Bancos estão subutilizados, diz Ibrahim Eris
Os bancos emprestam pouco às empresas porque não conseguem oferecer empresas linhas de financiamento com taxas de juros mais baixas e prazos mais longos. Essa é a avaliação do consultor e ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris. Para ele, a raiz do problema é a herança inflacionária do país. Leia abaixo os principais trechos da […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Os bancos emprestam pouco às empresas porque não conseguem oferecer empresas linhas de financiamento com taxas de juros mais baixas e prazos mais longos. Essa é a avaliação do consultor e ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris. Para ele, a raiz do problema é a herança inflacionária do país. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à EXAME:
Por que as empresas brasileiras não conseguem capital de giro para se financiar?
A herança inflacionária ocasionou algumas peculiaridades no mercado de crédito brasileiro. A principal razão é a de que o combate à inflação exigiu inúmeras tentativas e, em algumas delas, houve quebras de contrato, mudança de regras etc. Isso gerou muita incerteza, especialmente para os bancos, que passaram a operar quase que exclusivamente no curto prazo e com juros elevadíssimos para compensar o risco.
Agora, estamos numa nova fase, mas a mudança não é imediata, porque existe essa herança maldita. Além disso, temos o problema do sistema judiciário, que é lento, não favorece a execução das garantias atreladas aos empréstimos. Isso só vai mudar com o tempo e com o cumprimento rigoroso dos contratos.
Por isso, muitas empresas decidiram se autofinanciar.
Exatamente. A experiência de longos períodos de juros elevados e prazos curtos levou as empresas a criar estratégias. Tomar empréstimos a juros altíssimos e prazos muitos curtos não é tolerável, isso pode destruir negócios. Na verdade, isso destruiu muitos negócios. Diversas empresas nacionais, especialmente as do setor de autopeças, que são de pequeno e médio portes, foram vendidas a grandes grupos internacionais, porque quem tem acesso a crédito leva vantagem.
A situação é mais crítica para as pequenas e médias empresas?
Com certeza, porque os grandes têm acesso ao mercado externo e ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. As pequenas e médias empresas estão à venda permanentemente. É uma grande tragédia, porque permitimos a internacionalização num nível muito maior do que seria normal. O empresário nacional está em enorme desvantagem.
Existe uma grande demanda por crédito que não é atendida?
Sem dúvida, o sistema bancário brasileiro está subutilizado. O volume de crédito que poderia ser gerado pelos bancos é muito maior. Isso não quer dizer que os bancos não queiram emprestar, ou não saibam emprestar. Mas, da forma como o sistema está estruturado, ele afasta o cliente. Ninguém quer juros altos e prazos curtos.
Os bancos emprestam pouco às empresas porque não conseguem oferecer empresas linhas de financiamento com taxas de juros mais baixas e prazos mais longos. Essa é a avaliação do consultor e ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris. Para ele, a raiz do problema é a herança inflacionária do país. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à EXAME:
Por que as empresas brasileiras não conseguem capital de giro para se financiar?
A herança inflacionária ocasionou algumas peculiaridades no mercado de crédito brasileiro. A principal razão é a de que o combate à inflação exigiu inúmeras tentativas e, em algumas delas, houve quebras de contrato, mudança de regras etc. Isso gerou muita incerteza, especialmente para os bancos, que passaram a operar quase que exclusivamente no curto prazo e com juros elevadíssimos para compensar o risco.
Agora, estamos numa nova fase, mas a mudança não é imediata, porque existe essa herança maldita. Além disso, temos o problema do sistema judiciário, que é lento, não favorece a execução das garantias atreladas aos empréstimos. Isso só vai mudar com o tempo e com o cumprimento rigoroso dos contratos.
Por isso, muitas empresas decidiram se autofinanciar.
Exatamente. A experiência de longos períodos de juros elevados e prazos curtos levou as empresas a criar estratégias. Tomar empréstimos a juros altíssimos e prazos muitos curtos não é tolerável, isso pode destruir negócios. Na verdade, isso destruiu muitos negócios. Diversas empresas nacionais, especialmente as do setor de autopeças, que são de pequeno e médio portes, foram vendidas a grandes grupos internacionais, porque quem tem acesso a crédito leva vantagem.
A situação é mais crítica para as pequenas e médias empresas?
Com certeza, porque os grandes têm acesso ao mercado externo e ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. As pequenas e médias empresas estão à venda permanentemente. É uma grande tragédia, porque permitimos a internacionalização num nível muito maior do que seria normal. O empresário nacional está em enorme desvantagem.
Existe uma grande demanda por crédito que não é atendida?
Sem dúvida, o sistema bancário brasileiro está subutilizado. O volume de crédito que poderia ser gerado pelos bancos é muito maior. Isso não quer dizer que os bancos não queiram emprestar, ou não saibam emprestar. Mas, da forma como o sistema está estruturado, ele afasta o cliente. Ninguém quer juros altos e prazos curtos.