Brasileiro é conservador ao investir? Nova pesquisa traz surpresas
Estudo global da gestora britânica Schroders, divulgado em primeira mão pela EXAME Invest, revela o apetite ao risco do investidor ao redor do mundo e no país
Marília Almeida
Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 18h22.
Última atualização em 15 de dezembro de 2021 às 20h59.
Investidores de todas as partes do mundo estão se voltando para ativos considerados de alto risco, como aplicações de renda variável , mesmo com as incertezas causadas pela pandemia. É o que revela um estudo global conduzido pela gestora britânica Schroders, que administra cerca de 970 bilhões de dólares no mundo, divulgado em primeira mão pela EXAME Invest .
Esse comportamento de apetite ao risco inclui o Brasil, desmistificando ao menos por ora a fama de conservadorismo do investidor médio do país, mesmo aquele tem patrimônio (uma fama justificada pelo volume de recursos na poupança, por exemplo).
No Brasil, o percentual de pessoas que se disseram dispostas a fazer investimentos de alto risco é maior do que a média global: 42%, acima dos 37% dos investidores globais que declararam que estão dispostos a fazer o mesmo.
A pesquisa online foi realizada com 23.900 pessoas que vão investir pelo menos 10.000 euros (cerca de 64.400 reais ao câmbio desta quarta-feira, dia 15) nos próximos 12 meses e que fizeram mudanças em seus investimentos nos últimos dez anos. O levantamento inclui 33 localidades ao redor do mundo. No Brasil, 1.000 pessoas foram entrevistadas.
Quase a totalidade da pesquisa foi realizada entre 16 de março e 7 de maio. Ou seja, o levantamento foi anterior ao processo mais intenso de aumento da Selic. No período, a taxa básica de juro, que tem impacto negativo sobre os ativos de risco, passou de 3,5% ao ano para 9,25% ao ano.
Para Daniel Celano, CFA, diretor-presidente da Schroders Brasil, no entanto, o resultado da pesquisa não mudaria consideravelmente mesmo se conduzida neste momento.
"O levantamento mostra que 60% dos brasileiros ainda preferem ativos seguros, como a poupança. O repique dos juros talvez diminua um pouco o percentual daqueles que desejam investir na renda variável, mas não mudará significativamente o cenário", afirmou à EXAME Invest . Veja a seguir a análise de Celano por tópicos:
Educação financeira
Celano avalia que o resultado da pesquisa é reflexo de um aumento no conhecimento do investidor brasileiro sobre o assunto. "É um processo que não volta. As pessoas entenderam que precisam dedicar mais tempo para cuidar das finanças e que precisam poupar mais para imprevistos, como foi o caso da própria pandemia."
Além disso, como muitos brasileiros estão investindo em uma classe de ativos pela primeira vez, isso aumenta a percepção do que são aqueles de maior risco.
O presidente da Schroders Brasil ressaltou que a diversificação é fundamental para alcançar, com maior eficiência, um portfólio mais resiliente em meio aos desafios do cenário macroeconômico.
Aplicações favoritas
Para buscar retornos mais elevados, muitas pessoas estão investindo em ativos que antes consideravam muito arriscados.
No Brasil, criptomoedas (26%), ações ou fundos de ações de empresas de internet e tecnologia (22%) e ações ou fundos
de companhias de veículos elétricos (21%) foram os três principais tipos de ativos em que os investidores consultados aplicaram pela primeira vez no ano passado.
Expectativas de retorno
Metade dos investidores dos grupos mais jovens, de 18 a 37 anos e de 38 a 50 anos, disse esperar retornos acima de 10% ao ano, uma proporção ligeiramente acima da média geral global, de 9%. No Brasil, o nível mínimo médio de rendimento que as pessoas gostariam de receber com seus investimentos é de 11,2% ao ano.
Para Celano, a busca por um retorno mais elevado, acompanhada pela propensão maior a aplicar em ativos de risco e em classes novas de ativos, é uma evolução na educação do investidor. Mas, por outro lado, também preocupa.
"Tem que ter a dosagem certa. Não há certo e errado: é necessário entender o risco que está correndo e se o investimento está adequado à estratégia", afirmou.
"Se o investidor é jovem e resolver aplicar um maior percentual da carteira em criptomoedas, não vejo problema. O problema é alguém que tem 40 anos e nunca investiu no ativo decidir coloca metade do patrimônio nessa categoria sem estudar, acompanhar e entender como funciona", exemplificou o executivo.
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