Motivos e repercussões do golpe militar frustrado na Turquia
Ninguém poderia prever, mas, em um país que viveu três golpes militares, numerosos sinais indicavam que isso poderia voltar a acontecer.
Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2016 às 12h46.
Ele enfrentou protestos durante meses, esquivou-se de escândalos de corrupção que acabaram com vários de seus ministros e agora o presidente turco Recep Tayyip Erdogan sobrevive a uma tentativa de golpe militar.
Ninguém na Turquia parece ter previsto o que finalmente aconteceu na sexta-feira à noite: soldados rebeldes tomaram o controle das duas pontes de Istambul sobre o Bósforo, caças F-16 invadiram o céu da capital Ancara e os militares tomaram com relativa facilidade as televisões privadas e estatais.
Ninguém poderia prever, mas, em um país que viveu três golpes militares, numerosos sinais indicavam que isso poderia voltar a acontecer.
O que motivou o golpe?
Nos últimos anos, governos e instituições estrangeiras, e os próprios cidadãos, acadêmicos e adversários turcos manifestaram preocupação com o crescente autoritarismo de Erdogan.
Seus primeiros anos como primeiro-ministro, desde a sua eleição em 2003, passaram-se relativamente tranquilos. Mas desde agosto de 2014, quando tornou-se o primeiro presidente da Turquia diretamente eleito, o seu estilo de governo vem ganhando contornos que muitos tacham como ditatoriais.
Erdogan deseja mudar a Constituição turca, aprovada em 1980 após o último golpe bem sucedido, para adotar um sistema presidencial no estilo americano, o que iria aumentar significativamente as suas prerrogativas.
De acordo com Aykan Erdemir, pesquisador da Fundação para a Defesa das Democracias em Washington, o golpe foi o resultado de muitos fatores, incluindo o medo do exército deste novo sistema.
Erdemir explica que, entre as razões do golpe, está "a reformulação da lei dos tribunais superiores e a recusa de Erdogan de ser imparcial".
Por que golpe fracassou?
Sinan Ulgen, diretor do think tank Edam e professor convidado do Carnegie Europe, ressalta que este não foi um golpe do exército inteiro como nos casos anteriores, mas de apenas um pequeno grupo.
"Estava fora da cadeia de comando, era um grupo relativamente pequeno" no exército, que, no entanto, conseguiu sequestrar o chefe do Estado-Maior.
"Não foi uma operação planejada por (todo) o exército, e que logo se viu sem o apoio, nem capital, nem capacidades", considera.
Erdemir observa que a era dos golpes de Estado consumados - como ocorreu em 1960, 1971 e 1980 - terminou, e que a opinião pública é hostil a esta perspectiva.
Desta vez, o país mostrou uma maior solidariedade, e até mesmo os três partidos de oposição condenaram o golpe de Estado no parlamento.
Os partidos não têm uma "memória agradável" dos golpes anteriores, considera Erdemir.
Ulgen acrescenta: "quando as pessoas perceberam que os líderes do golpe não tinham o apoio do exército, viram que era mais fácil ser contra".
No Twitter começou a se espalhar o boato de que tudo tinha sido orquestrado pelo próprio Erdogan e #Darbedegiltiyatro (não é um golpe de Estado, é teatro) se tornou Trending Topic na rede social.
Natalie Martin, professora da Universidade de Nottingham Trent, no Reino Unido, disse que o levante parecia "quase destinado ao fracasso", o que pode ter levantado suspeitas. "É inteiramente possível que tenha sido um falso golpe", admite.
Consenso ou divisão?
Erdogan, um grande estrategista, está ciente de que a operação malfadada pode lhe proporcionar novas oportunidades para fortalecer seu controle sobre a Turquia, mas enfrenta uma decisão difícil.
"Ele pode se apoiar no fato de que todos os partidos o apoiaram e construir uma nova era de consenso ou pode aproveitar a oportunidade para consolidar sua posição como líder sozinho", diz Erdemir.
"Isso depende quase inteiramente de Erdogan: o caminho que escolher terá enormes consequências. O otimista em mim aposta na via democrática, mas os realistas e pessimistas me dizem que Erdogan não vai deixar passar essa ocasião" para consolidar o poder.
O presidente turco sairá fortalecido, diz Ulgen, mas "a questão é saber se ele vai optar por usar essa força em favor de uma política de maior consenso".
"Esta é uma oportunidade única para avançar no sentido de uma agenda democrática mais ambiciosa. Mas o cenário mais provável é que Erdogan use o caso para as suas ambições pessoais e criar um sistema presidencial."
Ele enfrentou protestos durante meses, esquivou-se de escândalos de corrupção que acabaram com vários de seus ministros e agora o presidente turco Recep Tayyip Erdogan sobrevive a uma tentativa de golpe militar.
Ninguém na Turquia parece ter previsto o que finalmente aconteceu na sexta-feira à noite: soldados rebeldes tomaram o controle das duas pontes de Istambul sobre o Bósforo, caças F-16 invadiram o céu da capital Ancara e os militares tomaram com relativa facilidade as televisões privadas e estatais.
Ninguém poderia prever, mas, em um país que viveu três golpes militares, numerosos sinais indicavam que isso poderia voltar a acontecer.
O que motivou o golpe?
Nos últimos anos, governos e instituições estrangeiras, e os próprios cidadãos, acadêmicos e adversários turcos manifestaram preocupação com o crescente autoritarismo de Erdogan.
Seus primeiros anos como primeiro-ministro, desde a sua eleição em 2003, passaram-se relativamente tranquilos. Mas desde agosto de 2014, quando tornou-se o primeiro presidente da Turquia diretamente eleito, o seu estilo de governo vem ganhando contornos que muitos tacham como ditatoriais.
Erdogan deseja mudar a Constituição turca, aprovada em 1980 após o último golpe bem sucedido, para adotar um sistema presidencial no estilo americano, o que iria aumentar significativamente as suas prerrogativas.
De acordo com Aykan Erdemir, pesquisador da Fundação para a Defesa das Democracias em Washington, o golpe foi o resultado de muitos fatores, incluindo o medo do exército deste novo sistema.
Erdemir explica que, entre as razões do golpe, está "a reformulação da lei dos tribunais superiores e a recusa de Erdogan de ser imparcial".
Por que golpe fracassou?
Sinan Ulgen, diretor do think tank Edam e professor convidado do Carnegie Europe, ressalta que este não foi um golpe do exército inteiro como nos casos anteriores, mas de apenas um pequeno grupo.
"Estava fora da cadeia de comando, era um grupo relativamente pequeno" no exército, que, no entanto, conseguiu sequestrar o chefe do Estado-Maior.
"Não foi uma operação planejada por (todo) o exército, e que logo se viu sem o apoio, nem capital, nem capacidades", considera.
Erdemir observa que a era dos golpes de Estado consumados - como ocorreu em 1960, 1971 e 1980 - terminou, e que a opinião pública é hostil a esta perspectiva.
Desta vez, o país mostrou uma maior solidariedade, e até mesmo os três partidos de oposição condenaram o golpe de Estado no parlamento.
Os partidos não têm uma "memória agradável" dos golpes anteriores, considera Erdemir.
Ulgen acrescenta: "quando as pessoas perceberam que os líderes do golpe não tinham o apoio do exército, viram que era mais fácil ser contra".
No Twitter começou a se espalhar o boato de que tudo tinha sido orquestrado pelo próprio Erdogan e #Darbedegiltiyatro (não é um golpe de Estado, é teatro) se tornou Trending Topic na rede social.
Natalie Martin, professora da Universidade de Nottingham Trent, no Reino Unido, disse que o levante parecia "quase destinado ao fracasso", o que pode ter levantado suspeitas. "É inteiramente possível que tenha sido um falso golpe", admite.
Consenso ou divisão?
Erdogan, um grande estrategista, está ciente de que a operação malfadada pode lhe proporcionar novas oportunidades para fortalecer seu controle sobre a Turquia, mas enfrenta uma decisão difícil.
"Ele pode se apoiar no fato de que todos os partidos o apoiaram e construir uma nova era de consenso ou pode aproveitar a oportunidade para consolidar sua posição como líder sozinho", diz Erdemir.
"Isso depende quase inteiramente de Erdogan: o caminho que escolher terá enormes consequências. O otimista em mim aposta na via democrática, mas os realistas e pessimistas me dizem que Erdogan não vai deixar passar essa ocasião" para consolidar o poder.
O presidente turco sairá fortalecido, diz Ulgen, mas "a questão é saber se ele vai optar por usar essa força em favor de uma política de maior consenso".
"Esta é uma oportunidade única para avançar no sentido de uma agenda democrática mais ambiciosa. Mas o cenário mais provável é que Erdogan use o caso para as suas ambições pessoais e criar um sistema presidencial."