Laís de Jesus, funcionária da Dow. Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)
Marina Filippe
Publicado em 23 de junho de 2021 às 07h03.
A diversidade e inclusão nas empresas é uma jornada que precisa de consistência para mudar o cenário interno e incentivar as demais comunidades envolvidas. Sabendo disso, a fabricante química Dow começou a falar de equidade e respeito aos LGBTI+ há mais de vinte anos em sua sede nos Estados Unidos, e desde 2012 na operação do Brasil.
A intenção da empresa de promover um ambiente seguro para ser como realmente é, na vida pessoal e na profissional, torna a mão de obra mais livre para ter ideias bacanas capazes de colocar o negócio à frente da concorrência.
Afinal, empresas com funcionários abertamente LGBTI+ podem lucrar até 15% mais que concorrentes, segundo pesquisa da consultoria McKinsey com negócios da América Latina.
Para gerar resultado de forma efetiva é preciso o envolvimento de toda a companhia e, em especial, da liderança. Na Dow o tema está estruturado com Tiago Betti, homem gay funcionário da Dow há 12 anos, que hoje atua como líder de inclusão e diversidade para América Latina e responde para Karen S. Carter, nomeada líder de diversidade e inclusão global em 2017. Com essa gestão é possível engajar os funcionários e garantir que 75% deles participam de algum grupo de afinidade para temas de diversidade.
"A ideia é que a diversidade deixe de ser vista como programa ou iniciativa numa área específica e se torne parte da cultura corporativa, do que nós somos”, disse a executiva em entrevista à EXAME em 2018.
No dia a dia dessas lideranças é comum realizar treinamentos de quebra de vieses inconscientes, letramento sobre o uso dos termos corretos relacionados à diversidade, mapear o censo interno e gerar oportunidade de contratação, desenvolvimento e retenção de talentos. Em meio a isso, um dos momentos mais marcantes do trabalho de Betti ocorreu ao ver a mudança da ficha cadastral de um funcionário para mulher, trans e lésbica.
"Minha reação foi ligar para ela, entender se tinha havido engano e, se não, quais auxílios podíamos oferecer", diz Betti. A funcionária é Laís de Jesus, coordenadora de sistemas de manutenção, há oito anos na Dow.
A política de diversidade da empresa a deixou confortável para seguir adiante no processo de transição de gênero. “Os funcionários da área em que trabalho foram treinados sobre o tema nas minhas férias. Quando voltei, todos já me trataram como Laís”, diz.
A funcionária em questão é Laís de Jesus, coordenadora de sistemas de manutenção, que trabalha na Dow há oito anos. O treinamento de diversidade recebido pelos líderes em março de 2018 foi o ponta pé para que Laís se sentisse confortável para compartilhar sua transição de gênero, e informar que durante as férias faria uma cirurgia de feminilização facial.
“Durante um mês houve treinamentos de conscientização com todos os funcionários e terceiros da unidade de Jacareí, onde trabalho. Quando voltei, todos já me trataram como Laís”, afirma. Segundo ela, o fato de que muitos já conheciam seu trabalho também ajudou nesse processo.
Laís lembra ainda importância do trabalho para os LGBTI+. No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos e 90% delas se prostitui para garantir alguma renda, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A exclusão começa em casa, na escola e afeta a vida adulta, sendo papel das empresas o auxílio na mudança a partir de treinamentos e contratações.
Na empresa química Dow a diversidade também se dá em muitas outras frentes. Um exemplo se dá na busca cada vez mais ativa de profissionais negros, que culminou em pretos e pardos como 77% dos contratados no último processo de estágio.