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O jeito americano de investir em ações

Sucesso absoluto nos EUA, os fundos de índice começam a ganhar espaço também na Bovespa

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Há tempos eles são um sucesso em bolsas de todo o mundo, mas somente agora começam a ser descobertos pelos investidores brasileiros. Conhecidos como ETFs (sigla em inglês para Exchange Traded Funds), esses fundos, que têm suas cotas negociadas em bolsa como se fossem ações, estão ganhando adeptos no Brasil por permitirem o investimento em uma cesta de ações com apenas uma aplicação - e a um custo muito inferior ao dos fundos de ações tradicionais.

Em cinco meses, os iShares, ETFs geridos pelo banco de investimentos Barclays, tiveram seu patrimônio elevado em 65%, chegando a 185 milhões de reais em abril. O percentual enche os olhos, mas o montante ainda é bastante reduzido se comparado ao de produtos ofertados em bolsas como a de Nova York. No maior mercado acionário do mundo, cinco dos dez papéis mais negociados diariamente são ETFs. Os fundos dos índices Nasdaq e Standard & Poor´s 500 (S&P 500) desbancam ações de gigantes como Apple, Exxon Mobil e Bank of America. A participação dos ETFs na Bolsa de Nova York beira os 30% do volume, enquanto na BM&FBovespa não chega a 0,5%.

Veja também

Os ETF´s no mundo
Bolsa
Número de ETF´s
Quantidade de negócios (em milhares)
Volume negociado (US$ milhões)
Participação na bolsa (%)
BM&FBovespa
4
3,4
109,80
0,3
Nova York
1.048
45.212,3
507.509,74
28,4
Nasdaq
48
7.254,0
112.264,00
4,2
Londres
317
86,4
9.725,94
3,6
Alemanha
426
147,2
14.669,59
8,0
* Dados de março de 2009
Fonte: World Federation of Exchanges

Não é difícil entender o porquê de tanta diferença. Por aqui, os ETFs ainda engatinham. O primeiro deles, batizado de Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB), foi lançado em 2004 pelo Itaú, tendo como índice de referência o IBrX-50 (Índice Brasil 50), que reúne as 50 ações mais negociadas da Bovespa. O PIBB manteve-se como única opção de ETF no mercado brasileiro até dezembro do ano passado, quando o Barclays criou outros três: o iShare Ibovespa, o iShare BM&FBovespa Small Cap e o iShare BM&FBovespa MidLarge Cap. Como o próprio nome diz, esses fundos seguem os recém-lançados índices MidLarge Cap e Small Cap e o já consagrado Ibovespa.

Os ETFs brasileiros
Produto
Código na Bolsa
Índice de referência
Taxa de administração (% ao ano)
Rentabilidade no ano (%)*
Preço (R$)**
iShare IbovespaBOVA11Ibovespa0,5427,848,10
iShare Small CapSMAL11Small Cap0,6931,732,30
iShare MidLarge CapMILA11MidLarge Cap0,5423,233,82
PIBBPIBB11IBrX-500,05926,170,00
* Até 30 de abril de 2009
** Cotação de fechamento de 30 de abril de 2009
Fontes: Barclays, site http://www.pibb.com.br e Economática

O lançamento dos iShares, entretanto, coincidiu com o período mais agudo da crise global. No último trimestre de 2008, a bolsa brasileira recuou mais de 30%, o que, segundo o diretor do Barclays no Brasil, Marcelo Allain, impactou os negócios. "Mesmo com a valorização dos últimos meses, os investidores ainda estão ressabiados com a bolsa. Há muitas dúvidas sobre o desenrolar dessa crise. E, como os iShares são novidade, há um período de conhecimento, de busca por informações."

A divulgação, na opinião da gerente de Produtos de Renda Variável da BM&FBovespa, Adriana Sanches, é o maior desafio dos ETFs no Brasil. "Não temos dúvidas de que os produtos serão um sucesso, mas para isso é preciso levar a informação aos pequenos investidores", diz. Hoje, os investidores institucionais (fundos de pensão, gestores de recursos e seguradoras) são os que mais apostam nos iShares, respondendo por grande parte do aumento de 65% no patrimônio dos fundos nos últimos meses.

Os ETFs são bom negócio?

Os especialistas garantem que sim. "Com eles, o investidor consegue aplicar em ações de forma transparente e diversificada, sem ter de dispor de muitos recursos para isso", diz Mauro Calil, professor e educador financeiro do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil. Ao comprar uma cota de PIBB ou de iShare, o investidor está aplicando nas ações que compõem o índice de referência, nas mesmas proporções. Por isso, os fundos de índices acompanham a rentabilidade do indicador. As cotas de iShare fecharam abril precificadas entre 32,30 reais e 48,10 reais, enquanto as de PIBB ficaram em 70 reais. Um lote-padrão na bolsa reúne 100 cotas, mas o investidor pode aplicar menos se desejar, comprando os papéis no mercado fracionário.

A maior vantagem dos ETFs, entretanto, está na taxa de administração. Enquanto os fundos de ações voltados para o varejo cobram até 4% ao ano de taxa de administração, nos ETFs o investidor não pagará mais de 0,69% ao ano. "Esse é um dos fatores que desestimula os grandes bancos a lançar esse tipo de produto. Nosso ganho vem da venda em escala", explica o diretor do Barclays. A instituição é a maior gestora de ETFs do mundo, com uma carteira de 297 bilhões de dólares, que corresponde a 47% do mercado mundial. No mês passado, o Barclays vendeu sua divisão de fundos de índice ao fundo CVC Capital Partners, mas manteve-se na gestão dos iShares. Na vice-liderança do ranking encontra-se o State Street Global Advisors, com 16% do patrimônio global, seguido pelo Vanguard, com 7%.

No Brasil, a desvantagem dos ETFs concentra-se em sua baixa liquidez. Os iShares MidLarge Cap e Small Cap registram menos de um negócio por dia. Nos produtos que seguem o Ibovespa e o IBrX-50, o número de negócios gira na casa dos 70 por dia. "Os investidores ainda estão começando a experimentar os produtos. Mas quem já testou viu que é fácil operar e começou a tomar gosto pelo investimento", afirma Allain.

Para estimular a negociação - e dar garantia de compra e venda aos investidores - o Barclays contratou o Citibank como formador de mercado dos iShares. Diariamente, a instituição faz ofertas de compra e venda de iShares, respeitando o limite de 0,5% de spread (diferença entre a cotação de compra e de venda) para os iShares MidLarge Cap e de 1,25% para os iShares Small Cap. A tributação para os ETFs segue a de ações: 15% de Imposto de Renda (IR) sobre o ganho nas operações que superarem 20.000 reais ao mês. Resgates que totalizem até 20.000 reais no mês são isentos, mesmo havendo lucro.

Assim como o investimento direto em ações, as aplicações em ETFs exigem do investidor um certo apetite por risco. "Quem não tem estômago para suportar o sobe-e-desce do mercado acionário deve evitar qualquer tipo de investimento em ações", alerta Calil. Por outro lado, aqueles que têm perfil mais ousado encontram nos ETFs a possibilidade de lucrar com arbitragem. Os investidores podem acompanhar por home broker ou pelo site da BM&FBovespa o preço das cotas de ETFs e o valor da cesta de ações que forma o índice de referência. Se houver diferença, pode-se ganhar na troca das cotas do fundo pela carteira de ações ou vice-versa.

Como alguns papéis são difíceis de encontrar devido à baixa liquidez, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou os investidores a pagar parte da carteira de ações em dinheiro na troca dos papéis por cotas de fundos. Mas esse benefício só é válido para os iShares. No PIBB, o investidor precisará ter em mãos todas as ações que compõem o IBrX-50, mesmo as menos líquidas, para transformá-las em cotas do fundo.

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