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"Empresas fazem pouco para você trabalhar após os 50", diz especialista

Para Catherine Collison, CEO do Transamerica Center for Retirement Studies, trabalhadores devem aproveitar benefícios da tecnologia e empreender

Catherine Collinson: "Trabalhadores experientes valem muito no ambiente de trabalho" (Mongeral Aegon/Divulgação)

Marília Almeida

Publicado em 22 de outubro de 2019 às 05h00.

Última atualização em 2 de novembro de 2019 às 23h35.

São Paulo - A especialista em aposentadoria Catherine Collinson, CEO do Transamerica Center for Retirement Studies, faz um alerta: diante do envelhecimento global da população, é necessário poupar mais e também trabalhar mais para manter o estilo de vida durante a aposentadoria. A má notícia? Empregadores ao redor do mundo estão fazendo pouco para empregar e reter profissionais mais experientes, com mais de 50 anos.

Em uma de suas pesquisas na entidade sem fins lucrativos, Catherine constatou que os trabalhadores querem e precisam trabalhar mais para se aposentar totalmente em uma idade mais avançada. Os trabalhadores desejam fazer isso por razões financeiras, mas também porque gostam do que fazem e gostariam de se manter ativos. E é natural que isso ocorra. Afinal, com uma maior expectativa de vida, fica cada vez mais difícil trabalhar por 30 anos e economizar por mais 30.

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Para ela, a vontade de trabalhadores com mais de 50 anos se manterem no mercado de trabalho é uma situação onde só há ganhos: trabalhando mais, eles podem ganhar mais salários, o que permite economizar mais para a aposentadoria e reduz o risco de que fiquem sem economias quando se aposentarem.

O problema é que os empregadores não estão pensando nisso. No Brasil, apenas 23% dos trabalhadores têm acesso a um programa de transição para a aposentadoria, como horários flexíveis, trabalhos em meio período e treinamento especializado.

"Esse é nosso grande foco de estudo: atrair a atenção dos empregadores para essa oportunidade", diz Catherine, em entrevista à EXAME durante o Congresso Brasileiro de Previdência Complementar Fechada (Abrapp), realizado em São Paulo e do qual participou. A especialista também é diretora executiva do Aegon Center for Longevity and Retirement. Ambos são parceiros do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

Por que os empregadores não oferecem programas de transição para a aposentadoria? Em conversas com executivos, as respostas que Catherine recebe é que eles nunca pararam para pensar sobre isso. Alguns até começaram, mas a maioria está preocupada em administrar o negócio e fazer com que a empresa tenha sucesso.

Muitos entrevistados estão acostumados a trabalhar com funcionários em período integral e vêem dificuldade em adaptar a escala de trabalho de um funcionário. "É um desafio, mas não é um trabalho impossível. A questão é que logicamente há um custo envolvido para criar um programa como esse".

Veja abaixo a entrevista completa com Catherine Collinson, na qual ela fala sobre programas de transição para a aposentadoria, dificuldade em poupar para o período de inatividade e desafios dos sistemas de previdência social diante do envelhecimento da população:

1 - Fale mais sobre o programa de transição para a aposentadoria, que pode ser oferecido por empregadores.

Trabalhadores experientes valem muito no ambiente de trabalho. Em um programa de transição de aposentadoria o empregador pode manter esses funcionários por mais tempo.

Quando eles se deparam com uma proposta tudo ou nada, na qual ou trabalham em período integral ou vão embora, eles podem ir embora. Muitos deles estão interessados em treinar e fazer mentoria aos seus sucessores. Eles têm muito conhecimento institucional, então é difícil serem substituídos.

É possível também fazer uma prática inversa. E se os trabalhadores mais novos pudessem ser mentores de trabalhadores mais velhos para mantê-los atualizados? Que tal se esquecêssemos a idade e pensássemos apenas que um trabalhador é bom em certa habilidade e outro é bom em outra? Eles poderiam fazer mentoria um para o outro. Um trabalhador experiente pode ter experiência em colaboração, priorizar e resolver problemas, enquanto o mais jovem pode ter mais habilidades tecnológicas.

Muitos empregadores têm agora uma oportunidade para implantar um programa de transição para a aposentadoria, dado que a população global está envelhecendo. Os baby boomers estão perto de se aposentar e cada vez menos trabalhadores podem tomar o seu lugar. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego caiu pelo décimo quinto ano consecutivo. Nós temos uma escassez de mão de obra no país. Agora chamamos os trabalhadores com mais de 50 anos de "funcionários experientes". Estamos até mudando o vocabulário.

2 - A era digital na qual vivemos tornou mais fácil contratar trabalhadores experientes, já que é possível ter mais flexibilidade?

Um lugar de trabalho digital, as plataformas digitais e habilidade de trabalhar remotamente, além de se comunicar mais facilmente, são boas para trabalhadores de qualquer idade.

Há outra oportunidade importante que a tecnologia dá: a possibilidade de trabalhar para si mesmo. Está mais fácil do que nunca se tornar freelancer ou consultor por meio de plataformas digitais. Como consequência estamos vendo startups serem criadas por quem tem mais de 50 anos.

Para isso, as habilidades dos trabalhadores mais experientes precisam estar atualizadas, e é necessário criar um produto ou serviço com valor no mercado. E esses trabalhadores podem fazer isso, porque eles têm experiência.

3 - Como quebrar o preconceito dos empregadores e se manter empregado após os 50?

Nos Estados Unidos, o empregador não pode olhar para a idade no currículo de um candidato a uma vaga, mas pode olhar o ano em que se formou na universidade. Aí é só fazer a conta.

O LinkedIn vira esse jogo para os trabalhadores mais velhos. Porque nele você tem foto e pode se apresentar ao mercado. Se você está com uma boa aparência e tem coisas a mostrar, pode quebrar mais facilmente os paradigmas da idade. Você se torna tangível. Não é mais uma data de graduação em um pedaço de papel. Você é uma pessoa com um sorriso e resultados. Então, recomendo que todos levem o seu perfil no LinkedIn a sério.

Para quem está pensando em se tornar freelancer ou consultor, ter um bom perfil na rede social é uma ótima maneira de mostrar suas habilidades e experiências.

4 - Como incentivar as pessoas a economizarem para a aposentadoria?

As pessoas precisam de metas financeiras, mas precisam também de objetivos de vida, como voltar à faculdade e formar uma família. E é importante que tenham objetivos de curto prazo. Dessa forma, é possível dar pequenos passos, e mudar objetivos enquanto se mira no longo prazo.

Não há receita: é tudo personalizado. Cada um tem objetivos de vida Algumas pessoas precisam pensar nos netos. Outras não os têm, por exemplo.

5 - Passamos agora no Brasil por um cenário inédito: juros na mínima histórica. Qual o impacto disso na aposentadoria?

Com juros baixos, é mais difícil fazer o dinheiro render até a aposentadoria. É mais uma razão para que um trabalho em meio período é importante. Muitas pessoas esperam que a previdência social resolva a sua vida, mas ela não é suficiente para viver bem. A Previdência Social ajuda a manter a pessoa fora da linha de pobreza, mas não é suficiente para manter um estilo de vida.

Recomendamos três tipos de coberturas: previdência social, benefícios dados por empregadores, como planos de previdência patrocinados e seguros, e principalmente uma poupança individual. Os três são os principais pilares de um plano de aposentadoria.

Há um desafio na hora de se aposentar: onde empregar o dinheiro para fazer ele durar o suficiente. Recomendamos produtos com renda garantida em uma porção da poupança individual. Dessa forma é possível minimizar riscos de ficar sem renda no período de inatividade.

6 - Com o envelhecimento da população, temos de discutir a Reforma da Previdência?

A Previdência Social nos Estados Unidos tem o mesmo modelo do Brasil. É como um colchão para assegurar que trabalhadores garantam a renda dos aposentados. Mas já faz 15 anos que nenhuma reforma desse sistema é discutida no país. É um problema difícil. Não quer dizer que não haverá aposentadoria, mas os benefícios serão menores. Se não houver mudanças até 2023, trabalhadores americanos vão passar a receber 79% dos benefícios. Não vemos nenhum movimento de Washington sobre o tema.

Uma coisa é certa: quanto mais a discussão for adiada, mais abrupta será a reforma e menos tempo as pessoas terão para ajustar seus planos para a aposentadoria. Equilibrar contas públicas sempre é impopular. Mas os efeitos de não solucionar esse problema também são bem negativos.

7 - Os americanos estão economizando o suficiente para a aposentadoria?

Se olharmos a geração baby boomer, que está mais perto de se aposentar, as pessoas economizaram, em média, 150 mil dólares. Se precisarem que esse montante dure por 30 anos, terão apenas 5 mil dólares por ano. E eles economizaram mais do que a população em geral.

Então, diante desse cenário, eles vão ter de trabalhar mais. A grande questão é: quantos empregadores abriram seus corações e mentes e atualizaram suas práticas de negócio para empregá-los e retê-los?

8 - Com arranjos alternativos de emprego, o que muda na visão sobre a aposentadoria?

Muitos trabalhadores na gig economy têm um emprego fixo e também uma renda extra, como trabalhar na Uber. Não importa se você é um empregado em tempo integral ou autônomo, você precisa ter um planejamento financeiro para a aposentadoria.

O mais importante é que todos contribuam para a previdência social. É possível que você não saiba ao certo sua renda e perca um pouco, mas se você não contribuir para o sistema público, você está se machucando. O que você paga ao sistema é um grande reflexo do que você vai ter como renda durante a aposentadoria.

 

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