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Onze empresas anunciam programa de recompra das próprias ações

Preferência dos investidores por ações de grandes empresas desde o agravamento da crise hipotecária nos EUA leva pequenas e médias a apostar nos próprios papéis

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Se é verdade que o ano de 2007 marcou a Bovespa pelo número recorde de empresas que decidiram abrir o capital (foram 66 ofertas iniciais de ações), também é cada vez mais expressivo o número de companhias que optam por recomprar os próprios papéis que circulam no mercado. Segundo levantamento da Bovespa e do Portal EXAME, apenas neste mês anunciaram que recomprarão parte de suas ações 11 empresas: Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário, CSN, Datasul, Embraer, Energias do Brasil, JBS-Friboi, Localiza, Metisa, Providência, Triunfo e Unipar. O número é bastante representantivo quando comparado, por exemplo, aos 11 meses anteriores, quando 26 companhias aprovaram programas de aquisição dos próprios papéis.

Segundo analistas ouvidos pelo Portal EXAME, ao anunciar a recompra dos próprios papéis essas empresas estão sinalizando ao mercado que acreditam que o preço de suas ações não reflete com justiça seus balanços e fundamentos econômicos. A empresa compra seus papéis na expectativa de lucrar quando os investidores perceberem seu valor no futuro.

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Com exceção da siderúrgica CSN, que tem o melhor desempenho do Ibovespa neste ano, essa explicação vale para as outras dez empresas que anunciaram recompras neste mês. Todas apresentaram desempenhos negativos ou inferiores ao Ibovespa neste ano. Nos próprios fatos relevantes em que anunciaram a recompra, empresas como a Datasul e a Localiza questionaram o valor dado pelos investidores a seus papéis.

A vida começou a ficar difícil para essas companhias durante a crise das hipotecas nos Estados Unidos, deflagrada em julho. Passado o susto, os investidores voltaram a apostar na Bovespa, mas principalmente nas chamadas "blue chips". Algumas das maiores empresas da bolsa, como Vale, Petrobras e CSN, tiveram fortes valorizações desde então, enquanto a maioria das pequenas nunca conseguiram recuperar as perdas da turbulência. Alguns dos casos emblemáticos são do frigorífico JBS-Friboi e da fabricante de não-tecidos Providência, que registram perdas de mais de 30% desde as ofertas iniciais de suas ações.

O estrategista da Unibanco Corretora, Vladimir Pinto, explica o movimento de alta das grandes com a liquidez oferecida pelos papéis. "Se a crise se agravar nos Estados Unidos, o investidor estrangeiro pode desmontar uma posição de dezenas de milhões de reais em papéis da Petrobras ou da Vale rapidamente. Mas, com um papel de uma empresa pequena, o investidor terá de aceitar um grande desconto para se desfazer do ativo." Ele afirma ainda que programas de recompra tendem a reduzir perdas em situação de estresse, uma vez que a própria companhia será a primeira a garantir a demanda pelo papel sempre que os preços estiverem atraentes.

O mercado reagiu muito bem quando empresas como a Localiza e a Energias do Brasil, por exemplo, anunciaram seus programas de recompra. Nem sempre, entretanto, esse tipo de medida é suficiente para garantir a valorização imediata dos papéis. Segundo Tomás Awad, estrategista da Corretora Itaú, a recompra tende a ajudar no preço das ações, mas no longo prazo também pode diminuir a quantidade de papéis em circulação no mercado, o que pode ter efeitos negativos sobre a liquidez. "E ninguém espera que essas empresas, que recentemente fizeram ofertas de ações e levantaram recursos para investir, agora gastem todo o caixa com a recompra dos próprios papéis. Isso não faria muito sentido", afirma.

Vladimir Pinto, do Unibanco, diz que essa tendência de recompra de ações pode continuar a ser observada em 2008 desde que as empresas continuem altamente capitalizadas como estão atualmente e que o preço das ações de empresas pequenas permaneça baixo. Ele acredita, entretanto, que se o consumo das famílias evitar uma recessão grave nos Estados Unidos - como espera o mercado - e caso as dúvidas sobre o sistema financeiro americano se dissipem, os investidores deverão gradativamente voltar a apostar nas "small caps", o que reduziria os benefícios das empresas com a recompra.

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