Conheça mais sobre o Pacto Pela Equidade Racial
Empresas e sociedade civil se unem para investir em equidade, sustentabilidade e educação
Colunista
Publicado em 4 de maio de 2023 às 11h51.
Última atualização em 15 de maio de 2023 às 17h44.
A desigualdade social é o maior desafio da sociedade brasileira - um desafio que só se agravou com a pandemia. Quando nos aprofundamos na questão da desigualdade social, nos deparamos com um abismo racial. Segundo dados do IBGE, entre os 10% mais pobres da população brasileira, 78,5% são negros (pretos e pardos) e 20,8% são brancos. Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos e 24,8% são negros.
Após 400 anos de escravidão, a ausência de políticas afirmativas de inclusão da população negra na economia, o racismo estrutural e principalmente a baixa qualidade da educação pública são os fatores causais desses altos índices de desigualdade.
Costumo dizer que, antes de o mar invadir o Rio de Janeiro pelo derretimento da calota polar, poderemos ser tomados por um caos social incontrolável. Por isso, é necessário discutirmos essa situação que concerne a crescente desigualdade em nosso país.
Primeiro, vale destacar o inquestionável papel da sociedade civil na luta por uma educação pública de qualidade. Cinco dos seis melhores IDEBs do Brasil – Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Goiás e São Paulo – contaram com um apoio considerável das organizações do terceiro setor. Sem falar do excepcional trabalho do Todos pela Educação na indução de políticas nacionais.
Atualmente, a maior parte das ações da sociedade civil ligadas à melhora da qualidade da educação pública têm sido realizadas por organizações filantrópicas, financiadas por pessoas físicas ou verbas corporativas destinadas à filantropia. Mesmo quando tratamos das grandes organizações filantrópicas como a Fundação Bradesco, Itaú Social e Fundação Lemann, ou mesmo os Institutos Unibanco, Península, Ayrton Senna, Natura e Sonho Grande—trata-se, em grande parte, de recursos dos acionistas pessoas físicas, e não das empresas que eles controlam.
Há, porém, uma crescente preocupação das grandes empresas brasileiras em atender à pauta ESG (Environmental, Social & Governance) em resposta a um posicionamento mais ativo do mercado de investidores institucionais, dos consumidores e da sociedade civil em geral.
A pauta ESG empresarial pode e deve mobilizar um volume de recursos significativamente superior ao da filantropia de indivíduos, o que resultará em maior envolvimento da sociedade civil na busca de soluções para os grandes desafios da sociedade brasileira.
Uma pauta estrutural do ESG é a diversidade no ambiente de trabalho das empresas, tanto de gênero quanto racial. A questão da diversidade de gênero vem sendo trabalhada, com algum sucesso. Porém, estamos muito aquém do ideal na promoção da diversidade racial nos quadros de funcionários das empresas de capital nacional ou subsidiárias de multinacionais.
Apesar do expressivo crescimento de qualificação voltada ao mercado de trabalho mais democrática principalmente em função da política de cotas nas universidades públicas, as empresas ainda apresentam um percentual ridiculamente pequeno de negros e negras nas posições gerenciais e de direção. A realidade é que ainda precisamos fazer um esforço hercúleo para melhorar a formação dos jovens negros para prepará-los para alçar posições de liderança nas nossas empresas.
O que é o Pacto de Promoção da Equidade Racial?
Foi com esse objetivo que um grupo grande de indivíduos, empresas e organizações ligadas ao movimento negro e à educação construíram, ao longo de quase dois anos de muita pesquisa, discussões e debates, o Pacto de Promoção da Equidade Racial.
A premissa é que, no Brasil, não basta que empresas façam apenas ações afirmativas, mas que, como outros membros da sociedade civil, venham a fazer investimentos em prol da equidade racial, direcionando parte da sua verba ESG para organizações que atuem principalmente na melhoria da educação pública brasileira, que atende a grande maioria da população negra.
Esses “Investimentos em prol da Equidade Racial” contribuirão para a formação de mão de obra qualificada no médio e longo prazo, e serão monitorados por consultorias especializadas para a implantação de programas que objetivem promover maior integração do negro no mercado de trabalho.
O Pacto foi lançado em agosto de 2021, tendo sido endossado por organizações empresariais como o Pacto Global da ONU, Febraban, Ambima, B3 e Fecomércio, além de mais de 50 empresas de grande porte já terem aderido, como Gerdau, Suzano, Vale, VIVO, CSN, entre outras, representando mais de 500 mil funcionários.
E então, vamos juntos mudar esse país? Para aderir à campanha, é só clicar aqui.