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Para especialistas, Citi deve reduzir investimentos ou vender operações no Brasil

Banco nega que crise terá efeitos na operação brasileira

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O futuro do Citibank no Brasil ainda desperta dúvidas, mesmo após o acordo com o governo americano para tirar a instituição da delicada situação na qual se encontra. Especialistas estimam que a tendência é de queda nos investimentos ou de venda das operações no país, enquanto o próprio Citi afirma que a crise não afetará os negócios no Brasil.

Em comunicado interno, destinado aos executivos do banco, o Citi informa que o acordo realizado com o governo americano não impacta as operações e a gestão na América Latina. O texto destaca, ainda, que as autoridades americanas confirmam que o acordo é temporário e que nem as operações, nem o posicionamento estratégico, serão afetados.

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O vice-presidente de Recursos Humanos e Assuntos Corporativos do Citibank no Brasil, Henrique Szapiro ressalta que o Brasil é estratégico para o grupo e que todos os investimentos destinados ao país serão mantidos. Para este ano estão previstos 6 milhões de reais para serem aplicados em programas de treinamento e desenvolvimento, além do lançamento de novos cartões de crédito e débito, um novo internet banking, modernização de caixas eletrônicos, abertura de novas agências e melhorias no serviço de atendimento ao cliente (SAC).

Especialistas, entretanto, alertam que dificilmente o Citi conseguirá manter o ritmo de investimentos no país. "O foco do negócio daqui pra frente será as atividades nos Estados Unidos. A intenção do governo americano é manter o sistema operando e não liberar dinheiro para o banco aplicar em outros países", diz o professor de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Ricardo Almeida.

Enquanto forem direcionados recursos públicos à instituição, avalia Almeida, haverá uma grande pressão popular pela manutenção dos empregos nos Estados Unidos. O Citi já recebeu 45 bilhões de dólares dos cofres públicos, mas o montante não foi suficiente devolver a saúde financeira à instituição. A saída foi fechar um acordo com o governo, colocando nas mãos do Estado 36% das ações ordinárias (com direito a voto), numa transação de 25 bilhões de dólares.

"Ainda que os negócios no Brasil sejam muito lucrativos, será difícil convencer o contribuinte americano de que investir em outro país é melhor do que garantir o emprego de milhares de americanos", diz Almeida.

Com o tempo, os especialistas acreditam que a falta de investimentos tornará os serviços do Citi no Brasil inferiores aos de seus concorrentes. Maior burocracia, menor flexibilidade e agilidade nas operações, diz Alexandre Assaf Neto, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), seriam apenas alguns dos reflexos do aumento de controle do governo americano sobre o banco. O acordo determina que o conselho de administração do banco seja revisto, a fim de incorporar mais conselheiros independentes.

A possibilidade de falência ou de restrição aos correntistas no acesso ao dinheiro aplicado, entretanto, foi descartada pelos analistas. "O mercado brasileiro é muito bem regulamentado e os bancos estrangeiros também precisam respeitar as normas do Banco Central", ressalta Luis Miguel Santacreu, analista da agência de classificação de risco Austin Rating. As mesmas regras que são válidas para os bancos nacionais devem ser seguidas pelas instituições estrangeiras, sejam elas privadas ou estatais.

"A questão não está na segurança do sistema, mas na insegurança do correntista. Diante de tantas notícias ruins, é natural que o cliente tenha receio de manter seu dinheiro aplicado no banco. Crise de confiança é o primeiro passo para a decadência de um banco", ressalta Antonio Bento Furtado de Mendonça Neto, vice-presidente da consultoria Solving Brasil.

Antes que a fuga de clientes se torne uma realidade e os negócios no país percam valor, os especialistas esperam que a instituição se desfaça dos ativos no Brasil. "Chegará a hora em que o Citi terá que tirar os anéis para não perder os dedos. O banco precisa de caixa, portanto, a venda das operações lucrativas, tanto no Brasil quanto em outros países, será apenas uma questão de tempo", diz Mendonça Neto.

Fontes do governo ouvidas pelo Wall Street Journal consideram a estrutura do Citi grande demais e, por isso, "inadministrável". Esta visão poderia vir a desencadear o desmembramento do gigante financeiro, embora Szapiro garanta que esta hipótese não está em estudo. "É interesse do governo americano que o Citi produza resultados o mais rápido possível. O Brasil é um dos países que mais agrega valor para a matriz e, portanto, deve continuar recebendo investimentos", diz.

O executivo lembra que o Citi finalizou a compra da corretora Intra há cerca de um mês, após passar pela aprovação do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. "O próprio Fed entendeu que esse seria um investimento que faria sentido num país como o Brasil, que apresenta um potencial de crescimento que não existe nos Estados Unidos", diz.

O mesmo raciocínio não é válido para a Redecard. A instituição decidiu se desfazer de ao menos parte da participação que detém na empresa que processa as operações com os cartões das bandeiras Mastercard e Diners por não considerá-la estratégica. Nesta quarta-feira (25/2), a Redecard solicitou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o registro para realização de uma oferta pública secundária de ações, na qual serão ofertadas as ações pertencentes ao Citi. Questionado sobre a operação, o Citi informou que não poderia comentar o negócio devido ao período de silêncio.

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