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Merrill Lynch lista 7 riscos para as bolsas

Fatores como uma bolha na China, a disparada do petróleo ou uma onda de protecionismo podem prejudicar os investidores em 2010

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Nos últimos 18 meses os investidores experimentaram uma das fases de maior volatilidade nas bolsas desde os anos 1990. Esta realidade e os prejuízos dela decorrentes levantaram uma série de questões, mas sem dúvida a principal delas é como monitorar, de agora em diante, a probabilidade de certos cenários de risco ocorrerem - e se proteger antes que eventuais turbulências gerem perdas nos mercados.

As opiniões dos analistas e do mercado quanto ao futuro divergem entre os que acreditam na formação de uma nova bolha em diversos países, dentre eles a China, e aqueles que apostam na iminente deterioração dos preços de ativos levando à desestruturação do mercado de ações. Economistas, empresários e investidores voltam os olhos para a Ásia, a Europa e os Estados Unidos, atentos aos movimentos destas economias e seus reflexos nos mercados globais, e tentam prever cenários para 2010.

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O banco de investimentos norte-americano BofA Merrill Lynch listou sete conjunturas que, apesar de terem baixa probabilidade de ocorrer, podem impactar significativamente o portfólio dos investidores no próximo ano. Os analistas também identificaram os sinais que indicariam a concretização destes cenários e incluíram as melhores opções de investimentos para cada um dos casos estimados.

1 - Petróleo a 100 dólares por barril e aumento da inflação
O cenário para este caso inclui um aumento do índice americano de preços ao consumidor de -1% para 4% no fim de 2010, resultado de uma combinação de expansão monetária, novos declínios do dólar e um forte crescimento na Ásia. Esta conjuntura pode pressionar o preço do barril de petróleo para patamares próximos dos 100 dólares. O salto na inflação complicaria o financiamento do déficit orçamentário dos Estados Unidos.

Os principais indicadores apontados pelo Merrill Lynch para observar o surgimento de tal cenário seriam o aumento da expectativa da inflação para os próximos cinco anos nos Estados Unidos, passando de 1,5% para 2,5%, acompanhado de um aumento no preço do ouro, chegando a 1.250 dólares a onça (aproximadamente 28 gramas).

Para se proteger desse cenário o banco recomenda que os investidores recorram aos títulos públicos indexados à inflação e às aplicações em ouro, commodities e moedas. O banco também recomenda a baixa exposição a setores sensíveis à oscilação da taxa de juros, como o de consumo, e a maior exposição a ações com boa remuneração por dividendos. Pelo menos no início deste hipotético período de inflação, as commodities teriam uma performance superior aos títulos.

2 - Um forte declínio do crescimento
Outro risco para o mercado seria haver, nos próximos quatro trimestres, o retorno da retração do Produto Interno Bruto (PIB) nos Estados Unidos, Reino Unido e Europa. Para os analistas da Merrill Lynch, esta realidade seria ocasionada por erros na condução da política nestes países. Um dos exemplos é a possibilidade de que as autoridades promovam uma rápida retirada das políticas de estímulo - sem que as economias esteja saudáveis o suficiente.

O cenário inclui ainda a possibilidade de declínio dos empréstimos bancários para pequenas e médias empresas, provavelmente devido a um futuro excesso de regulação financeira. A queda das taxas de juros dos títulos americanso seria um sinal de que os bancos estão mais dispostos a aplicar o dinheiro do que a ampliar a carteira de crédito.

Neste caso, as melhores opções dos investidores seriam o dólar e os títulos americanos. É esperado, neste cenário, que os títulos superem as ações em rendimento. Considerando o mercado acionário, os papéis de setores mais defensivos, como energia e bancos, ofereceriam maior rendimento que os de setores cíclicos, como tecnologia e commodities.

3 - Uma bolha nos preços dos ativos na China
O terceiro risco que os analistas do Merrill Lynch enxergam é o de que os preços dos ativos na China aumentem demais. Este cenário seria agravado pela relutância da China em reavaliar sua taxa de câmbio e com o aumento da especulação no mercado imobiliário na China.

Sinais de que a bolha poderia ser real seriam a valorização da bolsa de Xangai para um patamar acima de 4.000 pontos e a apreciação do dólar australiano.

Caso a bolha se confirme, os investidores poderiam recorrer aos mercados de ações dos países do BRIC, às moedas asiáticas e às commodities. Segundo os analistas, o mercado de opções na China e na Coréia também poderia beneficiar os investidores à procura de lucros com a bolha na China (Continua).


4 - Protecionismo e crise do dólar
Este cenário projetado pelos analistas do Merrill Lynch assume tom catastrófico. O nível de desemprego nos Estados Unidos chegaria a níveis próximos daqueles observados logo após o fim da Segunda Guerra, acompanhado pela valorização do euro frente à moeda chinesa. Os analistas preveem ainda o pânico de autoridades nos Estados Unidos e na Europa, o que os levaria a ameaçar impor sanções econômicas à China.

Com isso, a dificuldade nas relações entre os países tenderia a aumentar, principalmente se a China, em retaliação, decidisse interromper o financiamento do déficit norte-americano. O efeito final seria a desvalorização do dólar para um nível inédito, levando a uma aguda queda nos mercados de títulos e ações.

Uma sequência de acontecimentos de tais proporções poderia ser antecipada caso o índice de desemprego nos Estados Unidos ultrapasse 10,8%. Outro sinal da catástrofe seria a virada na correlação entre o dólar e os mercados de capitais americanos, ou seja, um dólar fraco se transformando de algo positivo para algo negativo para o mercado. Um último indicador seria o preço do ouro ultrapassar 1.500 dólares por onça.

Se há alguma segurança neste cenário, segundo os analistas, ela está em investimentos em moedas e ouro. A venda inicialmente acentuada de títulos do tesouro norte-americano seria uma boa oportunidade de compra. Uma boa ideia seria fugir de mercados de ações mais cíclicos, como o americano (Nasdaq) e o japonês (Nikkei), que seriam "devastados".

5 - A moratória da dívida do Japão
O quinto risco listado pelo Merrill Lynch envolve uma terrível "situação fiscal no Japão", a qual seria desencadeada pelo aumento da emissão de títulos por parte do novo governo do país, para financiar novas e ambiciosas despesas políticas. Neste caso, o Banco do Japão seria forçado a provocar inflação.

Caso a bolsa japonesa e o iene comecem a despencar, o movimento pode ser encarado como um sinal de que a moratória (e os demais eventos) podem de fato acontecer. Títulos indexados à inflação seriam a melhor opção para os investidores neste cenário, segundo os analistas.

6 - A recuperação dos setores de habitação e consumo nos EUA
Contrariando as expectativas, a combinação de juros baixos e o "efeito riqueza" decorrente da forte recuperação do crédito e do mercado de capitais poderiam estimular a retomada do endividamento das famílias, encorajando os bancos a voltarem a conceder empréstimos. Seguindo os passos do Reino Unido e da Austrália, o preço dos imóveis nos Estados Unidos aumentaria em uma faixa de 5% a 10% e os gastos dos consumidores também cresceriam.

Bons monitores para acompanhar a progressão deste cenário previsto pelo Merrill Lynch são o Índice de preços Case-Shiller de preços de imóveis e o índice de preços da construção civil, ambos da Standard & Poor's.

Títulos de alto rendimento, ações do setor financeiro e de pequenas empresas dos Estados Unidos, além dos papéis de companhias dos setores de tecnologia e consumo, são boas opções de investimento nesta conjuntura. É esperado que as ações tenham rendimentos bem superiores aos títulos de renda fixa.

7 - "Sem surpresas"
O último cenário que o Merrill Lynch considera é aquele em que tanto os que apostam em uma bolha de preços dos ativos quanto os que esperam uma violenta depreciação são desapontados por uma "prosaica situação de pouca volatilidade em 2010". Neste caso, seria esperada uma modesta recuperação econômica, acompanhada de hábeis manobras políticas dos governantes para normalizar a situação econômica sem danificar os mercados.

A probabilidade de tais eventos acontecerem deve ser maior caso o Índice VIX, usado para medir a volatilidade do índice Standard & Poors 500, fique abaixo dos 20 pontos durante 2010. Considerando este período de baixa volatilidade sustentada, os analistas afirmam que seria favorável para o investidor recorrer ao mercado de ações.

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