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Rede de hotéis reverte 20 anos de perdas em Sauípe com ESG; agora, estrutura metas para expandir

Alessandro Cunha, CEO da Aviva, detalhou como as práticas de sustentabilidade e governança do Rio Quente Resorts foram fundamentais para que a operação da Costa do Sauípe desse lucro após aquisição

Alessandro Cunha, CEO da Aviva (Aviva/Divulgação)

Alessandro Cunha, CEO da Aviva (Aviva/Divulgação)

Marina Filippe
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 22 de maio de 2024 às 07h00.

Última atualização em 22 de maio de 2024 às 08h54.

Em 2018, quando o então Grupo Rio Quente, dono do Rio Quente Resorts e do Hot Park em Goiás, adquiriu o complexo de hotéis Costa do Sauípe, no litoral da Bahia, a companhia se viu no desafio de engajar os funcionários baianos numa cultura construída desde a fundação da primeira pousada goiana, em 1964. O desafio, para além das diversidades regionais, estava em garantir o comprometimento dos funcionários em uma atividade que nunca havia dado lucro.

"Nos primeiros 20 anos de existência da Costa do Sauípe, os hotéis não haviam tido lucro. Para mudar este cenário e o nosso investimento fazer sentido, criamos uma campanha de escuta dos funcionários, além de convencê-los de que a meta para o primeiro após a aquisição era lucrar 1 real", disse Alessandro Cunha, CEO da Aviva (nome da empresa após a fusão de Rio Quente e Sauípe), em entrevista à EXAME.

Como resultado de uma série de medidas focadas na administração e na aplicação da cultura ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), a operação em Sauípe lucrou R$10 milhões de reais em 2018, ante o prejuízo de R$37 milhões no ano anterior.

Já em 2023, todo a Aviva faturou R$ 1.2 bilhão, o que representa um crescimento de quase 23% em relação a 2022 e 39% em relação ao ano de 2019 (pré-pandemia). A operação goiana da faturou R$ 855 milhões, e os R$ 358 milhões restantes foram faturados na Costa do Sauípe. Ao todo, 530 mil diárias vendidas nos dois complexos e 2,2 milhões de clientes atendidos em todos os destinos.

De acordo com Cunha, um ponto de inflexão em Sauípe e, consequentemente, os melhores resultados em todo a companhia, foi essencial a criação de um plano que identificou, por exemplo, necessidades básicas na alimentação dos funcionários e investimento em vestiários.

"As melhorias refletiram diretamente na produtividade. Além disto, identificamos pessoas com muito amor pelo destino e influência dentro da comunidade para que elas nos ajudassem no desdobramento da mensagem de mudança e de que era possível melhorar os resultados”.

De modo geral, em Sauípe não havia consistência nas práticas ESG, enquanto em Rio Quente tinha uma área dedicada ao tema. Na fusão foi percebida a oportunidade de sistematizar as ações. “Nos últimos anos contratamos consultorias para, por exemplo, a ampliação da diversidade e inclusão”. A Aviva também passou integrar organizações como o Pacto Global da ONU - Rede Brasil e definir as seguintes metas:

  • Metas a serem atingidas até 2025:
    • reduzir em 50% o consumo de plástico de uso único;
    • em 10% a energia;
    • em 15% a utilização de água;
    • ter pelo menos 60% de fornecedores selecionados com base em critérios ambientais.
  • Metas a serem atingidas até 2030:
    • diminuir 15% da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE);
    • produzir 30% menos resíduos orgânicos;
    • ter 50% da liderança composta por público feminino;
    • oportunizar vagas para pessoas a partir de 50 anos.
    • Tratamos aproximadamente 1,2 bilhão de litros de água anualmente.

"Na frente de inclusão, por exemplo, os funcionários estão passando por treinamentos internos de letramento para posterior realização de censo com dados mais fidedignos e definição de metas relacionadas às pessoas pretas, LGBTI+ e pessoas com 50 anos ou mais", diz Cunha.

Impacto ambiental

Por estar em áreas de natureza abundante, o impacto ambiental é intrínseco aos negócios da Aviva. "Quando inauguramos a Pousada Rio Quente, em 1964, a intenção era promover um destino em meio a natureza. Assim, ao longo dos anos, a preservação faz parte da nossa estratégia e negócio", diz Cunha.

Para ele, o desenvolvimento do negócio está ligado também ao desenvolvimento ordenado da cidade. "Uma das ações da Aviva ao longo dos anos foi construir uma Estação de Tratamento de Esgoto (E.T.E.) em Rio Quente. Depois de alguns anos, construímos uma segunda estação e doamos a primeira ao município".

Agora é prevista a construção de um Hot Park em Sauípe. "Visando à compensação ambiental de vegetação na construção do Hot Park, destinamos uma área de cerca 3,25 hectares para Servidão Ambiental de Caráter Permanente para a geração de impacto positivo na biodiversidade da região”, diz.

A Aviva também está em fase de planejamento e execução dos programas de educação socioambiental e cultural, realizados com parceiros locais. Nas duas regiões a companhia também atua em projetos ligados aos animais, sendo eles o ARES – Animais Resgatados do Cerrado, em Rio Quente, que atualmente cuida de uma centena de animais silvestres, e o Projeto TAMAR, na Costa do Sauípe, que, desde 2000, já devolveu mais de 500 mil filhotes de tartarugas ao mar.

Já para o engajamento dos fornecedores, a Aviva está ampliando a qualificação em práticas ambientais sustentáveis. A intenção é que até 2030, 60% dos principais fornecedores estejam aptos para responder às práticas estabelecidas pela empresa.

Conselho profissional e expansão

Apesar da existência do conselho de administração há mais de 30 anos, foi em 2024 que o conselho passou a ter membros independentes -- três dos sete. "Havia um desejo de profissionalização por parte dos acionistas [Algar e FLC]. Entre os novos membros está, por exemplo, Claudia Woods, CEO da WeWork Brasil. O movimento ajuda muito nos critérios de governança e gestão".

A intenção é que o novo conselho auxilie no crescimento da companhia, que prevê o investimento de R$ 1,2 bilhão nos negócios nos próximos cinco anos. Deste total, R$ 870 milhões são para a construção do Hot Park e restauração dos cinco hotéis no Sauípe.

"Os hotéis têm mais de 20 anos e precisam de modernização, incluindo características mais sustentáveis, como de economia de energia e reuso da água. Estamos prevendo a renovação de um hotel a cada ano", diz Cunha.

O investimento na Bahia prevê também a construção de uma central de produção e distribuição de alimentos. "Temos este modelo em Rio Quente, desde 2011, e queremos reproduzir em Sauípe para garantir menor desperdício e mais qualidade dos alimentos".

Já para 2025 deve ser inaugurada também as primeiras das 40 casas do projeto InCasa, voltado para famílias que querem comprar cotas para usar uma casa em um dos dois destinos nos próximos v25 anos.

“O modelo prevê o uso como numa casa de campo, em um sistema rotativo com escolhas entre alta e baixa temporada. A demanda atende principalmente as famílias que querem espaços de até quatro suítes, sem se preocupar com a manutenção de uma casa”, diz Cunha. O tíquete médio da cota é de R$ 600 mil.

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