Mas a estratégia requer alguns cuidados.
Dezembro já é um mês em que as concessionárias costumam conceder descontos para os modelos fabricados naquele ano, ainda que sejam modelos zero quilômetro do ano que vem. A ideia é liquidar os estoques para dar espaço aos modelos fabricados no ano seguinte.
Ou seja, neste ano, um modelo 2014 fabricado em 2013 (os chamados modelos 13/14) deverá ganhar um desconto frente ao mesmo modelo 2014 já fabricado no ano que vem (os modelos 14/14).
Isso acontece porque um carro 13/14 tende a desvalorizar mais, na hora da revenda, que um carro 14/14 do mesmo modelo, por exemplo.
O último mês do ano também é uma época de descontos em modelos que vão sofrer modificações no ano seguinte, como um “facelift” – uma mudança no visual e nos equipamentos de fábrica e opcionais, o que pode ser mais ou menos radical – ou mesmo sair de linha.
Assim, essa época costuma ser boa para comprar carros zero quilômetro menos atualizados com desconto, desde que a promoção seja boa o suficiente para superar a possível desvalorização daquele veículo.
Mas segundo Paulo Garbossa, professor de Gestão Automotiva da Fundação Educacional Inaciana (FEI), normalmente não é preciso correr para fechar a compra ainda em dezembro.
“Há uma série de descontos que começam em dezembro e com quase certeza continuam em janeiro. As vendas de novembro, neste ano, foram inferiores ao esperado. As montadoras fazem promoções para desovar os estoques e atingir as metas de vendas”, diz o professor, que acrescenta que as promoções costumam ir aproximadamente até 20 de janeiro.
Desconto precisa superar depreciação
Para valer a pena, o desconto no preço de um veículo mais desatualizado deve superar a sua possível depreciação após um ano de uso, que é quando os carros costumam perder mais valor para uma revenda.
A depreciação de um veículo depende muito do modelo. Modelos mais populares e de fácil revenda costumam desvalorizar cerca de 10% ao longo de um ano, enquanto que modelos mais caros ou beberrões, como SUVs, podem depreciar cerca de 20% no período.
Para um modelo 2014, mas fabricado em 2013, por exemplo, um desconto de 10% no preço já pode ser bem interessante.
“Um percentual de 15% a 20% para um sedã ou um hatch é um bom desconto, pois dificilmente esse tipo de carro deprecia tanto assim. Um desconto de apenas 5% dificilmente vai ser vantajoso para qualquer modelo”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.
Kalume acrescenta ainda que os descontos tendem a ser maiores quanto maiores forem os estoques de modelos fabricados em 2013.
“Em janeiro e fevereiro costuma haver descontos maiores para modelos fabricados no ano anterior, porque o estoque já está menor e as montadoras querem se livrar dele”, diz.
Já se o modelo for sair de linha ou sofrer um “facelift” no ano seguinte, o desconto já deve bater os 15%, no mínimo, diz Paulo Garbossa.
Existem outras vantagens em comprar um veículo zero quilômetro que vai sair de linha no ano seguinte. Além do preço, os modelos costumam vir mais equipados, o que é ideal para quem vai comprar o primeiro carro, por exemplo, mas precisa de um modelo superior por algum motivo.
Pode ser mais difícil encontrar peças de reposição para carros que saíram de linha. Mas se o término da produção for recente, ao menos nos primeiros anos não é tão complicado.
IPI pode ter efeito limitado
O próximo mês de janeiro trará consigo duas questões que podem aumentar o preço dos veículos zero quilômetro: o aumento do IPI e a obrigatoriedade de airbag duplo e freios ABS em todos os carros novos vendidos no Brasil.
No caso do aumento do IPI, o governo já assegurou que ele será apenas parcial, mas ainda não foram divulgadas as novas alíquotas. Sabe-se apenas que não será um retorno aos percentuais originais.
Essa incerteza torna difícil estimar qual vai ser o real impacto da elevação do imposto nos preços dos carros.
Para Milad Kalume Neto, a alta do IPI deve ser pequena, dado que 2014 é um ano de eleição presidencial.
“Se o IPI aumentar muito, haverá uma perda grande de volume de vendas, demissões etc. Deve ser simplesmente um pequeno ajuste”, crê Kalume.
Ele lembra que o impacto do IPI é importante, pois se trata do último imposto da cadeia produtiva. Cada ponto percentual de aumento no IPI se traduz em cerca de 1% de aumento no preço do carro.
Atualmente, o IPI é de 2% para veículos de até mil cilindradas; 7% para veículos flex entre mil e 2 mil cilindradas; 8% para veículos a gasolina entre mil e 2 mil cilindradas; e de 2% para veículos utilitários.
Originalmente, as alíquotas eram de 7%, 11%, 13% e 8%, respectivamente.
Airbag e ABS
A obrigatoriedade de duplo airbag e freios ABS de série nos carros novos vendidos no Brasil em 2014 deve encarecer aqueles modelos que ainda vêm “pelados” da fábrica.
Segundo Milad Kalume Neto, o preço do conjunto para o consumidor final é de 1.100 reais, mas pode ser diluído com o ganho de escala da produção.
Além disso, o governo fala em reduzir o IPI sobre esses componentes, de forma a não onerar demais as montadoras. Mas ainda não há certeza quanto a isso.
Por isso, embora possa haver um aumento no preço dos carros, ainda não se sabe ao certo de quanto ele seria.
“O problema é justamente não sabermos de quanto vai ser o aumento. A estratégia mais conservadora para o consumidor é: se tiver dinheiro no bolso para comprar à vista, qualquer momento é bom para comprar, porque ele não vai se enfiar em uma dívida”, orienta Paulo Garbossa.
“Se a pessoa não tem dinheiro para comprar à vista agora, mas vai ter esse dinheiro em março, é melhor comprar o carro em março à vista com aumento de preço do que comprá-lo agora com desconto, mas financiado”, completa o professor.
Quem optar por comprar carros que não venham com esses itens de série ainda neste ano pagará mais barato, uma vez que o mesmo modelo, ainda que básico, deverá encarecer no ano que vem por conta dos itens de segurança.
Contudo, esse consumidor ficará com uma espécie de “mico” nas mãos: um carro que vai depreciar mais do que o normal, e ainda por cima, bem menos seguro. Vale pesar os prós e os contras.
*Texto atualizado às 16h38.
São Paulo – Com o iminente aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) em janeiro do ano que vem, muita gente pode estar pensando em comprar um carro novo neste final de ano. Segundo especialistas, pode até ser uma boa, desde que seja possível obter um bom desconto. Mas a estratégia requer alguns cuidados.
Dezembro já é um mês em que as concessionárias costumam conceder descontos para os modelos fabricados naquele ano, ainda que sejam modelos zero quilômetro do ano que vem. A ideia é liquidar os estoques para dar espaço aos modelos fabricados no ano seguinte.
Ou seja, neste ano, um modelo 2014 fabricado em 2013 (os chamados modelos 13/14) deverá ganhar um desconto frente ao mesmo modelo 2014 já fabricado no ano que vem (os modelos 14/14).
Isso acontece porque um carro 13/14 tende a desvalorizar mais, na hora da revenda, que um carro 14/14 do mesmo modelo, por exemplo.
O último mês do ano também é uma época de descontos em modelos que vão sofrer modificações no ano seguinte, como um “facelift” – uma mudança no visual e nos equipamentos de fábrica e opcionais, o que pode ser mais ou menos radical – ou mesmo sair de linha.
Assim, essa época costuma ser boa para comprar carros zero quilômetro menos atualizados com desconto, desde que a promoção seja boa o suficiente para superar a possível desvalorização daquele veículo.
Mas segundo Paulo Garbossa, professor de Gestão Automotiva da Fundação Educacional Inaciana (FEI), normalmente não é preciso correr para fechar a compra ainda em dezembro.
“Há uma série de descontos que começam em dezembro e com quase certeza continuam em janeiro. As vendas de novembro, neste ano, foram inferiores ao esperado. As montadoras fazem promoções para desovar os estoques e atingir as metas de vendas”, diz o professor, que acrescenta que as promoções costumam ir aproximadamente até 20 de janeiro.
Desconto precisa superar depreciação
Para valer a pena, o desconto no preço de um veículo mais desatualizado deve superar a sua possível depreciação após um ano de uso, que é quando os carros costumam perder mais valor para uma revenda.
A depreciação de um veículo depende muito do modelo. Modelos mais populares e de fácil revenda costumam desvalorizar cerca de 10% ao longo de um ano, enquanto que modelos mais caros ou beberrões, como SUVs, podem depreciar cerca de 20% no período.
Para um modelo 2014, mas fabricado em 2013, por exemplo, um desconto de 10% no preço já pode ser bem interessante.
“Um percentual de 15% a 20% para um sedã ou um hatch é um bom desconto, pois dificilmente esse tipo de carro deprecia tanto assim. Um desconto de apenas 5% dificilmente vai ser vantajoso para qualquer modelo”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.
Kalume acrescenta ainda que os descontos tendem a ser maiores quanto maiores forem os estoques de modelos fabricados em 2013.
“Em janeiro e fevereiro costuma haver descontos maiores para modelos fabricados no ano anterior, porque o estoque já está menor e as montadoras querem se livrar dele”, diz.
Já se o modelo for sair de linha ou sofrer um “facelift” no ano seguinte, o desconto já deve bater os 15%, no mínimo, diz Paulo Garbossa.
Existem outras vantagens em comprar um veículo zero quilômetro que vai sair de linha no ano seguinte. Além do preço, os modelos costumam vir mais equipados, o que é ideal para quem vai comprar o primeiro carro, por exemplo, mas precisa de um modelo superior por algum motivo.
Pode ser mais difícil encontrar peças de reposição para carros que saíram de linha. Mas se o término da produção for recente, ao menos nos primeiros anos não é tão complicado.
IPI pode ter efeito limitado
O próximo mês de janeiro trará consigo duas questões que podem aumentar o preço dos veículos zero quilômetro: o aumento do IPI e a obrigatoriedade de airbag duplo e freios ABS em todos os carros novos vendidos no Brasil.
No caso do aumento do IPI, o governo já assegurou que ele será apenas parcial, mas ainda não foram divulgadas as novas alíquotas. Sabe-se apenas que não será um retorno aos percentuais originais.
Essa incerteza torna difícil estimar qual vai ser o real impacto da elevação do imposto nos preços dos carros.
Para Milad Kalume Neto, a alta do IPI deve ser pequena, dado que 2014 é um ano de eleição presidencial.
“Se o IPI aumentar muito, haverá uma perda grande de volume de vendas, demissões etc. Deve ser simplesmente um pequeno ajuste”, crê Kalume.
Ele lembra que o impacto do IPI é importante, pois se trata do último imposto da cadeia produtiva. Cada ponto percentual de aumento no IPI se traduz em cerca de 1% de aumento no preço do carro.
Atualmente, o IPI é de 2% para veículos de até mil cilindradas; 7% para veículos flex entre mil e 2 mil cilindradas; 8% para veículos a gasolina entre mil e 2 mil cilindradas; e de 2% para veículos utilitários.
Originalmente, as alíquotas eram de 7%, 11%, 13% e 8%, respectivamente.
Airbag e ABS
A obrigatoriedade de duplo airbag e freios ABS de série nos carros novos vendidos no Brasil em 2014 deve encarecer aqueles modelos que ainda vêm “pelados” da fábrica.
Segundo Milad Kalume Neto, o preço do conjunto para o consumidor final é de 1.100 reais, mas pode ser diluído com o ganho de escala da produção.
Além disso, o governo fala em reduzir o IPI sobre esses componentes, de forma a não onerar demais as montadoras. Mas ainda não há certeza quanto a isso.
Por isso, embora possa haver um aumento no preço dos carros, ainda não se sabe ao certo de quanto ele seria.
“O problema é justamente não sabermos de quanto vai ser o aumento. A estratégia mais conservadora para o consumidor é: se tiver dinheiro no bolso para comprar à vista, qualquer momento é bom para comprar, porque ele não vai se enfiar em uma dívida”, orienta Paulo Garbossa.
“Se a pessoa não tem dinheiro para comprar à vista agora, mas vai ter esse dinheiro em março, é melhor comprar o carro em março à vista com aumento de preço do que comprá-lo agora com desconto, mas financiado”, completa o professor.
Quem optar por comprar carros que não venham com esses itens de série ainda neste ano pagará mais barato, uma vez que o mesmo modelo, ainda que básico, deverá encarecer no ano que vem por conta dos itens de segurança.
Contudo, esse consumidor ficará com uma espécie de “mico” nas mãos: um carro que vai depreciar mais do que o normal, e ainda por cima, bem menos seguro. Vale pesar os prós e os contras.
*Texto atualizado às 16h38.