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Havan entra com pedido de IPO com carta inusitada ao investidor

Luciano Hang, fundador e dono de 100% do capital da rede varejista, conta seu início humilde no prospecto da oferta de ações

Luciano Hang (Tommaso Rada/Bloomberg)
MS

Marcelo Sakate

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 05h30.

Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 10h33.

A Havan , uma das maiores redes varejistas do país, formalizou na noite desta quinta-feira, 28, o seu processo de oferta pública inicial de ações (IPO) na B3. E o fez de forma inusitada: o fundador e presidente, Luciano Hang, escreveu uma carta aberta aos investidores.

"Eu sou o Luciano Hang, um homem de origem simples, com um começo de história comum a muitos brasileiros. Disléxico, tive muitas dificuldades e só consegui ler aos 12 anos, mas posso dizer que essa limitação só me fez mais criativo. Foi com esta mesma idade que eu decidi montar uma cantina na escola com um amigo, vendíamos bolachas!", escreve.

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Ele descreve a seguir a sua trajetória de um self made man que ergueu seus negócios fora do eixo Rio-São Paulo, a partir de Brusque, em Santa Catarina.

Números fundamentais foram mantidos em sigilo em um primeiro momento: quanto a empresa colocará de ações à venda e pretende captar e as datas para o IPO.

Estão previstas uma oferta primária, cujos recursos serão destinados para a abertura e a expansão de lojas, em centros de distribuição, investimento em tecnologia e capital de giro; e uma oferta secundária, com recursos para o empresário, detentor de 100% do capital.

O tom informal atípico para um processo protocolado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas familiar a quem conhece o empresário, não é inédito. A "carta ao investidor" foi adotada pelo fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, no IPO na Nasdaq no fim de 2019. E, mais recentemente, pelos fundadores da empresa de e-commerce Mosaico.

Ao destacar as vantagens competitivas, a Havan cita o fato de Hang ser o único acionista da companhia e diz que a atuação forte dele assegura diferenciais como "relacionamento próximo, desburocratizado e intimista com clientes, fornecedores, terceiros e produtores integrados, refletindo na harmonia e longa duração de nossas relações comerciais".

Há espaço ainda para destacar, com letras maiúsculas, gritos de guerra entoados por funcionários e que ajudariam a manter as equipes unidas e mais produtivas.

A empresa se vende como a única do país que opera no modelo conhecido como one-stop-shop, citando a variedade de oferta com mais de 320 mil produtos diferentes. E destaca: "A Havan é uma 'loja destino', as lojas são um polo de atração e lazer para os milhões de visitantes mensais, que visitam nossas lojas não apenas para realizar compras.

A rede varejista é conhecida por réplicas da Estátua da Liberdade na frente de suas lojas.

Havan Bank

O prospecto da rede varejista abre números atualizados que, por muito tempo, ficaram no campo das estimativas. As receitas chegaram a 10,5 bilhões de reais em 2019, com lucro líquido de 428 milhões de reais. A geração de caixa operacional medida pelo Ebitda ficou em 1,1 bilhão de reais.

No primeiro semestre, por causa das restrições para o funcionamento das lojas com a pandemia do novo coronavírus, as receitas brutas recuaram 10,4%, interrompendo uma trajetória de crescimento médio que havia ficado acima de 40% nos dois últimos anos. No início da pandemia, o empresário criticou as medidas de isolamento social mais rigorosas adotadas em várias cidades.

São 148 lojas em 121 municípios do país, além de uma operação online ainda incipiente, embora com investimento para ganhar relevância. Em 2019, as vendas pelo e-commerce totalizaram 77 milhões de reais e responderam por apenas 0,7% da receita bruta. Nesse aspecto, a Havan contrasta com outra rede varejista de origem familiar, o Magazine Luiza, que teve quase a metade (45,3%) das vendas totais pelo canal digital em 2019.

Hang revela ainda os planos para lançar, ainda neste ano, um marketplace de serviços financeiros com a marca da rede. O plano é oferecer acesso a conta digital, pagamento de contas, depósitos e saques nos caixas, cartão de crédito co-branded, produtos de crédito pessoal e programa de fidelidade, de acordo com o documento da abertura de capital. Ao fim de 2019, a Havan apresentava uma base com 4,3 milhões de clientes que possuíam um cartão com bandeira própria.

Sonho grande

Na mesma carta aos investidores, Hang, hoje com 57 anos, conta como nasceu a Havan. "Com 23 anos, eu comprei uma pequena fábrica de toalhas que estava fechando e a fiz funcionar 24 horas por dia. É como eu sempre digo: comece pequeno, sonhe grande! Por isso, aos 24 anos, abri a Havan, uma pequena loja de tecidos", descreve o empresário catarinense."

"Eu sempre acreditei na Havan e continuo apostando neste grande time, ficamos muito felizes em levar nossa empresa ao acesso de novos acionistas. Obrigado por considerar fazer parte da Havan, como investidor!", diz Hang ao encerrar a carta.

 

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