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A volta da caderneta

A poupança passa a render mais que alguns fundos DI, torna-se uma boa opção de aplicação e atrai bilhões de reais dos investidores

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h12.

Investir na caderneta de poupança era algo que nunca havia passado pela cabeça do engenheiro Fernando Souza, de 44 anos, superintendente do Parque da Mônica, um centro de diversões para crianças em São Paulo. Há anos, ele aplica metade de seu patrimônio em ações -- que compra diretamente, por meio de uma corretora -- e a outra metade em fundos conservadores de renda fixa, os fundos DI. Há cerca de dois meses, porém, Souza começou a rever sua estratégia. Com a queda dos juros, que diminuiu o retorno dos fundos DI, ele pensa em migrar para a caderneta os recursos que estão na renda fixa. "Confesso que ainda guardo um ranço da poupança, porque sua rentabilidade sempre foi menor, mas o mercado está mudando", diz. A prova de que Souza não está sozinho nas suas considerações é a enxurrada de dinheiro que está fluindo para a poupança, depois de anos de fuga de recursos. Entre janeiro e julho de 2007, o saldo total dessas contas cresceu de 6,5 bilhões para 12 bilhões de reais, o maior nível desde 1995, segundo o Banco Central.

Movimento impensável até poucos anos atrás, trocar um fundo DI pela poupança passou a fazer sentido em alguns casos. Isso porque a taxa referencial de juro do mercado, a Selic, que remunera os fundos e já foi superior a 20% ao ano, está em 11,25%. Aparentemente, um retorno ao ano de 11,25% ainda é superior ao da poupança, que está em 8%. Mas os fundos cobram taxa de administração e imposto de renda (IR) dos cotistas, enquanto a caderneta é isenta. "Dependendo do valor do imposto e da taxa, o fundo pode render menos que a poupança", diz Rafael Paschoarelli, professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. "O investidor precisa fazer a conta para descobrir qual aplicação vale mais a pena atualmente."

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Como fazer isso? O principal conselho dos especialistas consultados pelo Guia EXAME de Investimentos Pessoais é ficar de olho nas taxas de administração dos fundos. "Hoje, um fundo não pode cobrar mais de 2% ao ano de taxa se quiser ser competitivo", diz o matemático José Dutra Vieira Sobrinho. Por enquanto, fundos que cobram taxas até esse percentual ainda são mais vantajosos que a poupança. Mas isso deve mudar. A maioria dos bancos, corretoras e gestoras de recursos espera que a Selic continue baixando até chegar a 9,5% ao ano no fim de 2008, o que diminuirá a rentabilidade dos fundos DI. Além disso, o governo elevou o retorno da caderneta. Numa resolução divulgada em julho, o Banco Central comunicou a criação de um novo sistema de cálculo da taxa referencial de juros (TR), que compõe o rendimento da poupança. Pelas regras antigas, o retorno da poupança seria de 6,4% ao ano quando os juros chegassem a 9,5%. Agora, na mesma situação, o rendimento anual da caderneta subirá para 7%. Nesse cenário, só ganharão da poupança os fundos que cobrarem taxas menores que 1% ao ano.

Além de prestar atenção nas taxas de administração, os especialistas recomendam que o investidor examine a questão tributária. Se o investidor quer aplicar por um prazo de até seis meses, a atratividade da poupança aumenta. É o que demonstra uma simulação feita pelo Guia EXAME. Um investidor que tenha aplicado, no início deste ano, 10 000 reais num fundo DI com taxa de administração de 2% ao ano recebeu um rendimento líquido de 378 reais seis meses depois. Se tivesse optado pela poupança, teria embolsado 390 reais. É assim porque quem deixa o dinheiro aplicado num fundo por menos de seis meses paga 22,5% de IR. O imposto cai para 20% para investimentos de seis meses a um ano, depois baixa para 17,5% entre um e dois anos e, finalmente, para 15% se os recursos ficarem aplicados por mais de dois anos.

Na ponta do lápis
Para quem vai aplicar por até seis meses, a poupança já rende mais que um fundo DI com retorno médio e taxa de administração de 2%
Compare quanto um investidor receberia se tivesse investido 10 000 reais em cada uma das aplicações nos últimos seis meses(1)
FUNDO DI
POUPANÇA
Retorno bruto em seis meses(1)
5,9%
3,9%
Taxa de administração
2%
0
Imposto de renda
22,5%
0
Quanto sobrou para o investidor
378 reais
390 reais
(1) Entre 23 de fevereiro e 23 de agosto de 2007 Fontes: Economática e CEF-FGV

Avaliar a tributação do IR e as taxas de administração antes de decidir deixar os recursos num fundo DI ou numa caderneta de poupança não fazia parte do dia-a-dia dos investidores que buscavam aplicações tão conservadoras, cujo objetivo muitas vezes era mais proteger o patrimônio do que obter rendimentos elevados. "Essa mentalidade precisa mudar", diz o administrador de investimentos Fabio Colombo, de São Paulo. Num ambiente de juros baixos, em que os ganhos são mais limitados, estudar as diferenças entre as aplicações ganha importância.

Atenção
O investidor que quiser migrar os recursos de seu fundo DI para uma caderneta de poupança terá de se preparar para enfrentar a hostilidade de alguns gerentes. Isso porque os bancos querem justamente o contrário: aumentar os investimentos em fundos, que, por cobrar taxa de administração, dão mais retorno a eles que as tradicionais cadernetas. Alguns bancos já traçaram novas metas de vendas para seus gerentes para que eles se esforcem ao máximo para oferecer outros produtos no lugar da poupança.
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