Para onde vai o dólar? Veteranos de Wall Street estão divididos
O crescente déficit em conta corrente dos EUA é mais uma vez tema de um debate acalorado no mercado de câmbio
Bloomberg
Publicado em 27 de maio de 2021 às 09h35.
Última atualização em 27 de maio de 2021 às 09h41.
Quer saber qual será a trajetória do dólar enquanto o déficit dos Estados Unidos segue crescendo? Wall Street também.
Para o Goldman Sachs , o momento atual lembra um dos períodos mais fracos da história recente do dólar. Já o Morgan Stanley acredita que a moeda pode se fortalecer.
O crescente déficit em conta corrente dos EUA é mais uma vez tema de um debate acalorado no mercado de câmbio, com implicações em todas as classes de ativos. O déficit é o maior desde 2008 como proporção do PIB, e só tende a crescer à medida que os EUA superam grande parte do mundo na recuperação da pandemia. O resultado é que mais e mais dólares fluem para estrangeiros, ou para serem reinvestidos em ativos dos EUA ou desviados para outro lugar.
Especialistas concordam nesse ponto. Mas divergem sobre o possível impacto da conta corrente, o indicador mais amplo dos fluxos de comércio e investimento na maior economia do planeta. É um momento crucial para a principal moeda de reserva do mundo, que eliminou todo o ganho do início deste ano.
Para o Goldman, o déficit é chave para sua visão baixista para o dólar, já que analistas do banco apontam para semelhanças com 2002-2007, quando a moeda americana registrou forte baixa. O Deutsche Bank está no mesmo grupo.
Por outro lado, o Morgan Stanley e a Eurizon SLJ Capital acreditam que o ambiente atual pode refletir as décadas de 1980 e 1990, quando o dólar se valorizou mesmo com grandes déficits. Por enquanto, no entanto, a moeda americana perde terreno e os que apostam na baixa parecem estar em vantagem.
“O dólar está caro em uma ampla base comercial, e ativos não americanos cada vez mais oferecem retornos competitivos”, disse Zach Pandl, codiretor de estratégia de mercados emergentes e câmbio global do Goldman. “Os investidores provavelmente sairão dos mercados de renda fixa e de ações dos EUA, resultando na desvalorização do dólar ao longo do tempo.”
O índice Bloomberg Dollar Spot acumula baixa de 1,3% este mês e é negociado perto dos níveis mais baixos deste ano. O dólar se desvalorizou em relação à metade de seus pares do G10.
Pandl tem uma visão “estruturalmente negativa” do dólar para os próximos três anos. O Goldman espera que o déficit em conta corrente atinja um pico de 4,4% do PIB no final de 2021. A projeção supera a estimativa mediana de analistas, que apostam em aumento para 3,6% do PIB em 2021 em relação a 3,09% no fim do ano passado e o maior desde 2008.
Se a visão do Goldman sobre o dólar estiver certa, isso sugere que é apenas questão de tempo antes que investidores estrangeiros busquem ativos internacionais de maior rendimento, o que enfraqueceria a moeda americana e potencialmente daria início ao declínio estrutural de longo prazo que muitos preveem.
Para mercados emergentes, também pode significar crescimento econômico mais forte a partir da correlação inversa da moeda americana com as commodities, a valorização dos preços das ações locais e potencial deflação da dívida denominada em dólares.
Renda fixa
No mercado de renda fixa dos EUA, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos estão em torno de 1,58%, nível mais alto do que a maioria dos mercados desenvolvidos, mas significativamente menor do que os 3% que investidores ganham para títulos equivalentes chineses e mexicanos. E, embora os índices acionários dos EUA continuem batendo recordes, o Goldman prevê retornos em ações mais baixos em relação a mercados internacionais ao longo do próximo ano, e acredita que o déficit também deve reduzir fluxos para o dólar.
No entanto, não é uma visão de consenso. Stephen Jen, da Eurizon SLJ, avalia que a expansão econômica dos EUA terá mais peso do que a expectativa de déficit crescente e ambiente de baixo rendimento, o que deve impulsionar a demanda por dólares. O Bank of America concorda, dizendo que os déficits podem pesar sobre o dólar em três a cinco anos, mas não agora, quando a economia mostra desempenho mais forte do que em outros mercados globais.