Falência da Refco mostra como investidores estão mais ariscos
Descoberta de dívidas não contabilizadas levou a maior corretora de valores do mundo à ruína em apenas dois meses
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Bastaram apenas dois meses para que a americana Refco, a maior corretora de valores independente do mundo, perdesse as bênçãos de Wall Street e decretasse falência. A rapidez do processo mostra como a sucessão de escândalos corporativos tornou os investidores mais ariscos, o que reforça a necessidade de as empresas manterem uma boa reputação junto ao mercado, segundo o jornal britânico Financial Times.
A crise de credibilidade começou quando a Refco anunciou que seu presidente, Phillip Bennett, havia omitido por vários anos dívidas não contabilizadas de 430 milhões de dólares. A quantia referia-se a recebíveis que Bennett havia comprado, durante os anos 90, de clientes em dificuldades financeiras. Pelas normas contábeis, esses contratos deveriam ser apresentados nos balanços da corretora como operações com partes relacionadas. Como isto não ocorreu, a Grant Thornton, auditoria que fiscaliza a contabilidade da corretora, pressionou a empresa a divulgar a irregularidade e explicar que isto anulava a veracidade das últimas quatro demonstrações financeiras.
A notícia causou uma fuga de investidores das carteiras da Refco, mas a corretora mostrou não ter recursos para cobrir todas as retiradas. Estima-se que as perdas dos clientes alcancem 3 bilhões de dólares.
De acordo com o FT, esse episódio mostra também como muitas empresas realizaram operações no mercado de capitais sem que estivessem preparadas para tanto, apenas para aproveitar o bom fluxo de recursos internacionais durante os anos 90. Os recebíveis não contabilizados da Refco referem-se a operações com companhias que passaram por essa situação e enfrentaram grandes dificuldades após a crise asiática em 1997 e a moratória russa no ano seguinte.
Em reuniões com seus advogados, Bennett afirmou que adquiriu os recebíveis por acreditar que os papéis "tinham algum valor". Mas isso não se mostrou verdadeiro. Um exemplo foi a falência, no final dos anos 90, do hedge fund administrado por Victor Niederhoffer. Na ocasião, Niederhoffer afirmou que suas operações causaram "perdas substanciais" para a Refco o que a corretora negou.