Ações da TAM voltam a despencar com defeito em avião
Valor de mercado da empresa aérea já caiu R$ 1,116 bilhão com desvalorização acumulada de 19,5% das ações em três pregões após acidente
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Segundo analistas de mercado, se a TAM for responsabilizada pelo acidente, a imagem da empresa ficará bastante desgastada - o que terá reflexos sobre o número de passageiros transportados e os lucros nos próximos meses. Clodoir Gabriel Vieira, analista da corretora Souza Barros, acredita que o valor dos papéis da empresa no curto prazo estará diretamente relacionado aos resultados das investigações. No acidente da Gol ocorrido durante setembro do ano passado, por exemplo, os papéis da empresa caíram no primeiro pregão após a tragédia, mas rapidamente se recuperaram quando ficou claro que a empresa aérea estava isenta de culpa.
Para quem planeja investir pensando no longo prazo, entretanto, as ações da TAM e Gol podem se tornar boas opções. "As empresas estão bem preparadas e há demanda crescente", afirma a analista da Brascan Corretora, Mel Marques Fernandes. Segundo a analista, o acidente deve afugentar passageiros neste primeiro momento, mas boa parte das pessoas não viaja por opção. "Cerca de 70% do fluxo de passageiros nos aeroportos é derivado de negócios, e isso não deve mudar", ressalta. "No longo prazo, os papéis devem trazer bons retornos, já que nenhum país funciona sem transporte aéreo", concorda Vieira, da Souza Barros.
Outro analista, que prefere não se identificar, lembra que as ações da Gol e da TAM já estavam muito baratas quando comparadas às de outras empresas da Bovespa devido à crise nos aeroportos e às limitações de crescimento com os gargalos de infra-estrutura. Esse fator pode limitar a extensão da tendência atual de baixa.
A TAM admitiu na noite de ontem que o avião Airbus A320 que fazia o vôo de Porto Alegre para São Paulo e explodiu após sair da pista de Congonhas tinha um defeito que impedia o funcionamento do reversor direito. O defeito havia sido identificado na sexta-feira da semana passada, mas, segundo a TAM, isso não impedia a continuidade do funcionamento normal da aeronave, já que manuais técnicos da Airbus, aprovados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dão um prazo de dez dias para o conserto.
O reversor faz parte do sistema de frenagem dos aviões durante pousos. Além de utilizar o freio, o piloto aciona esse sistema como forma de aumentar a resistência do ar, o que contribui para desacelerar uma aeronave. Durante entrevista coletiva na última quarta-feira, o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, não fez nenhuma menção a esse defeito do avião
Em entrevista ao Jornal Nacional ontem, o vice-presidente técnico da TAM, Ruy Amparo, afirmou que a ausência do reversor só colocaria em risco o pouso se a pista de Congonhas estivesse com muita água acumulada. Apesar de chover no dia do acidente, ele afirmou que "de maneira nenhuma" o piloto não teria condições de realizar o pouso em segurança na última terça-feira, no momento do acidente.
Amparo admitiu ainda que a mesma aeronave já tinha feito um pouso difícil na segunda-feira no próprio aeroporto de Congonhas. O avião demorou a frear, mas não houve registro de problemas técnicos por parte do piloto, o que indica, segundo ele, que não seria um incidente grave.
O sistema de câmeras do aeroporto de Congonhas mostra na terça-feira que o avião da TAM cruza a pista com uma velocidade bastante elevada antes de colidir com o prédio da área de transporte de cargas da própria empresa. Especialistas em aviação dizem que o piloto teve dificuldades de frear o avião e decidiu arremeter - tentar uma nova decolagem. Aparentemente sem velocidade suficiente para sair do solo, a aeronave acabou se chocando ao prédio com uma velocidade elevada. No acidente, o maior da história da aviação brasileira, mais de 200 pessoas podem ter morrido - 186 estavam a bordo e as demais, no prédio da TAM.
Controladores de vôo dizem que o piloto pousou no lugar correto e não teria passado do ponto de entrar na pista. As câmeras de Congonhas também mostram que a aeronave chegou ao solo numa velocidade bastante alta, mas na trilha correta. Somente no final da pista, há um abrupto deslocamento para a esquerda. A perícia da caixa-preta do avião, essencial para serem determinadas as causas do acidente, será feita nos Estados Unidos e deve ser concluída na próxima semana.