Sem medo: Investir no Tesouro Direto é seguro, pode confiar (SIphotography/Thinkstock)
Júlia Lewgoy
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 15h50.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 16h33.
São Paulo - O Tesouro Direto superou em outubro a marca de um milhão de investidores cadastrados. Na última semana, o Tesouro Nacional prometeu mudanças para tornar a plataforma ainda mais “fácil e acessível” e atrair mais investidores.
O governo ainda não divulgou detalhes sobre as mudanças. Apesar de ser o investimento preferido dos especialistas para desbancar a poupança em segurança e rentabilidade, os títulos públicos ainda geram desconfiança entre os pequenos investidores.
Com o objetivo desmistificar o investimento, EXAME.com lista a seguir cinco mitos e cinco verdades sobre a plataforma Tesouro Direto, que vende os títulos públicos do governo brasileiro.
Verdade. É consenso entre os especialistas que manter as economias na poupança, por enquanto, é deixar de ganhar dinheiro. “Não faz sentido”, segundo o diretor de vendas da corretora Spinelli, José Domingos Ruiz Neto.
A caderneta até pode render mais em um mês ou outro, por conta da volatilidade dos juros no mercado, mas no longo prazo, se o investidor deixar o dinheiro rendendo durante alguns meses ou mais, os títulos do Tesouro Direto superam de lavada.
A rentabilidade dos títulos públicos varia conforme o título escolhido. Ela pode estar atrelada a uma taxa pré-fixada, definida no momento da aplicação, ou acompanhar um indexador, que pode ser a taxa básica de juros, a Selic, ou a inflação, medida pelo IPCA. Atualmente, esses indicadores estão em patamares altos, até a economia brasileira se estabilizar, o que beneficia investidores do Tesouro Direto e de outras aplicações financeiras.
Já a rentabilidade da poupança paga ao investidor, no máximo, algo em torno de 70% da taxa Selic. A regra é a seguinte: se a Selic está superior a 8,5% ao ano, a poupança paga uma taxa de 0,5% ao mês mais uma taxa chamada de Taxa Referencial (TR), bem abaixo da taxa básica de juros. Se a Selic está igual ou ou menor que 8,5%, a poupança atinge sua remuneração máxima, de 70% da Selic mais a TR.
Ou seja, a poupança só deve voltar a render melhor quando a taxa Selic atingir 8,5%, o que deve demorar (atualmente, está em 14%). E mesmo assim, é possível que não supere os rendimentos do Tesouro Direto, como alerta a professora de finanças da graduação Insper Juliana Inhasz.
Segundo a versão mais recente do Boletim Focus do Banco Central, o mercado espera que a Selic termine 2016 em 13,75% ao ano. Para o fim de 2017, a projeção é de uma taxa de 10,75% ao ano.
Mito. Os títulos do Tesouro Direto são o investimento mais seguro que existe no Brasil, segundo especialistas. É muito pouco provável que o governo não pague a remuneração ou confisque o dinheiro de investidores, não importa o tamanho da dívida do país.
Se isso acontecesse, em um cenário muito distante, toda a economia do país estaria quebrada e nenhum banco privado arcaria com seus compromissos com os investidores. Isso porque até os bancos investem boa parte dos seus recursos no Tesouro Direto. “Se o Tesouro Direto não pagar investidores, ninguém mais paga. Seria o caos”, explica Ruiz Neto, da Spinelli.
Verdade. Investidores podem aplicar em títulos públicos de forma simples, na plataforma online do Tesouro Direto. Com seu login e senha, podem comprar e vender títulos, agendar investimentos e consultar o extrato, em horários pré-estabelecidos. A plataforma é como se fosse uma loja online e foi criada para pessoa físicas operarem sozinhas.
Mas, para isso, é preciso se cadastrar em uma instituição financeira, que pode ser um banco ou uma corretora, também chamada de agente de custódia, para intermediar suas transações com o Tesouro Direto. O banco ou a corretora são responsáveis por realizar o cadastro dos investidores junto a BM&F Bovespa e intermediar a transferência do dinheiro, além de solucionar dúvidas de investidores.
No site do Tesouro Direto, há uma lista das instituições habilitadas a operar com títulos públicos e das taxas de administração cobradas por cada uma. Fique atento: algumas instituições não cobram taxa.
Também dá para investir no Tesouro Direto por meio dos sites de alguns bancos e corretoras, chamados de agentes integrados, ou autorizar que a própria instituição financeira negocie os títulos no seu nome.
Verdade. Nas últimas semanas, a plataforma do Tesouro Direto ficou fechada para compra e venda de títulos durante alguns minutos ao longo do dia. A medida, no entanto, é uma forma de proteger investidores da alta volatilidade dos juros e evitar o pânico de quem comprou um título por um preço e logo em seguida encontrou o mesmo título por outro valor muito menor.
Essa instabilidade nos juros acontece por fatores externos, que mexem com as expectativas do mercado, como a eleição do Donald Trump e as incertezas quanto ao futuro da economia brasileira, como explica Juliana Inhasz, do Insper.
Assim, os juros praticados no mercado têm influência direta sobre o preço dos títulos. Uma redução nas taxas de juros de mercado provoca aumento no preço do título. Já um aumento nas taxas de juros proporciona o efeito contrário.
Mito. O Tesouro pode servir tanto para juntar recursos por um longo período para a aposentadoria, por exemplo, como para ter uma reserva financeira para usar quando for preciso. Para isso, basta escolher o título certo, de acordo com o objetivo do investidor.
Cada título tem uma data de vencimento, que atualmente varia entre 2019 e 2050. No entanto, você pode recomprá-lo, para manter seu dinheiro aplicado, ou vendê-lo a qualquer momento, antes do prazo, para resgatar seu dinheiro com rentabilidade.
Verdade. O Imposto de Renda cobrado sobre as operações realizadas no Tesouro Direto funciona como em qualquer outro investimento de renda fixa: incide apenas sobre os rendimentos, não sobre o valor total aplicado, e diminui conforme o tempo. Confira a tabela a seguir:
Período da aplicação | Alíquota |
---|---|
Até 180 dias | 22,5% |
Até 360 dias | 20% |
Até 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
Verdade. Atualmente, o título mais barato vendido na plataforma do Tesouro Direto custa R$ 497,62 (valor do dia 28 de novembro). Mas investidores podem aplicar menos do que isso, desde que seja a partir de 30 reais.
Isso é possível porque o Tesouro Direto permite que investidores comprem frações de um título. Na hora da compra, no entanto não é preciso se preocupar em calcular essa fração, já que o sistema faz isso automaticamente. Basta digitar o valor que o investidor deseja aplicar.
Mito. O Tesouro Direto é um investimento democrático. “O preço é o mesmo, não importa quanto dinheiro o investidor tenha”, esclarece Ruiz Neto, da corretora Spinelli.
O investidor precisa pagar duas taxas: uma vai para o banco ou a corretora em que ele é credenciado, outra vai para a BM&FBovespa, chamada taxa de custódia.
A taxa cobrada pelo banco ou pela corretora varia entre zero e 2% sobre o valor dos títulos ao ano ou por operação. Algumas instituições não cobram nada, como estratégia para atrair investidores para outras aplicações financeiras. No site do Tesouro Direto, você pode conferir a taxa cobrada por cada instituição.
A taxa da BM&F Bovespa é fixa, de 0,3% sobre o valor dos títulos.
Mito. É especialmente recomendado investir no Tesouro Direto e em outras aplicações de renda fixa enquanto a taxa Selic estiver em patamares elevados. Mas mesmo quando a economia melhorar e o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir consideravelmente a taxa básica de juros, títulos públicos vão continuar sendo um bom investimento para quem quer segurança e um retorno melhor do que na poupança.
“Se você não conhece a fundo o universo dos investimentos e ainda está experimentando, o Tesouro Direto é uma ótima porta de entrada”, aconselha Ruiz Neto, da corretora Spinelli.
Mito. Depende do título. Diferentemente de outros títulos públicos, o Tesouro Selic não apresenta risco de prejuízo ao ser vendido antes do prazo, já que ele paga a variação da taxa Selic, que é sempre positiva.
Já os títulos indexados à inflação, chamados de Tesouro IPCA, ou os títulos pré-fixados têm mais chance de gerar prejuízo se forem vendidos antes do prazo, porque sofrem o efeito da chamada marcação a mercado.
Isso significa que o valor do título é atualizado de acordo com o preço em que ele é negociado no mercado. Se há queda no preço, o saldo do investidor cai. Se houver valorização do título, o saldo do investidor se eleva.
Por isso, aprenda a escolher o seu título com cuidado, e tenha um objetivo e um prazo em mente ao aplicar seu dinheiro.