Debandada e duelo por teto de gastos são teste para investidores
Saídas de Salim Mattar e Paulo Uebel escancaram dificuldade da equipe de Paulo Guedes de levar reformas econômicas adiante
Felipe Giacomelli
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 06h45.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 12h45.
A quarta-feira deve ser um daqueles dias para testar o entusiasmo dos investidores com uma futura recuperação da economia a despeito do noticiário. Desde o mergulho de março, o Ibovespa e os principais índices globais sobem ancorados na expectativa de uma retomada em V pós-pandemia. No Brasil, uma leva de aprovação de reformas que modernizem a economia também turbina o entusiasmo.
De fato precisamos como nunca das reformas, mas o governo deu ontem mostras de que pode não estar tão convencido disso. A equipe econômica perdeu dois de seus principais nomes. O secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pediram demissão nesta terça-feira, levando para seis o número de baixas da equipe do ministro da Economia , Paulo Guedes , nas últimas semanas.
Guedes constatou o óbvio: houve uma debandada. Guedes e Mattar defendem uma ampla leva de privatizações, mas vêm esbarrando na queda de braço política e na necessidade de ampliar os gastos públicos para garantir bons resultados nas eleições municipais deste ano e na presidencial de 2022. No Twitter, a economista Elena Landau, uma das vozes mais críticas a Guedes, ironizou: " Salim Mattar descobriu que privatizar mexe com interesses e enfrenta resistências políticas".
A equipe econômica bate o pé em manter o teto nos gastos públicos, enquanto outras alas do governo querem um amplo programa de investimentos, o Pró-Brasil. Ontem, Guedes afirmou que furar o teto "é um caminho para o impeachment". O futuro do pacote de auxílio emergencial é outro ponto de conflito -- traz benefício eleitoral, mas amplia o buraco no orçamento. Em outra frente, Guedes insiste em levar adiante um imposto sobre transações digitais que vem sendo chamado de "nova CPMF" e que vai contra o desejo de ala relevante do Congresso.
Para piorar, o presidente Jair Bolsonaro ontem voltou a negar os fatos ao falar que a Amazônia "não está pegando fogo". Especialistas dizem que o ano tem recorde de queimadas em 20 anos. O Pantanal também tem uma das maiores queimadas da história este ano.
No exterior, a nomeação de Kamala Harris para vice de Joe Biden na chapa democrata tem sido vista com naturalidade por analistas. Na Europa, uma nova notícia econômica: o PIB britânico caiu 20% no segundo trimestre. Péssimo, mas esperado. O que deve mexer com o humor da bolsa, nesta quarta, é o noticiário interno.