Livro mostra 5 principais armadilhas para investidores
Grupo de especialistas de mercado e professores preparou um livro que mostra as cinco principais armadilhas nas quais os investidores em geral caem
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2015 às 18h33.
Quem nunca perdeu dinheiro numa aplicação malfeita, por falta de conhecimento ou experiência? Os caminhos do mercado são cheios de armadilhas que podem levar boa parte dos ganhos ou até do principal dos investidores novatos.
Pensando nisso, um grupo de especialistas de mercado e professores da Fundação Getúlio Vargas ( FGV ) de São Paulo preparou um livro, “Armadilhas do Investimento”, da editora M. Books, que mostra as cinco principais armadilhas nas quais os investidores em geral caem.
Os autores Paulo Tenani, Roberto Cintra, Ernesto Leme e Caio Weil Villares usam sua experiência de mercado e como economistas para mostrar os erros mais comuns dos investidores dentro do processo de investimento . O livro será lançado hoje, no auditório da FGV em São Paulo, na Rua Itapeva, 432, a partir das 19h30.
O projeto surgiu em 2009, lembra Paulo Tenani, Ph.D pela Universidade de Columbia, coordenador do Centro de Processos de Investimento GV Invest, da Faculdade de Economia da FGV e que foi executivo das gestoras do Citibank, do USB e da Pragma Patrimônio.
A ideia inicial do grupo era discutir o processo de investimento de forma didática e a opção foi mostrar os principais erros que profissionais e pessoas cometem. “Pegamos nossas experiências e estruturamos os cinco erros principais”, diz. “Procuramos também deixar o livro o mais ameno possível, com ilustrações que ironizam as situações”, explica.
A ironia começa com o marcador de texto que acompanha o livro e que imita uma nota de cem dólares. Nela estão duas pérolas dos erros de investimento. Uma, a foto do “ganhador de dinheiro” no lugar de Benjamin Franklin e a frase “In Super Herous we Trust” (“Nós confiamos em super-heróis”) substituindo o “In God weTrust”, ou “Nós confiamos em Deus”.
A outra pérola é a frase “Diversificação é para quem não sabe nada”.
Ao longo do livro, as ilustrações mostram investidores perdendo dinheiro cada vez que eles caem nas armadilhas. Junto, o texto traz cinco enredos que mostram como as perdas acontecem.
“É uma forma de explicar para o leitor comum alguns conceitos da Teoria Moderna dos Portfólios”, diz Tenani. “Usamos muito da nossa experiência de pesquisadores e de gente que teve muita experiência na relação com clientes.”
A primeira armadilha, ilustrada por dois homens de preto jogando uma moeda e um saindo correndo gritando “Vendi ao invés comprar!”, é a falta de atenção aos riscos operacionais e aos controles. Em geral, o investidor está mais preocupado se a pessoa consegue antever os mercados, e não checa se o gestor tem controles e capacidade operacional de fazer isso. Isso pode levar o gestor a, por exemplo, comprar em vez de vender um ativo, ou vice-versa. “Erros operacionais acontecem, mas há ainda o risco de fraude”, diz.
Por isso, o investidor não deve olhar só a capacidade do gestor em antecipar os movimentos de dólar, juros ou bolsa, mas toda estrutura, também para conferir se ele não vai jogar as piores operações no seu portfólio e as melhores em outras dele ou e outros clientes.
A segunda armadilha, que traz a imagem de um super-herói de terno, com um cifrão no peito, carregando o investidor enquanto o dinheiro cai do seu bolso, são os riscos ocultos. É quando o cliente pensa que tem a grande chance aplicar com um super-herói.
Ele vê o retorno dos fundos e acha que o gestor é super poderoso e na verdade ele está emprestando ativos ou tomando mais risco em opções que só vão se materializar quando um problema de mercado acontecer. Nele entram riscos de crédito (ou calote do emissor do papel) e liquidez (dificuldade em vender um papel, os famosos “micos”). Mas o cliente só vê o alto retorno com baixa volatilidade, sem perceber que corre um risco muito grande.
A receita armadilha é o conflito de interesses. Na ilustração, um investidor de 60 anos, que vendeu a empresa, entrega o dinheiro para um gestor de terno escuro que joga as notas num saco furado.
“E o cliente pensa: ele investe nos próprios produtos, vai cuidar do meu dinheiro da mesma forma que o dele”, afirma Tenani. Nesse caso, o investidor precisa prestar atenção se o gestor tem os mesmos objetivos e o mesmo perfil de risco que ele.
Para ilustrar o caso, o livro conta a história da família que tem um hospital e abre uma asset cujos fundos vão investir em papéis do próprio empreendimento.
A quarta armadilha é a falta de disciplina de investimento. Nesse capítulo, um gestor de terno preto puxa o investidor para dentro da televisão enquanto vários outros tentam sair ao mesmo tempo por uma porta estreita.
“Isso acontece normalmente quando o investidor não precisa de dinheiro, não usa alavancagem (endividamento) para multiplicar os ganhos, e vê um monte de gente saindo de uma aplicação porque estava muito alavancada, derrubando os preços”, explica Tenani. “Aí o investidor fica com medo por causa da queda e sai junto, perdendo dinheiro”, explica. A mensagem é que o investidor não precisa ter medo ou se apavorar por quedas acentuadas em determinado mercado se suas estratégias são de longo prazo.
A quinta armadilha são aplicações de risco que não pagam retorno.
“O investidor corre risco de graça, como se alguém fosse jogar roleta em Las Vegas com o dinheiro dele”, diz Tenani. A ilustração é justamente um homem de terno preto abraçando o investidor em frente à mesa de roleta, e cliente deprimido vendo todas suas fichas colocadas em cima de um único número. E o gestor fala: “Tem de concentrar o portfólio, diversificação não vale nada”.
Tenani lembra que o investidor pode correr muitos riscos óbvios, como gestores sem controle, mas o risco mais sutil é o de concentração. “O gestor pode ter um grande ganho concentrando, mas em geral seria possível ter um retorno quase igual, mas com uma diversificação e um risco muito menores”, explica.
O livro também tem vários avisos, pequenos “disclaimers”, com letras bem miudinhas que imitam os contratos de notas estruturadas, papéis que estão virando moda no mercado brasileiro após a regulamentação neste início de ano.
Nelas, os autores criticam os termos dessas notas, que chegam a declarar que o banco que as vende pode mudar de ideia sobre ela ser um bom investimento no meio da aplicação.
“Não é crítica para ninguém, mas um alerta para o investidor que confia em quem oferece o papel”, diz.
Tenani reconhece também que o mercado brasileiro tem várias limitações em termos de opções de investimento, pela falta de instrumentos ou mesmo pela baixa liquidez dos mercados.
Dessa forma, muitos gestores acabam apenas repetindo receitas parecidas, correndo riscos parecidos e tendo perdas e problemas parecidos. “O mercado brasileiro é pouco profundo”, diz.
Quem nunca perdeu dinheiro numa aplicação malfeita, por falta de conhecimento ou experiência? Os caminhos do mercado são cheios de armadilhas que podem levar boa parte dos ganhos ou até do principal dos investidores novatos.
Pensando nisso, um grupo de especialistas de mercado e professores da Fundação Getúlio Vargas ( FGV ) de São Paulo preparou um livro, “Armadilhas do Investimento”, da editora M. Books, que mostra as cinco principais armadilhas nas quais os investidores em geral caem.
Os autores Paulo Tenani, Roberto Cintra, Ernesto Leme e Caio Weil Villares usam sua experiência de mercado e como economistas para mostrar os erros mais comuns dos investidores dentro do processo de investimento . O livro será lançado hoje, no auditório da FGV em São Paulo, na Rua Itapeva, 432, a partir das 19h30.
O projeto surgiu em 2009, lembra Paulo Tenani, Ph.D pela Universidade de Columbia, coordenador do Centro de Processos de Investimento GV Invest, da Faculdade de Economia da FGV e que foi executivo das gestoras do Citibank, do USB e da Pragma Patrimônio.
A ideia inicial do grupo era discutir o processo de investimento de forma didática e a opção foi mostrar os principais erros que profissionais e pessoas cometem. “Pegamos nossas experiências e estruturamos os cinco erros principais”, diz. “Procuramos também deixar o livro o mais ameno possível, com ilustrações que ironizam as situações”, explica.
A ironia começa com o marcador de texto que acompanha o livro e que imita uma nota de cem dólares. Nela estão duas pérolas dos erros de investimento. Uma, a foto do “ganhador de dinheiro” no lugar de Benjamin Franklin e a frase “In Super Herous we Trust” (“Nós confiamos em super-heróis”) substituindo o “In God weTrust”, ou “Nós confiamos em Deus”.
A outra pérola é a frase “Diversificação é para quem não sabe nada”.
Ao longo do livro, as ilustrações mostram investidores perdendo dinheiro cada vez que eles caem nas armadilhas. Junto, o texto traz cinco enredos que mostram como as perdas acontecem.
“É uma forma de explicar para o leitor comum alguns conceitos da Teoria Moderna dos Portfólios”, diz Tenani. “Usamos muito da nossa experiência de pesquisadores e de gente que teve muita experiência na relação com clientes.”
A primeira armadilha, ilustrada por dois homens de preto jogando uma moeda e um saindo correndo gritando “Vendi ao invés comprar!”, é a falta de atenção aos riscos operacionais e aos controles. Em geral, o investidor está mais preocupado se a pessoa consegue antever os mercados, e não checa se o gestor tem controles e capacidade operacional de fazer isso. Isso pode levar o gestor a, por exemplo, comprar em vez de vender um ativo, ou vice-versa. “Erros operacionais acontecem, mas há ainda o risco de fraude”, diz.
Por isso, o investidor não deve olhar só a capacidade do gestor em antecipar os movimentos de dólar, juros ou bolsa, mas toda estrutura, também para conferir se ele não vai jogar as piores operações no seu portfólio e as melhores em outras dele ou e outros clientes.
A segunda armadilha, que traz a imagem de um super-herói de terno, com um cifrão no peito, carregando o investidor enquanto o dinheiro cai do seu bolso, são os riscos ocultos. É quando o cliente pensa que tem a grande chance aplicar com um super-herói.
Ele vê o retorno dos fundos e acha que o gestor é super poderoso e na verdade ele está emprestando ativos ou tomando mais risco em opções que só vão se materializar quando um problema de mercado acontecer. Nele entram riscos de crédito (ou calote do emissor do papel) e liquidez (dificuldade em vender um papel, os famosos “micos”). Mas o cliente só vê o alto retorno com baixa volatilidade, sem perceber que corre um risco muito grande.
A receita armadilha é o conflito de interesses. Na ilustração, um investidor de 60 anos, que vendeu a empresa, entrega o dinheiro para um gestor de terno escuro que joga as notas num saco furado.
“E o cliente pensa: ele investe nos próprios produtos, vai cuidar do meu dinheiro da mesma forma que o dele”, afirma Tenani. Nesse caso, o investidor precisa prestar atenção se o gestor tem os mesmos objetivos e o mesmo perfil de risco que ele.
Para ilustrar o caso, o livro conta a história da família que tem um hospital e abre uma asset cujos fundos vão investir em papéis do próprio empreendimento.
A quarta armadilha é a falta de disciplina de investimento. Nesse capítulo, um gestor de terno preto puxa o investidor para dentro da televisão enquanto vários outros tentam sair ao mesmo tempo por uma porta estreita.
“Isso acontece normalmente quando o investidor não precisa de dinheiro, não usa alavancagem (endividamento) para multiplicar os ganhos, e vê um monte de gente saindo de uma aplicação porque estava muito alavancada, derrubando os preços”, explica Tenani. “Aí o investidor fica com medo por causa da queda e sai junto, perdendo dinheiro”, explica. A mensagem é que o investidor não precisa ter medo ou se apavorar por quedas acentuadas em determinado mercado se suas estratégias são de longo prazo.
A quinta armadilha são aplicações de risco que não pagam retorno.
“O investidor corre risco de graça, como se alguém fosse jogar roleta em Las Vegas com o dinheiro dele”, diz Tenani. A ilustração é justamente um homem de terno preto abraçando o investidor em frente à mesa de roleta, e cliente deprimido vendo todas suas fichas colocadas em cima de um único número. E o gestor fala: “Tem de concentrar o portfólio, diversificação não vale nada”.
Tenani lembra que o investidor pode correr muitos riscos óbvios, como gestores sem controle, mas o risco mais sutil é o de concentração. “O gestor pode ter um grande ganho concentrando, mas em geral seria possível ter um retorno quase igual, mas com uma diversificação e um risco muito menores”, explica.
O livro também tem vários avisos, pequenos “disclaimers”, com letras bem miudinhas que imitam os contratos de notas estruturadas, papéis que estão virando moda no mercado brasileiro após a regulamentação neste início de ano.
Nelas, os autores criticam os termos dessas notas, que chegam a declarar que o banco que as vende pode mudar de ideia sobre ela ser um bom investimento no meio da aplicação.
“Não é crítica para ninguém, mas um alerta para o investidor que confia em quem oferece o papel”, diz.
Tenani reconhece também que o mercado brasileiro tem várias limitações em termos de opções de investimento, pela falta de instrumentos ou mesmo pela baixa liquidez dos mercados.
Dessa forma, muitos gestores acabam apenas repetindo receitas parecidas, correndo riscos parecidos e tendo perdas e problemas parecidos. “O mercado brasileiro é pouco profundo”, diz.