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Como a briga entre etanol e gasolina afeta o seu bolso

Etanol voltou a ficar vantajoso na maior parte do país; entenda por que os preços mudam rápido e saiba como economizar

Álcool é mais vantajoso que etanol em 16 estados do Brasil na primeira quinzena de junho (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2011 às 09h24.

São Paulo - Quando o aumento no preço de um produto limita-se a casa dos centavos, o dano ao bolso do consumidor costuma passar despercebido. Não é o que acontece nos postos de gasolina, onde as alterações decimais impressionam até os motoristas mais incautos.

“Temos uma vasta dependência das vias rodoviária, tanto para transporte de produtos quanto de pessoas”, afirma o economista Roberto Piscitelli. “Qualquer mudança afeta o humor da população, já que os combustíveis têm grande influência na formação dos custos da nossa produção e no orçamento das famílias”, acrescenta.

Com a popularização dos carros flex, o brasileiro acostumou-se a fazer as contas na busca pela escolha mais econômica. Isso acontece porque com a mesma quantidade de combustívul, um veículo a álcool pode rodar até 30% a menos que o exato modelo movido a gasolina. Logo, o etanol precisa ser 30% mais barato para ganhar vantagem. A conta é simples: basta dividir o custo do etanol pelo da gasolina. Se o resultado for menor que 0,7 (70%), o etanol será sempre a melhor opção.

Na primeira semana de junho, foi o que aconteceu em 16 dos 26 estados brasileiros e Distrito Federal, conforme aponta o IPTC (Índice de Preços Ticket Car). O levantamento leva em conta os preços praticados em mais de dez mil postos no país. Em média, o valor do litro do etanol foi de 1,89 real, contra 2,77 da gasolina.

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De qualquer forma, a disparidade regional é grande e a análise isolada desses valores pode gerar conclusões precipitadas. Na Bahia, por exemplo, a gasolina foi encontrada ao preço médio de 2,86 reais – o mais caro do Brasil. Ainda assim, ela bateu o etanol no quesito economia, com o derivado da cana cotado ao preço médio de 2,04 reais.

Na hora de encher o tanque, é a relação entre o preço dos dois combustíveis, portanto, que cumpre o papel de fiel da balança na escolha do melhor custo benefício. Mas no embate entre gasolina e etanol, é bom lembrar que os vencedores se alternam em questão de dias.

Prova disso é que no início do ano, época de entressafra da cana, a situação era exatamente inversa. Na primeira quinzena de fevereiro, o álcool só era vantajoso no Mato Grosso do Sul. Nesse período, o preço médio do combustível chegou a impressionantes 2,07 reais por litro na média nacional.


Tamanha volatilidade se assenta na possibilidade dos produtores de cana-de-açúcar poderem optar tanto pelo açúcar quanto pelo álcool a partir de uma mesma matéria prima. Por isso, quando o valor do açúcar encontra-se valorizado no mercado internacional, os usineiros aproveitam o bom momento para ganhar com ele.

“Com estoques muito reduzidos e a perspectiva de atraso no início da safra brasileira, o preço do açúcar chegou a patamares de 45 centavos de dólar por libra peso em fevereiro”, lembra Plínio Nastari, presidente da consultoria de etanol e açúcar Datagro. Hoje esse valor orbita em torno de 27 centavos de dólar.

Na opinião de Nastari, o consumidor continuará observando oscilações bruscas enquanto não houver uma correlação maior entre os preços do etanol e do açúcar. Apesar de reconhecer que esta situação reforça a dependência da gasolina ante a possibilidade de consolidar o etanol – “nacional e renovável” – como principal combustível, ele é contra uma intervenção mais dura do governo no setor. “O exercício da liberdade de escolha do produto mais rentável é que vai dar longevidade e sustentabilidade para os investimentos. Do ponto de vista econômico, o ideal é que a produção de açúcar e álcool gere o maior valor possível para o país, permitindo a expansão da produção de cana e da capacidade industrial.”

O economista Roberto Piscitelli discorda. “Como a cana é um produto sazonal, o governo deveria exigir uma contrapartida que não tem sido dada pelos produtores, formando estoques reguladores para evitar essas variações”, diz. “Afinal de contas, houve um estímulo à produção e utilização de carros flex e o modelo de hoje só beneficia o lado mais selvagem do capitalismo.”

Segundo estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o etanol irá de fato perder terreno este ano. Enquanto a produção total da cana-de-açúcar deve crescer 2,9%, o percentual dedicado ao açúcar sofrerá um aumento mais de duas vezes superior a este percentual, passando de 38,1 milhões para 40,9 milhões de toneladas. Se as previsões se confirmarem, a cana destinada à produção de açúcar abocanhará 48,1% do total destinado à moagem nesta safra.

Para Antonio Rodrigues, diretor técnico da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), é preciso ajustar o descompasso entre a redução da oferta de etanol e o aumento de carros flex nas ruas. E o setor privado está interessado na discussão.“Para nós é difícil trabalhar sem uma encomenda, sem uma previsibilidade ou demanda firme”, sustenta. “Se você quer um combustível que é agrícola, a melhor forma de garantir a oferta é que haja contrato. Nenhum produtor rasga um contrato de açúcar", emenda.


Enquanto novas formas de regulação não são implementadas, o consumidor continua à mercê das flutuações do combustível, que também afetam o valor da gasolina nas bombas. Isso acontece porque além do álcool hidratado (etanol), as usinas também produzem álcool anidro, que é misturado à gasolina em um percentual definido pelo governo. A alíquota, hoje na proporção de 25%, é apenas uma das ferramentas utilizadas para amenizar as alterações nos preços e evitar uma pressão maior sobre a inflação.

Apesar de não ter ingerência direta sobre a formação do preço da gasolina – que também sofre acréscimos referentes à distribuição e revenda – o governo, como acionista majoritário da Petrobras, tem participação na exploração e produção de petróleo, podendo ou não repassar o aumento no preço da commodity ao combustível derivado do óleo. Na outra ponta, a interferência também se dá pela cobrança de tributos federais e estaduais.

Alternativa
Para os que procuram fugir dos preços altos, fica a opção de usar o gás natural veicular, mais conhecido por GNV. Atualmente, o preço do metro cúbico já chega bem perto do etanol: 1,70 do GNV contra 1,89 do litro do álcool na média nacional apurada pela Ticket Car. Ainda assim, quem roda muitos quilômetros por dia deverá economizar com a conversão.

Um carro 1.0 com capacidade de andar 10 km/l com gasolina, fará cerca de 13km/m³ com GNV e 6,5 km/l com etanol. Nessas condições, quem percorre 50 quilômetros por dia, terminará o mês desembolsando196 reais com o GNV, valor bem modesto quando comparado aos 415 reais demandados pelo carro a gasolina ou aos 436 reais pelo veículo a etanol rodando nessas mesmas condições. Além disso, automóveis movidos a gás ganham desconto no IPTU em alguns estados. No Rio de Janeiro, o abatimento chega a 75%.

Contudo, o preço de instalação do kit deve ser levado em conta por quem se entusiasmar com a possibilidade. Os cilindros do gás ocupam espaço no porta-malas, podem contribuir para a desvalorização do veículo na revenda e não saem por menos de 2.000 reais.

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