Eu não sei se a favela venceu o jogo, o segundo tempo está só começando
Celso Athayde faz reflexão sobre o impacto da Expo Favela e anuncia o lançamento de uma escola de negócios da favela
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2022 às 17h06.
Última atualização em 28 de abril de 2022 às 17h36.
Celso Athayde*
Há muitos anos tento uma forma de mudar a matriz econômica da favela. Ou, pelo menos, contribuir de forma significativa para a mudança. E a melhor maneira de fazer isso não é reinventando a roda, é juntando as rodas para construir um veículo novo. As rodas já existem, são os empreendedores de favela. Eles precisam ser conectados. Uma vez conectados, eles conseguem viajar pelas grandes estradas do alicerce econômico que são os fundos de investimento.
O que estamos fazendo é dar acesso aos empresários de favela a essas estradas, proporcionando uma grande virada na economia da favela, o reconhecimento de seus moradores e empreendedores. Hoje, depois da Expo Favela, pela primeira vez, a sociedade brasileira não olha mais para os empresários dos territórios que atuamos como pessoas incapazes, como aquele profissional que "dá um jeitinho".
Descobriram a tecnologia que existe na favela. A inteligência e os profissionais que existem nesses territórios. A sociedade está se acostumando a enxergá-los com a devida seriedade, a partir da Expo Favela. Está se reeducando para entender a potência que essas pessoas trazem consigo, através de suas histórias, entendendo o grau de entrega, o profissionalismo, a responsabilidade e o foco dessas pessoas. Desses homens e mulheres pretos e brancos.
A sociedade está entendendo que a favela também tem classes sociais divididas. Que precisamos potencializar as três classes, potencializando os três extratos de negócios que existem nas favela s.
Neste momento, junto com a Fundação Dom Cabral, estou lançando uma escola de negócios da favela, com as mais modernas tecnologias e inteligências capazes de oferecer e permitir trilhas para esses empreendedores e empreendedoras, que não tiveram acesso a essas ferramentas, para além de um fluxo de caixa.
A linguagem do asfalto é outro grande diferencial. A favela precisa continuar falando o “favelês”, mas ela também necessita falar o “asfaltês”. Para que ela se torne poliglota e possa negociar na favela e negociar no asfalto tudo que lhe é de direito, tudo que o favela do é capaz de lograr com muito trabalho, energia, criatividade e inovação. Mostramos isso na Expo Favela.
Eu não sei se a favela venceu, porque o segundo tempo está começando agora. Mas uma coisa eu posso garantir: nosso time é forte. Temo vários artilheiros e artilheiras, um meio de campo forte e coeso e uma torcida apaixonada.
*Celso Athayde é fundador da Central Única de Favelas e CEO da Favela Holding