PepsiCo substitui petróleo por biometano em sua maior fábrica; Ultragaz é fornecedora
Em entrevista exclusiva à EXAME, Alex Carreteiro, presidente da PepsiCo Brasil Alimentos, explica por que a companhia começa a transição na fábrica de Itu, a maior do Brasil, e quais são os próximos passos para o fim das emissões de gases causadores do efeito estufa na operação
Repórter de ESG
Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 10h56.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2024 às 11h40.
A fabricante de alimentos PepsiCo anuncia um movimento inédito de transição energética com foco em mitigação de emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE). A partir de agora, a companhia assume ocompromisso de substituir combustíveis fósseis, especialmente o gás natural, por gás biometano em suas fábricas e frota própria de caminhões movidos a gás.O abastecimento será pela Ultragaz, com insumo oriundo de aterros sanitários, como o de Caieiras, na grande São Paulo.
"Vamos, inicialmente, utilizar o biometano em toda a fábrica de Itu, a maior do Brasil, localizada no interior de São Paulo. Com essa implantação, a PepsiCo pretende reduzir as emissões em manufatura brasileira em 44%, em outubro de 2024, quando comparado aos dados de 2015. Começar pela maior operação é uma forma de demonstrar o compromisso de reduzir 75% das nossas emissões no escopo 1 e 2 até 2030", diz Alex Carreteiro, presidente da PepsiCo Brasil Alimentos, em entrevista exclusiva à EXAME.
A PepsiCo assinou um contrato de fornecimento com a Ultragaz e, em março, inicia as adaptações necessárias de infraestrutura não apenas para a fábrica, como também para o abastecimento de parte da frota própria de caminhões. Já em outubro, toda a fábrica deve operar com biometano, assim como 50 dos 69 caminhões na região, que hoje são movidos a gás natural.
Com a novidade, toda a operação de Itu deve ser NetZero, ou seja, com emissões neutralizadas, até 2025. "Este é o pontapé inicial para acelerarmos o uso do biometano em todas as fábricas da companhia, assim como em toda a frota, influenciando também os parceiros", diz Carreteiro.
O próximo passo da estratégia será implantar o biometano nas demais fábricas de São Paulo até 2025 e ter sete unidades operando com o combustível até 2027. Para os caminhões, a meta é ter 100% da frota própria de caminhões a gás abastecidos com biometano até 2030.
"Na fábrica da PepsiCo em Itu, onde são produzidos snacks como Lay's, Cheetos e Doritos, a estação de abastecimento de biometano é capaz de atender em 100% a demanda de gás para cozimento, fritadeiras, fornos e caldeiras de água da fábrica, totalizando aproximadamente 15 mil metros cúbicos por dia", diz Carreteiro. Além disto, será possível abastecer dois caminhões simultaneamente, em três turnos, com até 400 m³ de gás. Deste modo, as emissões de GEE serão reduzidas 1,9 mil toneladas por ano na frota.
Com o uso do biometano o cumprimento da meta se torna mais palpável, uma vez que, como explica Bruno Guerreiro, gerente de sustentabilidade da PepsiCo Brasil, as emissões são de 0,04 quilos a cada metro cúbico de gás, versus 2,4 quilos do gás natural. "O biometano tem uma emissão quase zero em relação ao gás natural. Com isto, é uma oportunidade para PepsiCo e para o Brasil", afirma.
O biometano é também competitivo ao ser gerado a partir de resíduos orgânicos, lixo, esgoto urbano, agricultura, pecuária, suinocultura e gado leiteiro.No caso da PepsiCo, o combustível será a partir dos aterros sanitários. O interesse ocorre também porque é possível utilizá-lo em equipamentos que hoje são operados com gás natural. "Isto nos permite resolver um problema da sociedade, ao pegar o gás do aterro e, ao mesmo tempo, fazermos uma rápida transição devido aos equipamentos que já temos", explica Carreteiro.
Contudo, há desafios. "Precisamos entender, a partir do início da execução, a capacidade instalada dos fornecedores, a ampliação de postos para abastecimento dos caminhões e outros detalhes de infraestrutura". De acordo com o CEO, está é uma forma de movimentar os fornecedores para a mudança. "Vamos fazendo e aprendendo, este é o custo de sermos pioneiros. Inicialmente, pode ser mais caro fazer a transição, mas na medida que o uso do biometano é ampliado e mais empresas percebem as vantagens, ele se torna mais competitivo. De todo modo, estamos certos que a transformação é boa para os negócios".
Sustentabilidade como parte da estratégia PepsiCo Positive
O anúncio do uso de biometano em fábricas e frotas é parte de uma estratégia voltada para a sustentabilidade chamada de PepsiCo Positive (pep+), anunciada em 2021, e dividida em três frentes:
- Agricultura positiva, com metas como espalhar a adoção de práticas agrícolas regenerativas em mais de 7 milhões de acres (ou 2 milhões e 832 mil hectares ou 2,83 milhões de hectares) de áreas produtivas no mundo, até 2030, o equivalente à toda pegada agrícola da empresa no mundo. E tornar todas as matérias-primas da PepsiCo 100% de origem sustentável até 2030.
- Cadeia de valor positiva, quando há a meta de atingir emissões de carbono Net-Zero até 2040; impacto hídrico positivo até 2030; e redução do uso de plástico virgem em 50% em seu portfólio global de alimentos e bebidas até 2030, usando 50% de conteúdo reciclado em suas embalagens de plástico; diversidade, equidade e inclusão, entre outras iniciativas.
- Escolhas positivas ao acelerar sua redução de açúcares e sódio adicionados por meio de metas embasadas cientificamente em todo o seu portfólio, bem como, fabricar seus produtos utilizando óleos mais saudáveis.
"A pep+ é a forma de colocar a sustentabilidade no coração da estratégia de negócios olhando para toda a operação, desde a agricultura regenerativa até as melhores escolhas na produção dos alimentos, buscando ser mais saudável do que as opções dos concorrentes, e considerando mais a diversidade, equidade e inclusão", afirma Carreiteiro. Assim, metas socioambientais influenciam no pagamento de bônus de todos os gestores da companhia que, atualmente, alcança resultados como liderança composta por 50% de mulheres e 27% de pessoas negras.
Carreteiro reforça que, apesar da estratégia ser global, as iniciativas do Brasil são extretamente importantes quando o país responde ao sétimo maior da companhia no mundo. "O Brasil, como nação, é uma referência no ESG e isto está cada vez mais visível. Nós, como mercado, participamos disto sendo parte da solução com os programas, metas e resultados mencionados. O que estamos fazendo com o biometano e outras práticas é aprendendo a ser mais sustentável e contribuindo ao influenciar outros atores, daqui ou do exterior".
Energia renovável na PepsiCo
Já o foco em energia renovável se dá a partir de diferentes frentes. "Utilizamos tecnologias complementares para avançar em na descarbonização. Assim, buscamos uma matriz energética cada vez mais limpa em toda sua operação fabril e logística", afirma o presidente.
Entre as ações, a PepsiCo mantém uma frotas próprias de veículos elétricos e GNV com mais de 160 caminhões, além de ter anunciado, em fevereiro, compra de um caminhão elétrico Semipesado da Scania. Outra tecnologia é a de painéis solares orgânicos em 250 caminhões de grande porte, que são responsáveis pela recarga das baterias de acessórios desses veículos. Os caminhões fazem rotas entre as fábricas e centros de distribuição da companhia.
Ainda frente solar, a companhia implanou duas usinas termossolares no Brasil: em Sete Lagoas (MG) e em Feira de Santana (Bahia). Somadas, as duas instalações economizam mais de 370.000 m3 de gás natural por ano e deixam de emitir 740 toneladas de CO2 ao ano. Em Sete Lagoas a tecnologia termossolar contribui para a redução do consumo de combustíveis fósseis em 5%, do total da fábrica.