Reestruturação da Cosan derruba ações na Bovespa
Queda de quase 4% nesta segunda-feira mostra que os investidores preferiam que a empresa fosse vendida, afirma analista
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
As ações da Cosan encerraram esta segunda-feira (25/6) com queda de 3,93% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), cotadas a 34,63 reais. Já o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, fechou em queda de 0,42%. O forte recuo ocorreu no mesmo dia em que a companhia anunciou um plano de reestruturação societária, que envolve a listagem, na Bolsa de Nova York, de uma holding criada no exterior e sediada em Bermuda, e a posterior troca das ações da Cosan brasileira pelas da nova holding. Para o mercado, o comportamento das ações, hoje, mostra que os investidores preferiam ver a companhia vendida a um grande grupo internacional, a se lançar no papel de consolidadora do setor.
Na sexta-feira, as ações dispararam 6,03%, a declarações da ADM, maior produtora de etanol dos Estados Unidos, de que poderia comprar a Cosan para entrar no mercado brasileiro. A informação, publicada pelo The Wall Street Journal, foi suficiente para fazer com que os papéis invertessem a tendência de queda dos últimos dias e fechassem cotados a 36,05 reais.
Hoje, porém, os documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Securities and Exchanges Commission (SEC - o equivalente à CVM nos Estados Unidos) reafirmam a disposição da companhia de liderar o processo de consolidação do setor no Brasil e em outros países. A Cosan Limited - holding que agora controla 51% da Cosan brasileira - pretende realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York. A operação deve captar até 2 bilhões de dólares. O dinheiro será aplicado nos projetos de expansão da companhia brasileira e na aquisição de novas usinas, de acordo com os documentos.
Parceria remota
O anúncio tornou mais remota a possibilidade de a Cosan ser vendida a algum grupo internacional e pressionou os papéis. "Isso mostra que os investidores preferiam ver a Cosan como alvo, e não como consolidador do mercado", afirma um analista que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, o movimento de queda das ações é natural no curto prazo. Isto porque o mercado tende a ver com maior cautela empresas que se posicionam como compradoras dos concorrentes. Se, no longo prazo, a estratégia pode muitas vezes ser correta e apresentar bons resultados para os acionistas, no curto prazo, sempre surgem dúvidas sobre a real capacidade de investimento da companhia. "O mercado sempre fica cauteloso. Um consolidador tem de responder a várias questões, como qual é a sua capacidade de endividamento para adquirir novas empresas; e como isso vai impactar o fluxo de caixa e os resultados, entre outros", diz o analista.
A Cosan encerrou seu quarto trimestre fiscal (período de fevereiro a abril de 2007) com um endividamento bruto de 3,015 bilhões de reais, ante 2,361 bilhões do mesmo trimestre de 2006. Cerca de 95% do montante são compromissos de longo prazo; e aproximadamente 80% da dívida total é atrelada ao dólar.
Corre no mercado que a Cosan esteja conversando com seis usinas - cinco brasileiras e uma estrangeira - sobre possíveis aquisições. O principal obstáculo para a conclusão dos negócios é o preço de venda - cerca de 90 dólares por tonelada de moagem. A Cosan estaria disposta a pagar bem menos - aproximadamente 65 dólares por tonelada. O preço médio já é menor do que o visto em aquisições recentes. Em abril, durante a apresentação de sua estratégia para os próximos anos, a Cosan informou que acordos recentes foram fechados por uma média de 99,5 dólares por tonelada de moagem. Para o cálculo, a empresa considerou operações como a compra da Vale do Rosário por seus acionistas minoritários.
Também na mesma apresentação, a Cosan afirmou que só compraria empresas se o preço médio fosse de 65 dólares por tonelada - o equivalente ao custo para a construção das três usinas projetadas para Goiás, que devem agregar mais 10 milhões de toneladas de moagem ao grupo até o final da década.