Como a subida dos juros afeta o seu investimento
Escalada de meio ponto na Selic e expectativa de novos ajustes daqui para frente tornam Tesouro Direto e fundos DI mais vantajosos que a tradicional caderneta de poupança
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 11h48.
São Paulo – Sem despertar surpresas, o Banco Central subiu a taxa básica de juros de 10,75% para 11,25% na primeira reunião do Copom do governo Dilma Rousseff. Esperado em consenso pelo mercado e considerado tardio por alguns, o início do aperto monetário acende o alerta para o investidor reavaliar suas aplicações em busca de retornos mais lucrativos.
Tradicionalmente, o aumento da Selic é utilizado para arrefecer a demanda aquecida, evitando um crescimento econômico insustentável. “É preciso cortar a bebida antes que todo mundo comece a brigar na festa”, resume o economista Roberto Luis Troster. Em consonância com a lei da oferta e da procura, os preços sobem quando as pessoas estão dispostas a comprar e, mais do que isso, contam com artifícios flexíveis para encher o carrinho.
Juros mais altos inibem esse movimento, já que tomar crédito fica mais difícil tanto por parte das empresas, quanto por parte dos consumidores. Subi-los, portanto, é o objetivo do governo, que viu a inflação se distanciar do centro da meta de 4,5%, fechando 2010 em 5,9%.
Para o investidor, a conseqüência mais imediata é a perda de atratividade da poupança. Apesar de ser livre de imposto de renda, a caderneta passa a entregar retornos menos interessantes quando comparados ao de aplicações atreladas à taxa básica de juros. É o caso dos fundos DI e das Letras Financeiras do Tesouro, títulos da dívida pública que acompanham a Selic.
Segundo o professor de finanças do Insper Ricardo Almeida, vale a pena apostar na migração, especialmente porque a expectativa é que os juros continuem a subir nas próximas reuniões do Copom. No caso dos fundos DI, uma taxa de administração menor do que 2,5% já garante uma rentabilidade mais vantajosa que a da poupança.
Para Almeida, comprar título público via Tesouro Direto só deve ser considerado se o dinheiro ficar parado por mais de um ano. Como a corretora ou banco cobra um percentual fixo sobre o aporte inicial, é preciso segurar o papel por mais tempo para diluir esse custo. "No fundo DI a taxa de administração é descontada diariamente. Então se você entrar agora e sair daqui a três meses, só vai arcar com o encargo referente a esse período", explica o professor.
Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) apontam que a taxa de administração média dos fundos DI é de 0,92%. No Tesouro Direto, ela engloba uma alíquota de 0,3% ao ano debitada semestralmente pela BM&FBovespa, além de duas obrigações de cobrança imediata sobre o valor da operação: taxa de negociação de 0,1% e taxa de administração do agente de custódia, que varia de zero a 1% ao ano, dependendo da instituição escolhida pelo investidor para operar no mercado.
"Quem optar por investir nos títulos diretamente tem que buscar corretoras independentes ao invés de grandes bancos", defende Ricardo Almeida. "É lá que a aplicação se torna mais rentável, já que as grandes instituições financeiras acabam jogando a taxa para cima, justamente por oferecerem os fundos como produto principal", completa.
Há de se ressaltar que ao contrário do que acontece com a poupança, que é isenta, a incidência de IR pode corroer a rentabilidade dessas aplicações. A alíquota do imposto é tanto mais alta quanto menor for o prazo da aplicação. Quem fizer o resgate em menos de seis meses, irá arcar com uma mordida de 22,5% sobre os lucros. Se a expectativa for de sacar o dinheiro com menos de um mês, o investidor também pagará IOF, fazendo com que o rendimento obtido possa ser completamente anulado.
Mercado de ações
Em linhas gerais, a bolsa apresenta um apelo inversamente proporcional ao dos juros. A renda fixa torna-se mais atraente quando a Selic sobe, já que a remuneração engorda, mas o grau de segurança mantém-se alto. Afinal de contas, é o governo que está por trás do pagamento dos títulos. Comparativamente, investir em ações implica correr mais riscos em troca de retornos que não são garantidos.
Ainda assim, o consultor econômico da WinTrade José Góes acredita que os papéis das empresas listadas não devem ser penalizados, vez que o mercado se antecipou a esse movimento ainda no ano passado. "Os contratos futuros contaram com uma subida dessa magnitude. É só reparar que apesar da expansão econômica e da melhora nos lucros apresentados por muitas empresas, a bolsa precificou essa expectativa e cresceu pouco em 2010", diz.
O desempenho das construtoras, na opinião de Góes, traça um retrato dessa dinâmica. "Essas empresas caíram quando começou a especulação sobre a volta do aperto monetário por serem altamente dependentes da concessão de crédito, que é influenciada pelo aumento dos juros", emenda.
Hugo Azevedo, estrategista do Santander, afirma que a alta de 1,5 ponto sinalizada no último boletim Focus para o ano não deverá ser suficiente para trazer a inflação para mais perto da meta. Com isso, os setores imobiliário e de consumo cíclico doméstico devem ser os mais afetados com novos ajustes na Selic. O movimento, contudo, será gradual, já que cada mudança de juros leva em média nove meses para impactar o varejo.
“Empresas com alta necessidade de capital de giro e com níveis de alavancagem acima da média também devem ter seus balanços desfavorecidos independente do setor em que se encontram”, sustenta Azevedo. Invertida a mesma lógica, companhias com fluxo de caixa elevado poderão se beneficiar. É o que acontece com os bancos. "Com grande estoque de títulos públicos, essas instituições conseguem uma rentabilidade maior nestes papéis", explica Góes, da WinTrade.
Ainda assim, o consultor defende que pelo menos por ora, o investidor de longo prazo não deve se preocupar com mudanças imediatas no portfólio. “Se a inflação não diminuir, pode até ser que a bolsa patine no curto prazo”, afirma. "Mas quando o BC interromper a trajetória de alta dos juros, haverá espaço para as ações subirem, embaladas também pelo ajuste fiscal do governo e pelo bom momento vivido pelo Brasil."
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