Crise da Avianca: veja em quais trechos o valor da passagem mais subiu
Em 15 trechos analisados, preços subiram de 71% a 185% entre março e abril desse ano em comparação ao mesmo período do ano passado
Marília Almeida
Publicado em 2 de maio de 2019 às 11h56.
Última atualização em 2 de maio de 2019 às 13h21.
São Paulo - A crise da Avianca e o anúncio do pedido de recuperação judicial da companhia, feito em março, já teve grande impacto no preço das passagens aéreas, que subiu até 185% em alguns trechos. O cancelamentos de voos e perdas de aeronaves da companhia fazem com que a oferta de voos diminua, enquanto a demanda se mantém a mesma, o que provoca o aumento do valor dos bilhetes.
É o que aponta um levantamento do buscador de preços Viajala, que analisou preços de 100 rotas nacionais pesquisadas pelos usuários entre a segunda quinzena de março e a primeira de abril de 2018 e de 2019, para voar entre abril e junho de cada ano. A amostragem utilizada foi de 100 mil buscas por ano.
Foram compiladas todas as rotas porque houve impacto nos preços tanto nas rotas que aAviancadeixou de operar quanto nas rotas que ainda opera, mas nas quais o número de voos caiu drasticamente. Em todas elas a Avianca operava até os cancelamentos começarem.
"O preço das outras companhias aumenta tanto nas rotas que a companhia deixou de operar, já que as opções diminuíram, quanto nas rotas que ela ainda opera por conta da insegurança do consumidor em comprar com a empresa neste momento delicado, por mais baratos que sejam seus voos", explica o diretor nacional do Viajala, Eduardo Martins.
O trecho que apresentou o maior aumento de preços de bilhetes foi entre Recife e Petrolina, em Pernambuco: no trecho as passagens aéreas aumentaram 185%. Em segundo lugar, estão voos entre Rio de Janeiro e Porto Alegre: as passagens subiram 180% no trecho. A rota entre São Paulo e Salvador também ficou mais cara: os bilhetes aumentaram 153%.
A Avianca, que já havia cancelado mais de mil voos na semana passada, deve cancelar mais dois mil até o dia 8 e voltar ao patamar que tinha quando começou a transportar passageiros regularmente em voos domésticos no Brasil, 15 anos atrás, fazendo pouco mais de 30 voos diários.
A companhia já anunciou o cancelamento de mais de 1.400 voos em seu site e perdeu mais de 10 aeronaves, que foram usadas para pagar credores. A partir de agora, deve perder mais 18 aviões. O leilão dos ativos da Avianca acontece na semana que vem, no dia 7 de maio.
Atualmente, a empresa está operando apenas entre quatro aeroportos: Congonhas, em São Paulo; Santos Dumont, no Rio, Brasília e Salvador. "Encerrar as atividades em aeroportos de intensa movimentação, como Guarulhos e Galeão, gera impacto não só para o consumidor que tinha um voo marcado envolvendo esses destinos, mas para qualquer um que planeja comprar uma passagem em breve, para qualquer lugar", completa o executivo do Viajala.
O aumento de preços atingiu apenas voos nacionais. Quem tem voos internacionais agendados com a Avianca não tem tantos motivos para se preocupar. "A Avianca Brasil, que opera os trechos nacionais, não é a mesma empresa responsável pela maior parte das rotas internacionais da companhia, que tem sede na Colômbia e está operando normalmente", ressalta Martins.
Confira abaixo o ranking do buscador Viajala com as 15 rotas que mais apresentaram aumento de preço médio de 2018 para 2019 entre os meses de março e abril:
Rotas | Aumento | Variação do preço médio |
---|---|---|
Recife (PE) e Petrolina (PE) | 185% | De R$ 237 para R$ 675 |
Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS) | 180% | De R$ 256 para R$ 716 |
São Paulo (SP) e Salvador (BA) | 153% | De R$ 280 para R$ 708 |
Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ) | 137% | De R$ 169 para R$ 400 |
Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG) | 136% | De R$ 310 para R$ 731 |
Florianópolis (SC) e Chapecó (SC) | 130% | De R$ 201 para R$ 462 |
Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC) | 126% | De R$ 265 para R$ 598 |
Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG) | 124% | De R$ 177 para R$ 396 |
Juazeiro do Norte (CE) e São Paulo (SP) | 122% | De R$ 418 para R$ 927 |
Brasília (DF) e Porto Alegre (RS) | 122% | De R$ 411 para R$ 912 |
Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP) | 120% | De R$ 197 para R$ 433 |
Rio de Janeiro (RJ) e Aracaju (SE) | 87% | De R$ 335 para R$ 626 |
Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) | 71% | De R$ 352 para R$ 601 |
Ao compararmos os valores médios praticados pelas companhias do ano passado para cá, é possível verificar que, da amostragem utilizada, 85% das rotas apresentaram aumento de preço médio no período: em 2019, as passagens nas rotas analisadas ficaram de 11% a 185% mais caras.
Em 22% dos casos o aumento foi de mais de 100% no valor praticado. Ou seja: essas passagens custaram em média, em 2019, mais do que o dobro do que custavam em 2018.
As rotas mais afetadas são as que envolvem o Sul e o Nordeste, regiões para as quais as passagens já costumam ser mais caras. O aumento também impactou os voos que partem do Rio de Janeiro e Brasília.
As rotas para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, por exemplo, foram afetadas significativamente em voos com origem no Nordeste, no Sudeste e em Brasília. O aumento registrado ficou entre 40%, no preço médio dos voos de Belo Horizonte para Porto Alegre, e 180%, no preço médio dos voos do Rio de Janeiro para a capital gaúcha.
As rotas entre Salvador e Belo Horizonte passaram a custar 136% mais e entre Salvador e São Paulo, o preço médio subiu 153%. Já viajar entre Florianópolis e Rio de Janeiro ficou 126% mais caro, enquanto entre Florianópolis e a também catarinense Chapecó custa 130% mais.
"As rotas que mais sofrem acabam sendo as que possuem menos oferta de voos e que são operadas por menos companhias, como Chapecó. Sem a Avianca servindo o interior, a competição pelo bom preço fica prejudicada", aponta o diretor do Viajala.
O mesmo acontece com Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro do Norte, no Ceará, que recebem voos nacionais de apenas três companhias: Avianca, Azul e Gol. A rota entre Petrolina e Recife ficou 185% mais cara. Já o preço médio da passagem de Juazeiro para São Paulo subiu 122%.