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Cemig lidera queda da Bovespa após anúncio de compra da Terna

Preço pago pela companhia e dúvidas sobre como a aquisição será financiada pesam sobre os papéis da Cemig

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O mercado não recebeu bem a aquisição da Terna pela Cemig, fechada na madrugada desta sexta-feira (24/4). Há dúvidas sobre como a companhia mineira vai financiar a compra. Além disso, parte dos analistas avalia que o preço pago pela Terna foi elevado. O descontentamento dos investidores é expresso pela forte queda dos papéis da Cemig neste pregão.

Por volta das 12h45, as ações preferenciais da empresa (CMIG4, sem direito a voto) recuavam 3,70%, cotados a 32,81 reais - a maior queda da sessão. No mesmo instante, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, operava em alta de 1,76%, a 46.608 pontos. Já as units da Terna Participações (TRNA11, composta por duas ações preferenciais e uma ordinária), que serviram de base para o negócio, disparavam 16,80%, cotadas a 36,85 reais.

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O valor oferecido pela Cemig aos italianos da Terna SPA, atuais controladores da transmissora de energia brasileira, é de 40,29 reais por unit. Isso equivale a um prêmio de 27,7% sobre os 31,55 reais com que os papéis fecharam a quinta-feira (23/4).

O preço que a Cemig pagará foi considerado alto por alguns analistas. Em relatório reproduzido pela agência de notícias Bloomberg, a corretora Raymond James & Associates declara apoiar a transação, mas afirma que sua primeira impressão é de que o valor da compra foi muito elevado. A Cemig pagará à italiana Terna SPA, atual controladora da companhia, 2,330 bilhões de reais por 65,86% do capital total.

Mas o montante final da transação será maior. A Terna Participações é listada no Nível 2 da Bovespa. Por isso, em casos de mudança de controle, os acionistas minoritários têm direito a tag along - a possibilidade de vender seus papéis pelas mesmas condições dos majoritários. No caso do Nível 2, a Bovespa exige tag along de 100% para as ações ordinárias e de 80% para as preferenciais.

A corretora Socopa avalia que o exercício do tag along pelos minoritários pode gerar um dispêndio adicional de até 1,21 bilhão de reais. Com isso, a transação pode alcançar um valor total de até 3,54 bilhões de reais. Este é o mesmo valor estimado pela Raymond James & Associates, para a qual isso significa um múltiplo de 13 vezes o Ebitda da Terna - algo bem acima das recentes transações do setor elétrico, segundo a corretora.

Financiamento

A Cemig realizou, na manhã desta sexta-feira, uma teleconferência com analistas para explicar a operação. A principal dúvida do mercado, porém, permaneceu em aberto: como a companhia mineira financiará a compra? De concreto, a direção da empresa descartou duas opções: a emissão de ações e um aporte de capital do governo mineiro, seu controlador. "Há algumas estruturas de financiamento que nos agradam, mas nenhuma delas passa por emissão de ações", afirmou o presidente da companhia, Djalma Bastos de Morais. "Isso não faz parte dos nossos planos, nem de nosso controlador". Em outro momento, enfatizou que o governo mineiro não injetará capital. "Não passou por nós a idéia de chamar nosso majoritário".

Segundo Morais, a estrutura de financiamento será divulgada quando for fechada. Mas ele adiantou que parte da operação será bancada com recursos de caixa. Em 31 de dezembro, o caixa da empresa, apurado pelo ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), somava 4,099 bilhões de reais. A Terna contava com um ebitda de 564 milhões. De acordo com o diretor financeiro e de Relações com Investidores, Luiz Fernando Rolla, a intenção é usar apenas parte do caixa na operação. O restante da aquisição será bancado com recursos de mercado.

Outra preocupação dos analistas é a saúde financeira da Cemig, após a compra. Um dos indicadores que chamaram a atenção, na teleconferência, foi o de dívida líquida dividido pela capitalização, que mostra a relação entre quanto a empresa deve e o seu capital. Em 31 de dezembro, esse indicador era de 35,1% para a Cemig. Após a compra da Terna, subirá para 51,6% - acima do limite de 50% estabelecido pelo conselho de administração da empresa mineira.

Segundo José Carlos de Mattos, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Cemig, os indicadores financeiros da Cemig não serão preocupantes, porque os ganhos de sinergia com a aquisição os trarão novamente aos parâmetros normais. Mattos também destacou que a Taxa Interna de Retorno (TIR) do negócio, no cenário básico, foi estimada em 10,6% ao ano. Com sinergias e amortizações de ágio, poderia passar de 12% ao ano. Os executivos informaram, ainda, que o desempenho pode ser melhor, porque as projeções não incorporam eventuais ganhos que podem ser obtidos na negociação dos contratos de financiamento da compra. Segundo a empresa, o retorno médio das empresas do setor é de 9%.

Ampliando o leque

A Terna Participações é uma holding que controla empresas de transmissão de energia em 11 estados. O grupo possui 3.753 quilômetros de rede, o que elevará a malha da Cemig para 9.508 quilômetros. O negócio ampliará a fatia da empresa mineira no ramo de transmissão. Atualmente, a Cemig detém 5,4% desse setor no Brasil. Com a Terna, passará para 12,6%.

Segundo Mattos, avançar no ramo de transmissão traz algumas vantagens. A primeira é que o setor apresenta poucos riscos regulatórios. Outra é que o fluxo de caixa das transmissoras é mais estável. "Compramos um ativo bem implantado em uma área de consumo significativa e em outras áreas em expansão, como o Centro-Oeste", afirmou o executivo.

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