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Controle acionário da Perdigão agora está no mercado

Empresa é a terceira brasileira a pulverizar o controle acionário no mercado de ações em menos de um ano. Modelo de companhia "difusa" permite maior liquidez às ações

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Desde as 10 horas da manhã desta quarta-feira (12/4), a Perdigão deixou de ter dono. Ou melhor, passou a ter milhares deles. A empresa é mais nova a ter seu controle acionário pulverizado no mercado de ações, a terceira em menos de um ano. O modelo de companhia "difusa", já comum nos Estados Unidos, começa a ganhar contornos mais definidos no mercado brasileiro.

No caso da Perdigão, a transformação de todas as ações preferenciais em ordinárias (com direito a voto) foi acompanhada pelo desdobramento dos papéis na proporção de um para três. Para isso, ficou valendo o valor da ação no fechamento de ontem (11/4), de 75 reais. Dessa forma, quem tinha uma ação da Perdigão passa a ter três, cada uma sendo cotada a 25 reais no início do pregão de hoje. A empresa também estreou nesta quarta-feira no Novo Mercado da Bovespa.

"As mudanças vão atrair não apenas o investidor pessoa física, em função do valor mais em conta das ações, como também o investidor estrangeiro, interessado em companhias que respeitam as regras de governança corporativa", disse o diretor-presidente da Perdigão, Nildemar Secches. Mais da metade do capital da Perdigão (54,57%) estava nas mãos de controladores, todos fundos de pensão.

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Tantos os analistas que estudam diariamente essas empresas, como os advogados especializados em direito societário, afirmam: o novo modelo trará maior visibilidade e transparência. São as vantagens da governança corporativa, que tanto atraem os investidores estrangeiros. Mas eles não são os únicos beneficiados. Ganham também os atuais controladores, que no momento da troca das ações preferenciais por ordinárias ganham prêmios bastante interessantes. No caso da Perdigão, esse extra foi de 35% sobe o valor médio da cotação dos últimos 90 dias.

"E não é apenas o prêmio. A pulverização deixa o controlador mais livre dentro da companhia. Ele não precisa mais vender sua participação em bloco, como até então. Esse modelo permite que os controladores, agora com ações ordinárias em mãos, vendam na quantidade que quiserem, e sobretudo no momento que acharem melhor", diz José Ricardo Sasseron, presidente da Associação Nacional dos Fundos de Pensão (Anapar) e membro do conselho deliberativo da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil).

Os fundos do pensão estão entre os principais controladores de empresas brasileiras. A Perdigão é um exemplo. Entre os acionistas majoritários estão a Petros (Petrobras), Valia (Vale do Rio Doce), Sistel (diversas empresas do setor telefônico) e a própria Previ. A saída desse grupo do controle acionário da Perdigão será vantajoso não apenas para esses investidores, como também para a própria empresa. Isso porque, pela lei, os fundos de pensão podem ter, no máximo, 20% do capital de uma única empresa. Ao mesmo tempo em que protege o participante do fundo, a regra acaba engessando possíveis investimentos por parte desses grupos.

Para Marcello Milman, analista da BES Securities, tanto a pulverização das ações como a entrada no Novo Mercado trarão maior liquidez aos papéis da Perdigão. "Acredito que a companhia aumentará as chances de entrar no Ibovespa [índice das ações mais negociadas na Bolsa]", diz o analista.

Os perigos da pulverização

O advogado Henrique Lang, do escritório Pinheiro Neto, diz que o modelo de ações pulverizadas não traz apenas vantagens para a companhia. "A empresa não fica 100% blindada a problemas com acionistas", diz. Ele lembra que as grandes fraudes em empresas americanas aconteceram justamente em companhias "sem dono". "No modelo tradicional brasileiro, com controladores definidos, o administrador da companhia sabe a quem se reportar", diz Lang.

Em sua opinião, o Brasil tem uma grande vantagem: ter aprendido com os erros dos americanos, como no caso da Enron. "Nossos investidores estão mais descolados", afirma. Lang compara a empresa difusa a uma assembléia de um clube. "Muitos sócios nunca aparecem nas reuniões que elegem seus representantes. O mesmo acontece com acionistas minoritários. Eles têm de ser ativos, comparecer às assembléias, para evitar a má gestão da companhia", diz.

De forma geral, o perigo é pequeno frente as vantagens que as empresas de capital pulverizado oferecem aos acionistas. O advogado João Ricardo de Azevedo Ribeiro, do escritório Mattos Filho, vê esse modelo de forma positiva. "Tudo passa a ser mais atraente aos olhos dos investidores", diz o advogado.

Planos e gripe aviária

Quando o assunto é a gripe aviária, o presidente da Perdigão acredita que o pior já passou. "Março foi o fundo dopoço", diz o executivo, referindo-se à depreciação dos preços do frango no varejo, que chegou a vender o produto a 1 real o quilo. No entanto, os volumes ainda devem ser prejudicados, sobretudo para o exterior.

Apesar da crise, Secches tem uma visão mais otimista do que a apresentada atualmente por bancos de investimento. "As vendas para a Europa caíram 20% no ano passado, mas esse número deve fechar em 5% se avaliado o ano inteiro", diz o executivo. De certa forma, a Perdigão quer tirar proveito do mau momento. Com as vendas em queda, pequenos fornecedores em todo o mundo não suportarão a crise, e muitos provavelmente fecharão as portas. Na visão da Secches, diversas portas deverão se abrir para a Perdigão, que não descarta, inclusive, a compra de pequenas empresas européias.

"Essas e outras possibilidades estão sendo consideradas. O importante é estarmos preparados para quando as vendas voltarem ao normal", diz Secches. Segundo ele, isso deve acontecer já no próximo semestre.

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