Como financiar barcos, veículos ou imóveis de mais de R$ 1 milhão
Num Brasil em forte expansão, o crédito bancário tem avançado também no mercado de luxo
Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2010 às 10h00.
São Paulo - Foi-se o tempo em que financiamento era apenas para produtos de valor baixo para pessoas com um belo patrimônio para garantir o empréstimo. Hoje em dia não são poucos os itens de mais de 1 milhão de reais que permitem parcelamentos longos a juros de mercado para quem não quer desembolsar uma grande quantia de uma só vez. Além de carros, imóveis e até barcos entram nessa lista e garantem o sonho de consumo de muita gente.
Quem já conseguiu formar um patrimônio e quer partir para itens mais caros e - por que não, supérfluos - já consegue financiar barcos e imóveis de milionário. No setor náutico, por exemplo, os financiamentos de barcos atualmente podem ser feitos em até 60 meses, a juros em torno de 2% ao mês, semelhante aos financiamentos de carros. Essa modalidade de crédito direto ao consumidor não é exatamente nova, mas vem se popularizando.
"As revendas passaram a usar essa ferramenta como atrativo, o que aumentou o valor médio das vendas. Quem antes só poderia comprar um barco de 60.000 reais, com financiamento pode tentar um de 100.000", diz André Novaes, superintendente da Aymoré, financeira do Grupo Santander líder em crédito para embarcações.
Essa facilidade é particularmente popular entre os consumidores de lanchas pequenas, que custam entre 50.000 e 300.000 reais. Na Aymoré, esses barcos representam mais de 50% do volume de crédito concedido no segmento náutico. Prova disso são as condições de pagamento de estaleiros especializados nesse tipo de produto. No carioca Coral, com 50% de entrada é possível parcelar o restante em 19 vezes sem juros. Já no Atlântica Boats, é possível parcelar a compra em até 24 vezes sem juros.
Mas mesmo iates de luxo podem ser financiados. "Nós não temos preconceito contra os barcos mais caros. Já financiamos iates de 6 ou 7 milhões de reais", afirma Novaes. O executivo explica ainda que esse tipo de cliente pode, inclusive, conseguir uma taxa de juros melhor pois normalmente tem outro tipo de relacionamento com o banco.
Imóveis de luxo
Mais recente que os financiamentos de embarcações, o crédito para imóveis de alto padrão tornou-se uma tendência apenas de cerca de dois anos para cá. Imobiliárias especializadas em casas e apartamentos milionários já firmaram parcerias com financeiras de grandes bancos e conseguem financiar até 80% de um imóvel de mais de 1 milhão de reais, no prazo de 30 anos e a juros semelhantes aos do segmento de médio padrão.
Na Coelho da Fonseca, parceira do Itaú, a taxa de juros fica em torno de 10,5% ao ano. Habituada a financiar imóveis de valores entre 1 e 4 milhões de reais, a imobiliária já chegou a financiar um apartamento de 16 milhões para um alto executivo do setor financeiro. Mas para conseguir um crédito como esse, é preciso ter um avalista. "O banco analisam os pais do mutuário, para que eles complementem o crédito do filho", diz Fernando Sita, diretor geral de terceiros da imobiliária.
Outra especializada no crédito de imóveis de alto padrão é a Sotheby's, que, no Brasil, tem uma parceria com o Santander. Os imóveis financiados pela imobiliária britânica ficam na faixa de 2,5 a 3 milhões de reais, mas o mais caro já financiado até hoje custou nada menos que 26 milhões de reais.
Classe média em ascensão
Uma das ferramentas que possibilitou o financiamento de produtos mais caros ou supérfluos foi a alienação fiduciária. Ou seja, tanto para imóveis quanto para embarcações, a garantia é o próprio produto financiado. É em grande parte por isso que as condições - prazo, entrada, juros e prazo de análise de crédito - são semelhantes às dos produtos mais baratos.
Mas quem financia artigos tão caros? Segundo executivos que atuam nesses setores, não existe um perfil único de mutuário. Normalmente são profissionais liberais, empresários de todos os portes e executivos que já se estabeleceram profissionalmente e estão na faixa dos 35 aos 45 anos. É um público que busca produtos melhores ou novos investimentos (caso do setor imobiliário) sem precisar desembolsar todo aquele dinheiro de uma vez, deslocando-o de suas outras aplicações. "No caso das embarcações, são pessoas de classe média alta, que poderiam comprar um terceiro carro", exemplifica André Novaes, da Aymoré.