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No exterior, até casa de strip-tease já chegou à Bolsa

Apesar de rápido crescimento, Bovespa não deve atingir padrão internacional de "diversidade" de empresas listadas

Knut, o urso polar que fez dispararem as ações de um zoológico alemão (--- [])
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Apesar das quebras de recordes na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da enxurrada de ofertas iniciais de ações neste semestre, é improvável que o mercado atinja níveis de maturidade de mercados estrangeiros, onde há maior fartura de liquidez e até times de futebol, zoológicos e bordéis atraem investidores. Na Bolsa australiana, por exemplo, os investidores puderam se tornar acionistas de um famoso bordel do país, o Daily Planet, em 2003. Quem apostou no ramo, no entanto, não teve muita sorte. A atividade, apesar de legalizada na Austrália, não é vista com bons olhos. Os donos do bordel chegaram a colocá-lo à venda em 2004, mas, sem sucesso, acabaram arrendando os serviços. A companhia foi rebatizada como Planet Platinum e passou a apostar em um novo segmento - ainda que não tão diferente do original: uma casa de shows de strip-tease, que deverá até ganhar franquias. Apesar de as apresentações noturnas proporcionarem uma receita de quase 6 milhões de dólares australianos (5 milhões de dólares americanos) no último ano fiscal, os papéis da empresa, que eram negociados em 2003 a quase 1 dólar australiano, hoje valem 12 centavos.

Já o antigo Zoológico de Berlim ganhou os jornais de todo o mundo em abril - e uma valorização de mais de 100%, em seu pico - por causa de um urso polar. O drama do animalzinho abandonado pela mãe ao nascer e adotado por um criador do zoológico conquistou os alemães. Milhares se amontoaram em filas para ver o filhote Knut na Páscoa, o que abriu os olhos de quem estava preocupado com os negócios. "A demanda é enorme, as pessoas estão pedindo copos e chaveiros com o Knut", chegou a declarar uma vendedora de souvenirs à imprensa local. Os administradores do zoológico também refizeram suas contas, e divulgaram previsões de que o fenômeno Knut geraria uma receita extra de 6 milhões de euros (8 milhões de dólares) no ano. As oscilações do mercado, no entanto, talvez causem surpresa a quem já conta com o dinheiro a mais. Knut, agora com seis meses de idade, está mostrando sinais da fera que vai se tornar por meio de ataques a seu fiel criador. Nada muito grave, segundo o zoológico - mas o fato é que as ações da empresa estão pouco a pouco voltando ao patamar normal de preço, 2 euros.

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Enquanto a fama fugaz de Knut enche o bolso de especuladores na Alemanha, nos Estados Unidos os investidores apostam em uma atividade muito mais perene (e sóbria). Negociada na Nasdaq desde 2004, a StoneMor Partners, dona de quase 200 cemitérios em todo o país, levantou 75,3 milhões de dólares em sua abertura de capital, conduzida pelos bancos de investimento Lehman Brothers, Merril Lynch e UBS. Com o lema de "relembrar cada vida com dignidade", seus serviços funerários estão rendendo 115 milhões de dólares por ano, 14% mais do que em 2005. Uma política de aquisições - foram 23 cemitérios e 14 funerais em 2006 - tem mantido a StoneMor com um desempenho tão sólido na Bolsa quanto os caixões que a empresa vende (e que ajudaram no lucro operacional de 12 milhões de dólares no ano passado). Em quase um ano, suas ações subiram de cerca de 19 para 25 dólares, com pico de 29 dólares.

No Brasil, entretanto, especialistas acreditam que a onda de IPOS não será tão grande. Ricardo Pinto Nogueira, superintendente de operações da Bovespa, aposta que os investidores colocarão um freio na popularização da Bolsa entre as empresas, mas acha que haverá espaço para que companhias de setores hoje pouco populares entre os bancos de investimento conquistem espaço no pregão. "Assim como o setor imobiliário está agora procurando recursos, outros segmentos podem se expandir e buscar a Bolsa", diz.

Já a abertura de capital de uma empresa como a casa de strip-tease e ex-bordel Planet Platinum é tida como "impossível" por Lélio Lauretti, conselheiro da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e presidente do comitê de ética do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). Aqui, a prostituição não é legalizada e os investidores não gostariam de se ligar a uma casa de shows adultos. "O mercado nunca aceitaria", diz. Mas na opinião de Lauretti, a rejeição de investidores não ocorreria apenas em casos extremos. Dentro de pouco tempo, afirma, empresas de bebida e fumo entrarão em um processo de abandono pelos investidores. "Vamos começar a ver uma ênfase muito grande em critérios de ética e sustentabilidade". Ou seja, companhias como Ambev ou Souza Cruz, hoje negociadas na Bovespa, passariam a ser "socialmente pouco aceitas".

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