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Por que eles não querem as seguradoras

Para evitar riscos, cada vez mais bancos no Brasil e no mundo desistem dos negócios próprios com seguros

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Nos últimos tempos, o setor financeiro tem assistido à reversão de um movimento que teve seu apogeu no final da década de 90, com a fusão mundial entre o Citigroup e a seguradora americana Travelers. Na ocasião, a simbiose entre bancos e companhias de seguro parecia fazer todo o sentido. Ambos os setores garantiam bons retornos, e os seguros poderiam ser facilmente vendidos nas agências bancárias. Essa percepção, entretanto, mudou. Com uma velocidade cada vez maior, bancos do mundo todo -- inclusive no Brasil -- estão se desfazendo de seus braços na área de seguros. O último lance foi a venda dos negócios de seguros de vida e previdência privada da Nossa Caixa, banco estatal paulista, à seguradora espanhola Mapfre, por 90 milhões de dólares. A venda foi suspensa por uma liminar no dia 30 de maio, mas o banco promete recorrer. Há cinco meses, o Citi vendeu os negócios de seguros da Travelers à também americana MetLife por 11,5 bilhões de dólares. No Brasil, ABN Amro Real, BankBoston, Deutsche Bank, Unibanco e Santander seguiram o mesmo caminho.

O que mudou, afinal? Basicamente, essa é uma questão de quanto é possível ganhar versus o risco que se corre com o negócio. Um levantamento da consultoria Roland Berger mostra que, em 2001, a rentabilidade patrimonial média real das seguradoras no Brasil foi de 17%. A dos grandes bancos foi bem menor, 10%. "Os bancos achavam que haveria uma grande sinergia entre sua atividade e a de seguros, já que seria possível vender apólices nas agências", diz Paulo Gruppo, diretor-geral da Roland Berger. "Mas, depois de algum tempo, eles notaram que seria melhor apenas vender os produtos criados e geridos por seguradoras independentes." Com o tempo, ficou claro que a imaginada simbiose não seria tão compensadora. Por um lado, a competitividade e a regulamentação no setor de seguros vêm aumentando. Por outro, as apólices vêm se tornando cada vez mais complexas, o que exige uma grande especialização na análise de risco. Nos últimos anos, a rentabilidade dos bancos brasileiros também deu um salto. Em 2004, segundo a Roland Berger, a rentabilidade bancária no Brasil foi de 20%, e a das seguradoras ficou em 19%. O saldo dessa conta: na área de seguros, os riscos aumentaram muito mais que o retorno. Um banco pode emprestar mal e perder dinheiro, mas os prejuízos são limitados ao total emprestado. Uma seguradora pode ter de cobrir os custos de uma enorme catástrofe, que consumirá o ganho de vários anos de trabalho. "Uma avaliação de risco malfeita pode provocar um prejuízo enorme e imprevisível", diz Rubens Sardenberg, diretor financeiro da Nossa Caixa. Fábio Barbosa, presidente do ABN, concorda: "É o tipo de indústria que exige especialização. É difícil acompanhar as evoluções do mercado e oferecer bons produtos sem ser do ramo". Por isso, o ABN vendeu sua única seguradora em todo o mundo neste ano, algo que tentava fazer desde 2002. Há pouco mais de um mês, os holandeses convenceram os japoneses da Tokio Marine a desembolsar 370 milhões de dólares para ter acesso aos clientes do banco e à sua rede de distribuição.

O negócio é vender
Diversos bancos transferiram o controle ou as operações de
suas empresas de seguros
Banco
Novo dono
ABN Amro Real
Tokio Marine
Citigroup
MetLife
Nossa Caixa
Mapfre
Santander
Várias empresas(1)
Unibanco
AIG
(1) O Santander fechou acordos de distribuição de produtos
com diversas seguradoras
Fonte: bancos

As transações não significam que o cliente de banco vai deixar de ouvir as insistentes propostas do gerente para comprar seguros. Ao contrário. Os bancos seguirão vendendo apólices de outras seguradoras e ganhando comissões com essas vendas. É o que já fazem BankBoston, Santander e Unibanco. É também o que Citi, Nossa Caixa e Real vão passar a fazer. "Nosso maior ativo é nossa rede de agências", diz Sardenberg. "É a melhor forma de uma seguradora ter acesso a um grande número de clientes cativos." Cientes disso, Mapfre e Tokio Marine pagaram pelo direito de comercializar seus produtos com exclusividade nas agências dos bancos por um período determinado.

A vantagem para as seguradoras é clara. "Atuamos de forma independente e precisávamos de um canal de distribuição", diz Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre. Os bancos não informam quanto esperam faturar com a nova estratégia. A expectativa é de crescimento nos lucros. "Vamos ganhar mais dinheiro operando dessa maneira", afirma Carlos Eduardo Monteiro, presidente da Nossa Caixa.

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