O luxo e as contradições de Dubai, cidade que recebeu a COP que marca o início do fim do petróleo
Prédios altos e suntuosos, os maiores shoppings do mundo e muito luxo. Esse foi o cenário da COP28, a conferência climática que tratou do fim dos combustíveis fósseis
Repórter de ESG
Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 08h43.
Última atualização em 15 de dezembro de 2023 às 11h09.
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é conhecida pelo luxo e pela ambição que motiva a construção de, por exemplo, as maiores ilhas artificiais e o prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, com 160 andares. Neste cenário suntuoso, que faria Gordon Gekko, o aclamado personagem de Michael Douglas no filme Wall Street - Poder e Cobiça, repetir seu infame bordão "greed is good" (a ganância é boa), aconteceu a COP28, 28ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, entre 30 de novembro e 13 de dezembro.
A escolha do local, pelaConvenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (da sigla em ingês UNFCCC), chamou a atenção pela contradição: a reunião de 196 países para debater sobre o fim gradual do uso dos combustíveis fósseis, em um país dependente da economia petrolífera. E, como se não bastasse, o sultão Al Jaber, CEO da estatal Adnoc, que produziu mais de 4 milhões de barris de petróleo por dia em 2022, foi nomeado presidente da COP.
Mesmo com toda essa contradição, a COP28 produziu um resultado, para muitos, histórico. O documento final da conferência, assinado por todos os participantes, traz a menção ao fim gradual dos combustíveis fósseis. A COP mais petrolífera da história pode marcar o início do fim do petróleo.
No meio do deserto, não era possível ignorar as questões climáticas quando, às 14h, o sol do inverno parecia próximo demais de quem circulava pelos corredores abertos da conferência, na tentativa de chegar em um dos oito pavilhões montados na Expo Dubai. "Está 28º graus, mas parece mais. É por isto que no verão, aos 50ºC, eles criam chuvas artificias", disse um dos participantes do evento na fila de um painel com o ministro da fazenda Fernando Hadadd.
Do lado de fora da Expo, a cidade não parecia ser afetada pela presença dos participantes da COP28. Diferentemente do que se via na COP26, em Glasgow, uma cidade com 600.000 habitantes, quase não era possível encontrar nas ruas pessoas com o crachá do evento. Provavelmente, isto se deu pelas longas distâncias entre os hotéis e a Expo, refletida na também longa, mas rápida, fila para pegar táxis no começo da noite, ou no metrô que saia a cada dois minutos.
A Conferência, inclusive, não atrapalhou o fluxo da cidade. O Dubai Mall, segundo maior centro comercial do mundo, endereço de marcas como Chanel e Prada, estava excessivamente lotado na noite de sábado, 2, Dia da Independência dos Emirados Árabes Unidos. Não apenas turistas, mas também locais que aproveitavam o dia de descanso sem qualquer interferência aparente dos mais de 85.000 participantes da conferência climática.
Nem mesmo os brasileiros que visitaram Duabi com outros interesses parecem ter notado a COP naqueles dias. "Ah, o avião de volta está lotado por causa daquele evento de clima que está tendo, né? Esse povo quer dar terra para índio (sic) e esquece que a comida não é produzida na embalagem", reclamou um brasileiro no aeroporto às 9 da manhã.
Dubai também trouxe uma experiência -- ao menos para nós da EXAME -- bastante diferente de Sharm el-Sheik, balneário egípcio às margens do Mar Vermelho, sede da COP27 e alvo de inúmeras reclamações dos participantes em geral. Dubai é bastante preparada para a chegada dos turistas e dos grandes eventos, com facilidade para se comunicar em inglês nas ruas e nos hotéis. Outro ponto que chamou a atenção foi ver mais mulheres, quando comparado à Sharm, seja em posições de trabalho ou situações cotidianas.
Todas essas características de luxo e destaques da engenharia contemporânea fizeram com que a delegação brasileira repetisse diversas vezes que a "COP30, em Belém será diferente. Em meio às árvores e rios, sem grandes prédios como os de Dubai". Antes disso, haverá a COP29, prevista para acontecer ao final de 2024, em Baku, capital do Azerbaijão.