Investidores franceses são os que mais acreditam no Brasil
Estudo da Market Analysis obtido com exclusividade pelo Portal EXAME mostra como os estrangeiros vêem o país
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 10h27.
Historicamente conhecidos como um dos povos mais avessos a estrangeiros, os franceses - quem diria - são os investidores que têm a imagem mais positiva do Brasil. Um estudo desenvolvido pela consultoria Market Analysis junto a investidores de nove países, e obtido com exclusividade pelo Portal EXAME, mostra que 58,1% dos franceses têm uma boa impressão do Brasil.
A grande simpatia pelo país, segundo a diretora da Troiano Consultoria de Marca, Renata Pereira Lima, pode ser reflexo de diversos fatores, entre eles, a inserção do Brasil no mundo da moda. "A Gisele Bündchen é hoje a modelo mais bem paga do planeta e não esconde o orgulho de ser brasileira", diz Renata. "Os europeus valorizam a nossa alegria e descontração."
Foi destacando essa leveza de espírito que a Alpargatas conseguiu transformar as sandálias Havaianas em sucesso na Europa, enquanto a Natura escolheu Paris para inaugurar sua primeira loja. Esse tipo de ação, afirma Renata, gera uma aproximação entre os povos, que é criada também quando uma multinacional decide investir no Brasil. A Renault, além de ter no território verde e amarelo um de seus principais mercados, colocou o brasileiro Carlos Ghosn no comando de seus negócios. Já o Carrefour, que chegou a cogitar sair do Brasil, agora vê no país um mercado estratégico. "Quando o investidor percebe que as empresas de seu país estão investindo no Brasil e obtendo bons resultados, automaticamente ele começa a prestar mais atenção", diz Hélio Mariz de Carvalho, sócio-diretor da consultoria FutureBrand BC&H.
Como o Brasil não possui uma marca-país forte, avalia o diretor da Market Analysis, Fabián Echegaray, sua imagem entre os investidores estrangeiros está intimamente ligada à atuação das empresas. Isso explica a grande diferença de opinião entre investidores e não-investidores. Na França, apenas 37,4% dos entrevistados que não aplicam no mercado acionário vêem o Brasil de forma positiva. Entre os espanhóis a divergência também é significativa: enquanto 53,6% dos investidores admiram o Brasil, entre os não-investidores esse percentual cai para 39,5%.
O Brasil na visão dos estrangeiros | ||||
A imagem do Brasil em relação aos demais países do mundo | ||||
Investidores | Não investidores | Média da população | ||
Austrália | Mais positiva | 42,5% | 39,9% | 41,0% |
Mais negativa | 24,3% | 23,3% | 24,0% | |
Canadá | Mais positiva | 45,3% | 44,3% | 44,0% |
Mais negativa | 22,6% | 17,3% | 20,0% | |
China | Mais positiva | 52,8% | 51,5% | 52,0% |
Mais negativa | 15,2% | 14,6% | 15,0% | |
França | Mais positiva | 58,1% | 37,4% | 40,0% |
Mais negativa | 21,0% | 23,6% | 23,0% | |
Alemanha | Mais positiva | 33,3% | 35,1% | 35,0% |
Mais negativa | 25,6% | 28,6% | 28,0% | |
Itália | Mais positiva | 44,7% | 37,0% | 39,0% |
Mais negativa | 32,0% | 35,2% | 34,0% | |
Portugal | Mais positiva | 42,1% | 35,7% | 36,0% |
Mais negativa | 33,3% | 34,6% | 34,0% | |
Rússia | Mais positiva | 47,4% | 35,0% | 36,0% |
Mais negativa | 15,8% | 10,5% | 11,0% | |
Espanha | Mais positiva | 53,6% | 39,5% | 42,0% |
Mais negativa | 14,3% | 26,0% | 23,0% | |
Fonte: Market Analysis |
"Em geral, aqueles que não investem no mercado financeiro têm pouco interesse por assuntos relacionados a negócios. Neste público, notícias negativas, como violência e corrupção, acabam tendo um impacto maior", diz Echegaray. Por outro lado, o fato de os investidores verem o Brasil de forma muito mais positiva que os não-investidores também revela um grande potencial de atração de recursos. E esse potencial, na opinião dos especialistas, deve ser ainda maior hoje, já que a pesquisa foi realizada antes do país receber o grau de investimento e anunciar a descoberta de novos campos de petróleo.
Mas, para aproveitar essa oportunidade, o Brasil precisa seguir o exemplo da China e assumir a responsabilidade de trabalhar sua imagem lá fora, dizem os analistas. Na década de 1990, o governo chinês decidiu não deixar somente nas mãos das empresas a tarefa de projetar seu nome ao mundo. "É por isso que a bolsa chinesa cai 50% no ano e, ainda assim, a impressão que se tem do país é de uma economia forte", diz Carvalho.
Entre os investidores dos nove países pesquisados, 65% têm uma visão positiva da China, o melhor resultado dentre os BRIC´s -sigla formada pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China e usada para designar os quatro países emergentes mais relevantes no cenário global. O Brasil vem em segundo lugar, com 47%. "A China está muito em evidência nos últimos tempos não só pelos negócios, mas também pelas Olimpíadas. O Brasil terá uma chance semelhante com a Copa do Mundo de 2014. Resta saber se saberá aproveitar essa oportunidade", comenta Carvalho.
A imagem dos BRIC´s | ||||
Percentual dos entrevistados que acreditam que a influência desses países no mundo é mais positiva que negativa | ||||
Brasil | China | Rússia | Índia | |
Em 34 países | 44% | 47% | 37% | 42% |
Nos 9 países acima | 41% | 44% | 32% | 39% |
Entre os investidores dos 9 países | 47% | 65% | 43% | 45% |
Fonte: Market Analysis / GlobeScan |