Dólar sobe e termina em R$3,25 com cautela com cena política
Nesta sessão, repercutiu a notícia de que procurador-geral da República pediu novamente na quinta-feira a prisão de Rodrigo Rocha Loures
Reuters
Publicado em 2 de junho de 2017 às 17h46.
São Paulo - Depois de operar em baixa em grande parte da sessão, o dólar inverteu a trajetória e permaneceu em alta até o fechamento, no nível de 3,25 reais, com a cena política levando os investidores a optar pela cautela diante do final de semana.
Até então, o dólar cedia patrocinado pelos dados mais fracos do mercado de trabalho norte-americano, o que deve esfriar apostas de mais altas de juros nos Estados Unidos.
O dólar avançou 0,24 por cento, a 3,2546 reais na venda. Na mínima, a moeda marcou 3,2202 reais e, na máxima, 3,2596 reais. Na semana, a moeda acumulou baixa de 0,33 por cento. O dólar futuro trabalhava praticamente estável.
"O mercado inverteu (a trajetória) com o político, em busca de proteção, com a possibilidade de novas gravações ou outras notícias surgirem", justificou o gerente de tesouraria do Banco Confidence, Felipe Pellegrini.
A atual crise política surgiu após o presidente Michel Temer ter sido gravado em conversa inapropriada por empresário do Grupo J&F, que usou o material em delação premiada.
O presidente é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras coisas, por corrupção passiva.
Além do temor com alguma notícia negativa que venha a sair no final de semana, investidores também estavam cautelosos com o desfecho do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima semana.
Nesta sessão, repercutiu a notícia de que procurador-geral da República pediu novamente na quinta-feira a prisão de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial do presidente Michel Temer, no âmbito do inquérito em que ambos são investigados por suspeitas de corrupção, obstrução da Justiça e organização criminosa.
"Ele pode fazer uma delação premiada, pode ficar difícil a situação do presidente Michel Temer. Para o mercado, a percepção é de que o tempo vai passando e fica cada vez mais longe a aprovação das reformas", avaliou o sócio da assessoria de investimentos Criteria Vitor Miziara.
Apesar da cautela, em boa parte da sessão o dólar trabalhou em queda ante o real, influenciado pelos fracos dados norte-americanos do mercado de trabalho do país.
"Dados piores do que o esperado levam o mercado a reduzir suas expectativas de uma terceira alta de juros nos EUA", justificou Miziara.
A despeito dessa percepção, as apostas majoritárias do mercado eram de que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, deve subir novamente os juros no encontro que termina no próximo dia 14 de junho. A última vez em que o Fed subiu os juros foi em março.
Juros mais altos nos EUA têm potencial para atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados em outras praças, como na brasileira.
"Os dados do payroll (relatório do mercado de trabalho) não são fracos o suficiente para descarrilar uma alta dos juros mais tarde neste mês", avaliou o analista da gestora canadense CIBC Capital Markets, Royce Mendes, em comentário a clientes.
A economia norte-americana abriu 138 mil vagas de trabalho em maio, bem menos do que as 185 mil estimadas em pesquisa Reuters, mas a taxa de desemprego veio ligeiramente melhor, em 4,3 por cento, ante previsão de 4,4 por cento.
Além disso, os dados de março e abril foram revisados para baixo em relação ao relatado anteriormente, mostrando menor criação de vagas.
O BC não anunciou qualquer intervenção para o mercado de câmbio para esta sessão. Em julho, vencem 6,939 bilhões de dólares em swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares.