Gestor de US$ 100 bilhões em ativos destaca desafios para 2020
Para ele, o tema nos próximos anos será como o a indústria de pensões irá reagir quando os bancos centrais não sustentarem mais os mercados de títulos
Karla Mamona
Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 08h12.
Última atualização em 5 de janeiro de 2020 às 09h13.
(Bloomberg) -- Tony Persson ajuda a administrar cerca de US$ 100 bilhões em um dos maiores fundos de pensão da Suécia. Ao contrário de muitos de seus colegas na Europa, ele trabalha em um país que acabou de dar o passo histórico de abandonar as taxas de juros negativas.
Mas acontece que passar de abaixo de zero a zero não é uma bala mágica. Zero é “melhor” que abaixo de zero, disse Persson, que coordena investimentos em renda fixa e câmbio no Alecta, com sede em Estocolmo. Mas, para o setor de pensões, “os desafios permanecem inalterados”, disse.
Persson antecipa uma longa e lenta marcha rumo a taxas de juros mais normais. O verdadeiro teste virá quando os bancos centrais deixarem de comprar títulos do governo e “restabelecerem os preços de mercado”, disse em entrevista em Estocolmo.
O Riksbank, que encerrou um ciclo de juros negativos antes de atingir a meta de inflação, ainda pretende comprar títulos públicos até o fim de 2020. O banco central sueco, assim como o Banco Central Europeu, tem recorrido à chamada flexibilização quantitativa para garantir que as taxas de longo prazo permaneçam baixas.
Persson diz que o “tema nos próximos anos” será como o a indústria de pensões irá reagir quando os bancos centrais não sustentarem mais os mercados de títulos públicos em grande parte do mundo rico.
“Os bancos centrais vão recuar, e o capital privado precisará preencher o vazio”, disse “Assim como tivemos que sair”, a expectativa é de que os fundos de pensão “entrem novamente”.
Os fundos de pensão foram um dos segmentos mais afetados pelas taxas negativas, já que a política reduz o valor das poupanças. Com isso, alguns dos maiores fundos da Europa pediram ajuda a um setor do qual a população da região, que está envelhecendo, depende.
Persson não está preocupado apenas com possíveis solavancos no mercado de títulos públicos. Ele diz que os mercados de dívida corporativa também mostram alguns sinais negativos após anos de juros ultrabaixos.
“É algo que estou monitorando de perto agora. Não quero ver um forte crescimento de crédito nesta fase final do ciclo”, disse.
Para sobreviver aos juros negativos, o Alecta e outros fundos se voltam para ativos menos arriscados e menos líquidos. Persson diz que seu fundo abandonou muitos dos títulos públicos mais caros. O fundo investiu em créditos garantidos pelo governo e aumentou os empréstimos para regiões e municípios.