Perdigão terá dificuldades para recuperar margens em 2008, dizem analistas
Corretoras vêem chance de a empresa não conseguir repassar integralmente o aumento dos custos para os clientes
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Os números da Perdigão referentes ao segundo trimestre mostram que a empresa já enfrenta dificuldades para repassar os aumentos de custo para o mercado. Algumas corretoras já acreditam que a Perdigão não conseguirá elevar os preços no mesmo ritmo das matérias-primas, e termine o ano com margens inferiores às de 2007. Entre abril e junho, a margem de ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de 8,2%, inferior aos 10,6% registrados no mesmo trimestre do ano passado. Em relação ao primeiro trimestre de 2008, porém, houve um incremento de 0,6 ponto percentual. Os resultados desagradaram os investidores, e os papéis da Perdigão são os que apresentam maior queda entre os que compõem o Ibovespa nesta terça-feira (29/7).
Segundo os analistas, o principal motivo para a queda da margem é o aumento das matérias-primas. O Unibanco, por exemplo, estima que as altas acumuladas pelo milho, soja e leite, desde o segundo trimestre de 2007, são de 34%, 44% e 14%, respectivamente. O banco calcula que os preços médios dos alimentos à base de proteína, como frangos, carnes e leites, foram reajustados em 9,6% no mercado doméstico no período, contra um incremento de 18,7% nos custos. Já os preços dos produtos exportados subiram 11,3%, em reais, ante uma alta de 19,8% no custo dos insumos.
O movimento mostra que, nos últimos meses, a Perdigão perdeu a corrida para a inflação das matérias-primas. Embora a queda das margens já fosse prevista por muitos analistas, as corretoras começam a prever dificuldades para a empresa repassar custos nos próximos trimestres. "O aumento dos preços da carne, em julho, deixa-nos mais preocupados quanto à capacidade das empresas do setor de repassar os custos e recuperar as margens", afirma relatório do Itaú. A corretora do banco está revisando suas projeções para 2008, a fim de incorporar as baixas margens de ebitda apresentadas pelas companhias do setor.
Diante disso, a Brascan já espera que a Perdigão reduza sua estimativa de margem de ebitda para este ano. "Acreditamos que a empresa voltará a revisar para baixo seu guidance de margem de ebitda de 11% para 2008, o que deverá impactar negativamente as ações", afirma a corretora, em relatório. A empresa encerrou 2007 com margem de ebitda de 12,6%.
Um possível alívio para a empresa pode ser a recente queda das commodities no mercado mundial. As cotações da soja e do milho, por exemplo, registram quedas nos últimos dez dias, embora ainda seja prematuro concluir que esta seja uma nova tendência.
Ajuda no longo prazo
A diversificação do portfólio de produtos, com a entrada no segmento de lácteos por meio da compra da Eleva e da Batávia, entre outras, é bem vista pelo mercado. Contudo, os ganhos de sinergia e de escala, que poderão contribuir para recuperar em parte as margens de lucro, só devem ser plenamente incorporados em 2009, de acordo com o Itaú.
O mercado parece não ter gostado dos números trimestrais divulgados após o fechamento do mercado, nesta segunda. As ações ordinárias da Perdigão ( PRGA3 ) são as que apresentam maior queda entre as que compõem o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, nesta terça-feira. Por volta das 13h10, os papéis recuavam 3,22%, cotados a 40,22 reais. No mesmo instante, o Ibovespa subia 0,86%, a 57.356 pontos.
As corretoras continuam recomendando a compra dos papéis. O Itaú estima um preço-alvo de 58 reais para as ações para dezembro de 2008. O Unibanco estima preço-alvo de 58,90 reais, e a Prosper, de 58,1 reais.