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Crise chinesa não é o começo do fim, diz mega-investidor Mark Mobius

Em entrevista exclusiva a EXAME, o mega-investidor minimizou os efeitos da queda da Bolsa de Xangai sobre os demais mercados

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

O mega-investidor Mark Mobius, presidente de fundos voltados para mercados emergentes da gestora de recursos Franklin Templeton, acredita que a atual crise nos mercados mundiais não é indicativa do começo do fim da festa. "É apenas um ajuste técnico. Em maio último houve outro bom ajuste, de cerca de 20%. Isso é bom para o mercado em geral, pois assusta os fracos e lembra a todos que as coisas não duram para sempre", disse Mobius em entrevista a EXAME, no fim da tarde de quinta-feira (1/3), no Rio de Janeiro.

Para Mobius, não há uma relação direta entre o mercado chinês que provocou a crise - a bolsa "A" de Xangai - com os demais mercados ao redor do mundo. "Ele é restrito a investidores domésticos e alguns poucos investidores institucionais estrangeiros que concordam em manter os recursos na China pelo prazo mínimo de um ano. Assim, o que houve foi mais um ajuste interno, embora muito extenso e forte", avaliou, lembrando que a relação preço/lucro média das ações nesta bolsa chinesa está em torno de 40x, contra apenas 14x em mercados mais desenvolvidos. "Só por isso já havia grande possibilidade de que a bolsa chinesa caísse. Ela não é reflexo de outros mercados, que já estão razoavelmente precificados. O efeito dominó que observamos foi mais uma reação dos investidores alavancados, como fundos de hedge, que preocupados com a queda em um mercado iniciam um movimento de venda em outros. Não creio que isso seja indicativo de uma crise maior", acrescentou.

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Segundo Mobius, o reflexo da queda chinesa na Bolsa de São Paulo, que teve na terça-feira (27 de fevereiro) o maior recuo desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, foi mais devido ao histórico de volatilidade do mercado nacional e à correlação e arbitragem que os investidores estrangeiros ainda fazem entre os diferentes mercados emergentes.

Mercado pequeno

"O mercado acionário chinês é relativamente novo e imaturo. O número de investidores é limitado e há muita especulação. Não há no mercado um verdadeiro reflexo da economia chinesa". Além disso, considera o mega-investidor, o mercado chinês que desencadeou a onda de quedas mundo afora "não tem muita importância". Tanto que seus fundos nem investem lá. Segundo Mobius, o que caiu foi o mercado "A". Já o mercado "B" de Xangai "é muito pequeno" para ser levado em consideração. Mobius investe em empresas chinesas na Bolsa de Hong Kong. Nesse território está o chamado mercado "H", de empresas chinesas também listadas no mercado "A", mas sem possibilidade de intercambiar posições, e as "red chips", empresas chinesas registradas e listadas apenas em Hong Kong. "Esses mercados é que são o verdadeiro caminho para a China", afirma Mobius, que tem cerca de 2 bilhões de dólares investidos em papéis de empresas chinesas.

O mega-investidor americano, que, ao lado de George Soros, é um dos maiores players globais (leia reportagem sobre a ascensão de Mobius), diz que o mercado chinês tem suas peculiaridades. Segundo Mobius, a primeira e mais marcante é a grande diferença de preços encontrada para as mesmas ações entre os mercados "A" e "H". Mas, como as posições não são intercambiáveis, não é possível fazer arbitragem entre esses valores. Outra é o já mencionado alto nível de especulação que esses mercados têm, fomentada ainda pelos fundos de hedge e mútuos. Por último, aponta, há o próprio isolamento dos mercados chineses. De qualquer forma, ele procura manter lá a mesma filosofia que usa em outros mercados emergentes: foco em ações de empresas ligadas aos setores de consumo e de commodities. "Já fazemos isso há algum tempo".

Apesar dessas características únicas, uma recuperação mais lenta do ânimo nas bolsas chinesas pode seguir afetando os mercados ao redor do mundo. "Quando há um movimento rápido de queda assim, a recuperação também costuma ser rápida. Mas, se o mercado chinês continuar a cair, as pessoas serão encorajadas a agir com cautela. Desta forma, recuperação pode demorar um pouco mais. E é preciso lembrar que oscilações de 5% ou 8% não são muito em se falando do mercado chinês, que já teve ganhos de 20% em apenas uma semana".

Brasil

Quanto ao baixo crescimento da economia brasileira na comparação com outros países do mundo nos últimos anos, o diagnóstico de Mobius não é muito diferente de outros investidores estrangeiros. Segundo ele, mais do que os juros altos, é o baixo nível de poupança da economia nacional que freia a expansão. "Se há esse tipo de deficiência, a saída é convidar os investidores estrangeiros. Mas nesse ponto o clima para negócios não é bom, com muitas regulamentações, burocracia e corrupção. E ainda há a questão da carga tributária, muito grande para encorajar esses investidores", considerou.

No lado positivo, porém, Mobius destaca o crescente amadurecimento do mercado de capitais brasileiro. Segundo ele, são sinais inequívocos disso a recente oferta hostil da Sadia pelo controle da rival Perdigão, a primeira do tipo na história do mercado nacional, a pulverização do controle da Embraer e a derrota dos controladores da Telemar na proposta de unificar todas ações da empresa em uma única classe, o que acarretaria em uma perda de valor para quem detém ações preferenciais. "Os reguladores estão dando mais atenção aos minoritários , e a introdução do Novo Mercado também foi muito importante. São todos sinais de que mercado brasileiro está amadurecendo", avaliou. No caso da Telemar, há até um fato interessante: enquanto os fundos administrados por Mobius votaram contra a unificação, os da matriz Franklin Templeton votaram a favor. De acordo com Mobius, os gestores de lá, sem grande experiência com as peculiaridades dos mercados emergentes, estavam até dispostos a abrir mão de um pouco do valor de seus investimentos em troca de uma estrutura acionária mais simples. Ele, no entanto, não aceitava perder nenhum valor com a transação.

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