EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2011 às 17h45.
São Paulo – Os custos dos serviços bancários e a busca por comodidade muitas vezes levam os investidores a concentrarem suas aplicações financeiras no banco, aceitando as sugestões dos gerentes. Nessas horas, os CDBs parecem uma saída fácil, segura e barata para quem quer investir em renda fixa sem o trabalho de se cadastrar no Tesouro Direto ou os altos custos dos fundos de investimento.
Acontece que nem sempre a rentabilidade oferecida pelo banco é favorável ao investidor, podendo ficar muito atrás daquela oferecida pelos títulos públicos equivalentes, sejam eles pré ou pós-fixados. No caso dos CDBs pós, por exemplo, raramente um banco grande chegará a pagar 100% do CDI, enquanto que as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) facilmente beiram esse valor.
Outro fator que se deve levar em conta é o risco da aplicação. Títulos públicos são garantidos pelo governo federal, sendo o tipo de aplicação mais segura que existe para qualquer valor. CDBs, por sua vez, possuem apenas a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) num valor de até 70.000 reais por CPF em cada instituição. “Se o CDB não remunera acima do Tesouro Direto, o investidor está pagando para correr risco. Qualquer aplicação deveria pagar mais juros que o Tesouro”, diz planejador financeiro Beto Veiga.
Mesmo assim, não se deve assumir que o Tesouro Direto é sempre mais vantajoso que os CDBs. Primeiro porque não são todos os CDBs que oferecem remuneração menor que o título público equivalente. Em bancos pequenos e médios é possível investir em CDBs que pagam taxas superiores, de mais de 100% do CDI no caso dos pós-fixados. Em alguns bancos é possível investir de forma direta, pela internet, da mesma forma que no Tesouro Direto. Respeitando-se o limite de 70.000 reais por CPF, a aplicação é bastante segura.
Segundo porque, ao aplicar em CDBs, o investidor não paga taxa de administração ou custódia, ao contrário do que ocorre com o Tesouro Direto. Algumas corretoras isentam os clientes da taxa de administração – que pode variar de 0,05% a 1% ao ano – mas mesmo assim existe uma taxa de custódia obrigatória, de 0,3%, para à Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
Para saber o que é mais vantajoso – se CDBs ou títulos públicos – o investidor deve levar em conta os custos do Tesouro Direto e a real vantagem de abrir conta em outra instituição financeira. Com alguns cálculos simples, é possível comparar os CDBs prefixados com as Letras do Tesouro Nacional (LTNs), bem como os CDBs pós-fixados com as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), e descobrir quanto é necessário pedir de remuneração para o CDB para que este supere o Tesouro Direto.
As comparações nas páginas a seguir foram preparadas pelo consultor Beto Veiga, e estão disponíveis no seu e-book sobre Tesouro Direto. Esses cálculos só são válidos para aplicações superiores a um ano, e não levam em conta títulos públicos de prazos mais longos ou com outras formas de indexação, que não têm comparativos válidos.
CDB Pré X Letras do Tesouro Nacional (LTNs)
Os CDBs prefixados – mais raros que os CDBs DI – e as LTNs possuem em comum o fato de pagarem uma taxa prefixada de juros, sendo indicados quando a perspectiva é de queda da Selic ou quando é necessário saber exatamente quanto se vai receber ao final da aplicação.
Para calcular qual a taxa mínima de juro prefixado que você deve negociar com o banco para que o CDB pré supere uma LTN de prazo semelhante, Beto Veiga propõe um cálculo em que se subtrai, da remuneração do título, um fator que leva em conta o custo de se aplicar no Tesouro Direto. Isto é, Rentabilidade = taxa pré-acordada - fator.
O fator, por sua vez, é calculado somando-se a taxa de administração cobrada pela corretora com a taxa de custódia obrigatória cobrada pela CLBC. Como essa taxa incide não só sobre o montante investido como também sobre os juros, o resultado deve ser acrescido da taxa de juros pré-acordada.
Por exemplo: no dia 31 de outubro de 2011, uma LTN com vencimento em 1º de janeiro de 2013 pagava uma taxa de juro prefixada de 10,36% ao ano, diante de um cenário em que a expectativa é de queda sustentada dos juros. Mas levando-se em conta os custos de se operar no Tesouro Direto, de quanto, de fato, será essa remuneração?
No caso de uma corretora que não cobre taxa de administração, o custo mínimo de se aplicar no Tesouro Direto é de 0,3% ao ano (0% de administração + 0,3% da CBLC). A esse valor de 0,3 deve ser acrescentado o equivalente à incidência dos juros - 0,3% de 10,36% corresponde a, aproximadamente, 0,03%. Somando-se 0,3 a 0,03 tem-se um fator de 0,33.
A rentabilidade real que essa LTN pagará ao cabo de um ano, portanto, será de 10,36% menos 0,33, ou 10,03%. Em outras palavras, essa deve ser a taxa pré-acordada mínima que o investidor deve tentar negociar com o banco para que o CDB valha mais a pena que o Tesouro Direto.
A mesma conta aproximada pode ser repetida para calcular o fator para taxas de administração maiores. Para uma corretora que cobre 0,50% de administração, o fator será de 0,88. A rentabilidade cairia para 9,48%.
CDB DI X Letras Financeiras do Tesouro (LFTs)
Quem prefere se proteger das oscilações da Selic pode optar pelas aplicações pós-fixadas, que flutuam ao sabor da taxa de juros, como os CDBs DI (ou CDBs Pós) e as LFTs. Essas aplicações são voltadas para os períodos de perspectiva de alta de juros, ou simplesmente para quem quer o máximo de segurança, abrindo mão de rentabilidades maiores em caso de queda na Selic.
Ao aplicar num CDB DI, o investidor evidentemente não sabe quanto vai receber de juros ao final da aplicação. Mas a rentabilidade é determinada como um percentual do DI, que o investidor negocia com a instituição financeira. O problema é que, nos bancos grandes, os CDBs dificilmente pagam 100% do CDI, valor que só costuma ser alcançado em bancos pequenos e médios.
Como, então, descobrir o valor mínimo a ser negociado com o banco para que o CDB valha mais a pena que uma LFT? Assim como no cálculo anterior, é necessário cruzar a Selic atual com os custos de se investir no Tesouro Direto. No caso, a soma da taxa de administração da corretora e da taxa de custódia da CBLC.
Em seu e-book sobre Tesouro Direto, Beto Veiga disponibiliza uma tabela com os percentuais decorrentes desse cruzamento. A seguir, um trecho da tabela, tendo em vista as taxas de juros mais condizentes com o momento atual da economia. Na primeira coluna, estão os possíveis valores da Selic; na primeira linha, o resultado da soma da taxa de administração com a taxa de custódia da CLBC.
table.tableizer-table {border: 1px solid #CCC; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px;} .tableizer-table td {padding: 4px; margin: 3px; border: 1px solid #ccc;}
.tableizer-table th {background-color: #104E8B; color: #FFF; font-weight: bold;}
0,3% | 0,4% | 0,5% | 0,6% | 0,7% | 0,8% | 0,9% | 1,0% | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
10,00% | 96,70% | 95,60% | 94,50% | 93,40% | 92,30% | 91,20% | 90,10% | 89,00% |
10,20% | 96,76% | 95,68% | 94,60% | 93,52% | 92,44% | 91,36% | 90,28% | 89,20% |
10,40% | 96,82% | 95,75% | 94,69% | 93,63% | 92,57% | 91,51% | 90,45% | 89,38% |
10,60% | 96,87% | 95,83% | 94,78% | 93,74% | 92,70% | 91,65% | 90,61% | 89,57% |
10,80% | 96,92% | 95,90% | 94,87% | 93,84% | 92,82% | 91,79% | 90,77% | 89,74% |
11,00% | 96,97% | 95,96% | 94,95% | 93,95% | 92,94% | 91,93% | 90,92% | 89,91% |
11,20% | 97,02% | 96,03% | 95,04% | 94,04% | 93,05% | 92,06% | 91,06% | 90,07% |
11,40% | 97,07% | 96,09% | 95,11% | 94,14% | 93,16% | 92,18% | 91,21% | 90,23% |
11,60% | 97,11% | 96,15% | 95,19% | 94,23% | 93,27% | 92,30% | 91,34% | 90,38% |
11,80% | 97,16% | 96,21% | 95,26% | 94,32% | 93,37% | 92,42% | 91,47% | 90,53% |
12,00% | 97,20% | 96,27% | 95,33% | 94,40% | 93,47% | 92,53% | 91,60% | 90,67% |
12,20% | 97,24% | 96,32% | 95,40% | 94,48% | 93,56% | 92,64% | 91,72% | 90,80% |
12,40% | 97,28% | 96,37% | 95,47% | 94,56% | 93,65% | 92,75% | 91,84% | 90,94% |
12,60% | 97,32% | 96,43% | 95,53% | 94,64% | 93,74% | 92,85% | 91,96% | 91,06% |
Com a Selic atual de 11,50% ao ano, um CDB só vale mais a pena que uma LFT se pagar mais de 97% do CDI, conforme a tabela. Este é o percentual da taxa de juros que o investidor receberia pagando a menor taxa possível para operar o Tesouro Direto. Aliás, para o intervalo de juros entre 10,00% e 12,50% ao ano, o investidor que pagasse a menor taxa receberia, de qualquer forma, de 96% a 97% do CDI.
Por outro, lado, se a taxa praticada pela corretora para operar o Tesouro Direto for muito alta, o CDB será bem mais vantajoso. Para uma taxa de 0,7% - além do custo obrigatório de 0,3% - 90% do CDI será o piso. Um CDB com essa rentabilidade terá mais vantagem, pois além de tudo é mais cômodo e não incorre em custo com transferência de recursos para a corretora.
Dados os altos percentuais do CDI pagos pelos títulos públicos pós-fixados, conseguir um CDB mais vantajoso no seu banco não será tarefa fácil. O investidor teria então, duas opções: investir no Tesouro Direto – e para isso valeria procurar a corretora mais barata possível – ou investir diretamente em CDBs de bancos menores, via internet.
Balança
É claro que o investidor também deve levar em conta se vale a pena abrir uma conta em outra instituição financeira, seja para aplicar no Tesouro Direto em uma corretora mais em conta, seja para investir em CDBs de bancos menores. Isso porque, além da burocracia, haverá os custos com a transferência de valores via TED ou DOC.
Assim, se após a comparação o investidor constatar que o CDB paga uma remuneração semelhante, ainda que um pouco abaixo do título público equivalente na corretora mais barata, então talvez seja melhor mesmo ficar no CDB, ou abrir uma conta em um banco menor em busca de um CDB mais rentável.