Joe Biden (à direita) em palanque com os senadores eleitos Jon Ossoff (esq.) e Raphael Warnock, o primeiro negro a vencer no estado da Geórgia (Jonathan Ernst/Reuters)
Marcelo Sakate
Publicado em 4 de abril de 2021 às 13h41.
Uma nova lei eleitoral aprovada no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, com apoio do governador Brian Kemp, do Partido Republicano, está causando protestos e reações do mundo dos negócios e de defensores da democracia e dos direitos humanos.
Eles apontam que a lei, que endurece as exigências de documentos para a votação nas eleições do estado, tem caráter discriminatório e prejudica os direitos de minorias.
O projeto foi aprovado pelo Legislativo do estado e sancionado pelo governador na última quarta-feira, 31 de março.
Dezenas de grandes empresas americanas, algumas com sede na Geórgia, como Coca-Cola, Delta Airlines e UPS, vieram a público condenar a nova lei, que, segundo especialistas, pode desencadear uma onda de revisão de investimentos no estado.
Microsoft, Facebook, Porsche, Bank of America, JPMorgan, Merck, Cisco e muitas outras companhias condenaram a nova lei no estado.
"O direito igualitário ao voto é um dos fundamentos da democracia americana. Votar deve ser fácil e acessível para TODOS os eleitores elegíveis", disse por meio de comunicado Larry Fink, CEO da maior gestora do mundo, a BlackRock.
Alfredo Rivera, CEO da Coca-Cola para a América do Norte, disse: "Nós nos opomos a medidas que possam procurar diminuir ou restringir o acesso a voto. Defendemos o amplo acesso, a conveniência do eleitor, a integridade da eleição e a neutralidade política. Qualquer coisa que possa inibir estes princípios pode levar à supressão do voto."
A Major League Baseball (MLB), a liga americana de beisebol, anunciou na sexta-feira que não realizará mais o All-Star Game em Atlanta, capital da Geórgia, em protesto contra as novas leis. O evento festivo que reúne os melhores e mais populares atletas da liga, estava previsto para junho.
"A Major League Baseball fundamentalmente apoia o direito ao voto para todos os americanos e se opõe a restrições à cabine de votação", disse Robert Manfred, o comissário da MLB, cargo que equivale ao de presidente da liga.
Segundo a nova lei, eleitores terão que provar a identificação de alguma maneira com contas de água ou luz ou bancárias, em um estado onde se estima que 200 mil eleitores não possuem carteira de motorista ou identidade estadual.
A medida é considerada discriminatória por especialistas em direitos humanos e políticos, na medida em que cerca de 25% dos negros nos Estados Unidos não possuem documento com foto, muito acima do índice de 8% dos brancos.
Outro ponto criticado é a proibição para a distribuição de alimentos e água nas filas de votação, o que tende a desencorajar a presença de minorias nas eleições em locais mais pobres, onde as longas filas são mais frequentes.
A medida dos republicanos foi tomada justamente após o Estado ter sido relevante para a vitória de Joe Biden, do Partido Democrata, nas eleições presidenciais de novembro passado. Foi a primeira vitória de um democrata no estado desde 1992, com Bill Clinton.
A população do estado também elegeu pela primeira vez um senador negro (Raphael Warnock) e um senador judeu (Jon Ossoff).