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As melhores e as piores ações do Ibovespa em 2009

A mineradora MMX e as empresas ligadas ao setor de construção foram os grandes destaques enquanto duas teles amargaram os piores resultados

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

O ano de 2009 vai ser lembrado pelo mercado como uma fase de surpreendente recuperação. Tornou-se comum dizer que o Brasil virou “a bola da vez” ou ouvir comentários de que os efeitos da turbulência global foram bem mais amenos no país do que no restante do mundo. Uma olhada no comportamento do índice das ações mais negociadas na bolsa brasileira, o Ibovespa, é suficiente para constatar a força do movimento do mercado no sentido contrário ao da depressão econômica. Apesar de momentos de forte volatilidade, o índice chega ao fim de 2009 com uma rentabilidade acumulada de quase 78%, ficando já bem próximo do patamar máximo atingido antes da crise, de 73.000 pontos.

O apetite de investidores de todo o mundo por ações brasileiras é tamanho que o ingresso de recursos se manteve forte mesmo após o governo decretar a taxação à entrada de capital externo no país em outubro, por meio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O país também atravessou incólume a quebra de Dubai e o rebaixamento da classificação de risco da dívida de países como a Grécia e o México. Com isso, o ano se encerra com a previsão dos analistas de que nos próximos meses deve haver novos avanços - os mais otimistas prevêem o Ibovespa em 85.000 pontos ao final de 2010.

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O movimento de alta, no entanto, não deve ser generalizado, assim como não foi em 2009. Enquanto as ações das duas maiores empresas da bolsa - Vale e as da Petrobras - tiveram rentabilidade próxima à do Ibovespa, outras se destacaram a ponto de obter mais de 300% de valorização. A recuperação econômica rendeu grandes resultados a papéis mais voláteis, dentre os quais se destacaram os de empresas do bilionário Eike Batista ou ligadas ao setor imobiliário As cinco maiores rentabilidades do Ibovespa entre janeiro e 20 de dezembro foram:

MMX Miner ON: 324,19%
Duratex ON: 300,00%
Rossi Resid. ON: 284,89%
Gafisa ON: 158,33%
Cyrela Realt ON: 156,96%

MMX
Rodrigo Silveira, gerente de operações da Um Investimentos, lembra que as ações da mineradora do empresário Eike Batista sofreram bastante em 2008, mas vários fatores contribuíram para a recuperação do preço em 2009, e dentre os principais está a boa capitalização da empresa. A MMX vendeu uma planta de metálicos localizada em Corumbá para a Vetorial Siderúrgica em junho. "Esse negócio foi bem visto pelos investidores porque a MMX passou a focar em mineração. Na planta de Corumbá, o foco era diferente, na siderurgia."

Como mesmo após esse negócio a MMX continuava com uma grande dívida de curto prazo, Eike Batista começou a considerar a venda de todos os ativos da empresa para outro investidor. No final, o bilionário fechou a venda de apenas 21,5% das ações para o grupo chinês Wisco, por 400 milhões de dólares. Junto com a aquisição, os chineses ganharam o direito de preferência na compra de 50% do minério de ferro produzido na unidade de Serra Azul do Sistema MMX Sudeste por 20 anos. O minério será utilizado na siderúrgica que deve ser construída pela Wisco no Porto de Açu (RJ), outro grande projeto de Eike. (Continua)


O professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Felipe Garrán, lembra outro fator positivo. "A MMX tem alta credibilidade por conta do gestor Eike Batista, que é um ícone, e essa credibilidade acaba representada em termos financeiros", diz . Garrán ressalta que a recuperação econômica da empresa não é real em termos de lucro e fluxo de caixa, mas com a perspectiva de melhora econômica no Brasil e na China, a perspectiva de geração de fluxo para as empresas é grande, tanto para a mineração quanto para a siderurgia.

Construindo valor

As quatro outras ações que obtiveram os maiores rendimentos em 2009 têm em comum o fato de estarem ligadas ao mercado imobiliário. "Este setor sofreu demais na época da crise, quando a concessão de crédito diminuiu consideravelmente", diz Cida Souza, estrategista da corretora do Banco Itaú Unibanco. A queda vertiginosa que muitas das ações sofreram em 2008, algumas delas chegando a ser cotadas abaixo do valor patrimonial, abriu espaço para a notável valorização apresentada pelo setor neste ano.

Os preços dos imóveis estavam depreciados no começo do ano como reflexo da crise. As empresas adquiriram terrenos a preços altos nos anos anteriores com a previsão de aumento na demanda. Quando estourou a crise, houve uma incerteza quanto à capacidade das empresas para vender as unidades planejadas, e a previsão que havia estabelecido o preço de mercado mudou, o cenário passou a ser pessimista. Segundo Garrán, muitas das empresas do setor imobiliário entraram em 2009 com valores muito abaixo do que seria o normal. "Mas como o Brasil mostrou fôlego para sair da crise, elevou a previsão de fluxo de caixa para as empresas, o que impactou diretamente no preço das ações", diz o professor da FIA.

Rodrigo Silveira, da Um Investimentos, lembra ainda que os programas de incentivo por parte do governo ajudaram a criar um cenário positivo para o setor. Segundo ele, a disparada na rentabilidade de tais ações teve muito a ver com o "Minha Casa, Minha Vida", que gerou boas perspectivas principalmente para as empresas mais expostas aos segmentos de renda mais baixa. Segundo Carla dos Santos, consultora da CDS Soluções Financeiras e gestora de 180 milhões reais em aplicações financeiras, outras razões pelas quais as ações de Rossi, Duratex, Gafisa e Cyrela tiveram ótimo desempenho foram: 1) o bom momento do mercado interno, a criação de empregos e o aumento da renda dos brasileiros; 2) a queda da Selic reduziu os juros dos financiamentos imobiliários e fez os investidores buscarem retornos melhores que os da renda fixa; 3) os bancos passaram a liberar crédito imobiliário para pagamento em 30 anos.

Para os próximos meses, as perspectivas para o setor ainda são positivas. "O mercado imobiliário deve continuar em alta no curto e médio prazo", diz Alexandre Melão, sócio da imobiliária Drive, que atua principalmente em São Paulo. "Os riscos para a continuidade do crescimento são a rápida valorização dos terrenos, os gargalos para a contratação de mão-de-obra e equipamentos e as dificuldades da Caixa Econômica Federal na liberação dos financiamentos", afirma. (Continua)


Por enquanto, no entanto, o sentimento é mais de euforia "O mercado está sempre à frente, funciona à base de expectativas, antecipa o que deve acontecer", diz Silveira. Neste momento, o gerente de operações da Um Investimentos destaca a Rossi. "Ela possui múltiplos muito atrativos em relação a seus pares. Existe baixa competitividade para compra de terrenos para baixa renda. A Rossi se posiciona muito bem nesse mercado", afirma. A empresa também tem uma presença bastante forte fora dos grandes centros, em diversas regiões do país. "Por isso vai sofrer menos se faltarem terrenos, mão-de-obra e equipamentos no Rio e em São Paulo", diz um especialista que pediu para não ter seu nome identificado.

Já a fabricante de materiais de construção e móveis Duratex se beneficiou por tabela do novo boom imobiliário. O grande impulso aos papéis, no entanto, foi dado pela fusão entre a Duratex e a Satipel, anunciada em junho. Juntas as duas empresas se tornaram a maior indústria de painéis de madeira industrializada do hemisfério sul e uma das maiores do mundo. A nova empresa, controlada pelo Itaú, também é líder no mercado de metais sanitários e vice-líder em louças sanitárias, com as marcas Hydra e Deca.

As cinco piores

Na outra ponta, as cinco piores ações do Ibovespa neste ano foram:

Br.Telecom ON: -48,83%
Br.Tel.Part. ON: -39,37%
Telesp Atual PN: -0,71%
Nossa Caixa ON: -0,46%
Embraer ON: 5,90%

Tanto a Brasil Telecom quanto a Brasil Telecom Participações tiveram perdas devido à indefinição do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a fusão com a Oi, diz Garrán. Dependendo da decisão que for tomada pelo conselho, as ações poderão ter uma queda ainda maior, principalmente se as restrições à fusão forem muito severas. Kelly Trentin, analista de investimentos da corretora SLW, ressalta que a Brasil Telecom recomprou grande parte das ações em circulação por conta de sua integração com a Telemar. "Como o volume de negócios caiu muito, as ações que sobraram no mercado acabaram caindo, pois quem ficou com o papel teve de vender a qualquer preço", diz a analista. (Continua)


Telesp

Para Garrán, o principal problema da Telesp foi a série de falhas técnicas do serviço de internet banda larga Speedy. "Concessões públicas, como é o caso da telefonia, não sofrem muito em épocas de crise, porque você continua usando os serviços. No começo de 2009, o setor não sofreu tanto". Por outro lado, o preço das ações logo depois do incidente com o Speedy caiu razoavelmente, principalmente quando a Telefônica foi proibida de comercializar o produto durante mais de um mês. "E ainda não houve recuperação do valor das ações. A empresa tem feito propagandas dizendo que o serviço vai melhorar, mas o mercado ainda não reconheceu que possa haver recuperação de imagem", diz o professor de finanças.

Nossa Caixa

Os papéis do banco, na avaliação de Garrán, tiveram ótimo desempenho na época da crise, chegando a subir 186% em 2008. Depois da compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, o desempenho das ações continuou positivo, e a performance durou até meados de setembro de 2009. Porém, "em setembro de 2009 o Banco do Brasil adquiriu os papéis dos acionistas minoritários da Nossa Caixa, algo em torno de 2,306 bilhões de reais, o que enxugou a liquidez desse papel. De um modo geral quando isso acontece, o preço das ações diminui como consequencia. Posteriormente, os minoritários que ainda tinham o papel na mão puderam trocá-los por ações do Banco do Brasil, o que deu um refresco no preço".

Embraer

"A companhia vem apresentando um cenário ruim para seus mercados devido às dificuldades encontradas por seus clientes no exterior", aponta Kelly Trentin, da SLW. A Embraer tem quase 90% de sua receita originada do mercado externo, e a queda na demanda internacional por aviões, em grande parte relacionada à crise, contribuiu para enfraquecer os resultados da empresa. "Foi um ano ruim para a Embraer. Além do corte na demanda, houve uma redução de pessoal, da produção e, consequentemente, uma queda nas estimativas para 2010", diz Rodrigo Silveira.

Veja abaixo o balanço completo das ações do Ibovespa neste ano:

Ações No Ano Atual (%)
MMX Miner ON 324,19
Duratex ON 300
Rossi Resid. ON 284,89
Cyrela Realt ON 158,33
Gafisa ON 156,96
Gol PN 146,42
Braskem PNA 142,16
Lojas Americanas PN 138,22
Lojas Renner ON 136,2
Banco do Brasil ON 114,8
Sid. Nacional ON 105,56
BMFBovespa ON 105,36
Natura ON 103
Pao de Acucar-CBDPNA 101,86
Bradespar Pn 101,56
Cosan ON 99,56
JBS ON 93,99
Usiminas ON 89,99
B2W Varejo ON 89,52
Gerdau PN 89,5
Vivo PN 88,37
Tam S.A. PN 87,01
Usiminas PNA 84,89
Vale ON 78,91
Vale PNA 78,67
NET PN 75,19
Ambev PN 73,2
CCR Rodovias ON 72,84
Tim Part. S.A. PN 70,88
Itausa PN 69,52
Gerdau Met. PN 68,7
Itauunibanco PN 65,87
Ultrapar PN 65,72
Petrobras PN 64,43
Copel PNB 64,36
All Amer.Lat. Unit 64,04
Bradesco PN 63,44
Klabin S.A. PN 59,74
Cesp PNB 55
Petrobras ON 53,66
Eletropaulo PNB 50,57
Aracruz PNB 45,78
Souza Cruz ON 45,45
BRF Foods ON 43,07
Eletrobras ON 42,58
Tim Part. S.A. ON 36,05
Telemar PN 34,89
Eletrobras PNB 33,08
Telemar ON 30,27
Light S.A. ON 27,66
Transm. Paulista PN 27,51
CPFL Energia ON 26,47
Sabesp ON 26,3
Cemig PN 25,73
Br.Telecom PN 25
Telemar N L PNA 22,07
Br.Tel.Part. PN 19,53
Comgas PNA 13,05
Celesc PNB 12,45
Redecard ON 9,69
Embraer ON 5,9
Nossa Caixa ON -0,46
Telesp Atual PN -0,71
Br.Tel.Part. ON -39,37
Br.Telecom ON -48,83
IBovespa77,88
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