Egito: Como Sharm el-Sheikh, a cidade da COP27, se difere da capital Cairo
Enquanto Cairo é uma cidade lotada e barulhenta, Sharm el-Sheikh é um balneário à espera de turistas. Para além da infraestrutura, as discrepâncias são vistas, por exemplo, na presença de mulheres em posições de trabalho
Marina Filippe
Publicado em 19 de novembro de 2022 às 09h01.
De Sharm el-Sheikh e Cairo, no Egito.
Quem visitou Sharm el-Sheikh em função da COP27, a Conferência das Partes para mudanças climáticas, entre 6 e 18 de novembro, conheceu um Egito bem diferente do existente na capital Cairo. Sharm el-Sheikh, às margens do Mar Vermelho, tem praias particulares, demarcadas por cordas, para cada resort e costuma ser destino de férias -- até o ano passado, russos e ucrânianos eram 31% dos visitantes no balneário.
Para a COP27, a cidade estava cercada. Além das frequentes checagens de passaportes na entrada e na saída do aeroporto -- assim como a passagem das bagagens em detectores de metal -- quem tentou sair de carro para conhecer locais como o Monte Sinai, a cerca de 200 quilômetros, foi parado a cada 20 quilômetros por barreiras policiais.
Relatos de jornalistas, antes mesmo da COP27 começar, apontaram também que algumas pessoas que trabalham em Sharm el-Sheikh, mas moram em cidades vizinhas, foram proibidas de abrir os comércios e circular entre as cidades por "questões de segurança".
Já na capital Cairo, a vida dos moradores pareceu não ser afetada pela COP27. Em uma visita à cidade no domingo, 13 -- dia útil no Egito -- foi possível ver os comércios abertos e as crianças chegando nas escolas.
Outra questão é a diferença no trânsito, visto que no Cairo os motoristas disputam espaço em ruas com poucas faixas e buzinam frequentemente, enquanto em Sharm el-Sheikh são vistos ônibus gratuitos da COP27 e taxistas que insistem por passageiros em largas avenidas.
Cultura
As diferenças das cidades não param na infraestrutura. Um exemplo disto é que, em duas semanas em Sharm el-Sheikh, a equipe da EXAME não viu nenhuma mulher trabalhando em restaurantes, hotéis e táxis. O único local em que elas estavam eram nos aeroportos em locais de revista das passageiras. Já em poucas horas no Cairo, elas se fizeram presentes em espaços de trabalho, assim como circulando com crianças nas ruas.
“Aqui nós mulheres vamos às universidades e temos diferentes trabalhos. Em Sharm elas só são vistas quando, por exemplo, são comerciantes junto aos seus maridos”, disse a guia que acompanhou a EXAME por um dia no Cairo, e não será identificada por segurança.
Ela, que fez faculdade de letras e fala inglês e chinês -- além de árabe, obviamente -- trabalha como guia há 12 anos e recebe homens e mulheres de diferentes países todas as semanas. “Aqui, nós mulheres, vivemos uma vida mais próxima do que o ocidente considera normal”, afirma ela, que passou o dia no nos acompanhando e nos pegou no aeroporto junto ao motorista. "Ele ser um homem e meu colega de trabalho não é uma questão", afirmou.
Nos lugares em que a guia acompanhou, as abordagens dos homens eram frequentes para vender algo dentro do complexo das pirâmides ou no bazar de rua Khan el Khalili. "É uma questão cultural que acontece para todos que passam por aqui. Os vendedores tentam conversar e te convencer a comprar algo, sempre negociando o valor".O que não se viu, contudo, foi a negociação dos preços dos hotéis para os participantes da COP, uma vez que foi aprovada uma exigência de valor mínimo em cerca de quatro vezes acima do preço original. Agora, com o fim da COP27, é provável que Sharm el-Sheikh fique ainda mais distinta do Cairo, uma vez que as ruas devem ficar vazias por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia.