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#NãoVolte: "Precisamos impedir a próxima crise", diz coordenador da ONU no Brasil

A Agenda 2030 propõe caminhos para resolver os grandes problemas da humanidade. Mas, cinco anos após sua aprovação, pouco foi feito efetivamente

"Os problemas que deixamos de resolver, como falta de acesso a saneamento básico e saúde universal, nos trouxeram até aqui. Então eu pergunto: o que vamos fazer para impedir a próxima crise?" (jayk7/Getty Images)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 06h00.

#nãovolte a esquecer que um amanhã melhor é uma construção coletiva

Após duros meses da maior crise sanitária de nosso tempo , com muitas restrições em nossas vidas profissionais e pessoais, chegamos ao final de 2020 ansiosos para que a vida volte ao normal. É natural que seja assim. Mas devemos nos perguntar: que normal é esse? O que havia de errado em nossa vida dita normal que possibilitou a emergência de uma pandemia com as proporções da COVID-19 e que nos jogou na maior recessão global em oito décadas?

A COVID-19 já tomou mais de 1,5 milhão de vidas . Para termos a dimensão da tragédia, é como se 5 mil aviões comerciais tivessem caído, sem sobreviventes. Mas essas não foram as únicas vítimas dessa tragédia. A doença atingiu 70 milhões de pessoas, causou o colapso de diversos sistemas de saúde e devastou a vida de milhões de famílias. Além dos efeitos na saúde, a pandemia e as necessárias medidas de contenção da disseminação do vírus acarretaram efeitos socioeconômicos severos, que afetaram desproporcionalmente as pessoas mais vulneráveis.

A pandemia de COVID-19 deixou expostas as feridas da pobreza, da fome, da falta de acesso à saúde e à educação e das múltiplas desigualdades de nossas sociedades. Mulheres, afrodescendentes, indígenas, crianças e adolescentes sofreram os impactos da crise mais intensamente, na maior parte do planeta. Mas nada disso é novidade. Bem antes da pandemia, já conhecíamos esses problemas. Mais do que isso, já tínhamos um plano traçado para superá-los. Me refiro, claro, à Agenda 2030 e a seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Aprovada em 2015 pelos países membros das Nações Unidas, sob intensa liderança do Brasil, a Agenda 2030 propõe caminhos para resolver os grandes problemas da humanidade e promover o desenvolvimento sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental. É um plano viável para que todas as pessoas em todos os países melhorem suas vidas, sem deixar ninguém para trás.

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Cinco anos após sua aprovação, pouco avançamos em sua implementação efetiva. Na virada de 2019 para 2020, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um chamado para que esta fosse a Década de Ação, ou seja, para que de 2020 a 2030, todos os países, todos os setores, todas as pessoas intensificassem seus esforços para tirar esse plano do papel. A pandemia de COVID-19 e a gigantesca crise por ela ocasionada nos mostram a pertinência e a urgência desse chamado.

Os problemas que deixamos de resolver, como falta de acesso a saneamento básico e saúde universal, nos trouxeram até aqui. Então eu pergunto: o que vamos fazer para impedir a próxima crise? O futuro depende das escolhas que estamos fazendo agora, diariamente, e isso vale para governos, indivíduos, instituições, empresas. Que escolhas o setor empresarial brasileiro vai fazer a partir de agora? Já sabemos que voltar ao que tínhamos antes não é uma alternativa.

Esta crise nos mostra por que é tão importante não deixar ninguém para trás. Nenhuma pessoa e nenhum país podem se isolar. O vírus não respeita fronteiras, assim como muitos outros problemas da atualidade, como a crise climática. Este mundo interconectado é tão forte quanto seu elo mais frágil, e por isso os grandes desafios globais precisam ser enfrentados de forma coordenada e com os esforços de todos. Precisamos também de foco nas pessoas, principalmente nas famílias e comunidades de baixa renda, nas pequenas e médias empresas que geram milhões de empregos, nos trabalhadores informais.

Quem serão as lideranças que tomarão a frente nesse processo de reconstrução do nosso mundo e dos nossos meios de vida?

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A Rede Brasil do Pacto Global fez um chamado para que o setor empresarial assuma essa posição de liderança. A campanha #NãoVolte convoca empresárias e empresários a colocarem seus recursos e sua capacidade de inovação a serviço de uma retomada econômica sustentável pós-COVID, para que esta crise seja transformada em uma oportunidade para construirmos um mundo mais verde e inclusivo.

Para alcançarmos isso, a Agenda 2030 continua sendo nossa guia. Sem o setor privado, alcançar os 17 ODS seria totalmente impossível, e por isso, precisamos do compromisso de empresárias e empresários. Não me refiro aqui ao compromisso de fazer contribuições esporádicas aos ODS, mas sim ao engajamento permanente e concreto do core business das empresas com o cumprimento dos ODS. Um amanhã melhor é uma construção coletiva.

Além de dar escala e trazer inovação aos esforços de recuperação da crise e de promoção do desenvolvimento sustentável, as empresas têm um enorme potencial de advocacy. As vozes de empresárias e empresários são ouvidas, suas opiniões são levadas em consideração. Então, faço um apelo: usem sua voz. Pressionem os mercados, os fundos de investimento, os bancos, os governos. Usem sua voz para exigir as transformações estruturais necessárias e sejam, vocês, a força catalisadora para que todas e todos nós atuemos, com energia e compromisso renovados, na construção de um Brasil mais justo, inclusivo e sustentável. Este país de oportunidades e realizações sonhado por todas e todos é possível e está ao nosso alcance, desde que cada uma e cada um faça sua parte.

Niky Fabiancic é coordenador residente do Sistema Nações Unidas no Brasil e membro do conselho da Rede Brasil do Pacto Global.

#NãoVolte

A campanha #NãoVolte é uma iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global para que o mundo não volte ao normal após a pandemia. Para saber mais, acesse este link e assista ao vídeo:

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