Desmatamento no Cerrado aumenta e equivale ao tamanho do Catar
Taxa de desmatamento é a maior em seis anos. Maranhão, Tocantins e Bahia concentram a maior parcela da devastação
Fernanda Bastos
Publicado em 17 de dezembro de 2022 às 08h01.
Última atualização em 19 de dezembro de 2022 às 06h13.
Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento no Cerrado aumentou 25,3% no último ano do mandato de Jair Bolsonaro. São 10.688,73 km2 de vegetação nativa, quase o equivalente ao território do Catar, a maior taxa de devastação do Cerrado em seis anos.
No Cerrado, especificamente, há uma taxa de desmatamento médio anual de 8.361 km2. O número empata com a média dos quatro anos anteriores nos governos Dilma e Temer (8.250 km2 por ano de 2015 a 2018). O governo atual foi o único que registrou três aumentos seguidos na taxa de desmatamento em um mesmo mandato desde 2001, o início das medições das taxas.
“Assim como na Amazônia, o desmatamento no Cerrado não parou de crescer, mais uma cortesia do desmonte ambiental do governo que se encerra. No Cerrado, a situação é preocupante porque o bioma já foi proporcionalmente mais devastado que a Amazônia. A maior parte do desmate ocorre em áreas privadas, e mesmo assim tem indícios de ilegalidade, segundo dados do MapBiomas. Estamos demolindo a caixa d’água do país, e nem as empresas de commodities, nem os mercados consumidores parecem incomodados com isso”, afirma o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.
Estados com maior índice de desmatamento
O Estado do Maranhão concentrou a maior parte da devastação, com 2.833,92 km2, seguido por Tocantins (2.127,52 km2), Bahia (1.427,86 km2) e Piauí (1.188,78 km2). Juntos, os Estados representam 71% do desmatamento no bioma. Dos 13 Estados do bioma, houve queda do desmate em Rondônia e Mato Grosso.
Nova legislação europeia
Porém, o prognóstico não é muito positivo. No último dia 6, uma nova legislação foi aprovada pela União Europeia contra o desmatamento importado. Com ela, 74% do Cerrado brasileiro, maior produtor de commodities para o mercado europeu, permanece sob risco de desmate. Enquanto, a Amazônia ganha regras mais rígidas. A regulação proíbe a entrada no mercado europeu de commodities após 31 de dezembro de 2022.
“Mais uma vez, o Cerrado é colocado como bioma de sacrifício”, diz Guilherme Eidt, assessor de políticas públicas do ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), sobre a vegetação nativa em outras áreas que ficaram fora da nova lei.